Quem trabalha e conhece o caminhão MAN TGX, pouco ou nada tem a reclamar, pois trata-se de um extrapesado premium à altura de modelos das marcas Volvo, Scania, Mercedes-Benz, Iveco ou DAF. Mesmo assim, o volume de vendas do cavalo mecânico produzido pela Volkswagen Caminhões e Ônibus está longe de ser preocupação dos concorrentes e mais distantes ainda das expectativas da fabricante.

Em entrevista ao portal o Carreteiro, o vice-presidente de vendas, marketing e serviços da Volkswagen Caminhões e ônibus, Ricardo Alouche, explicou os principais motivos que impedem a existência de um número maior de cavalos mecânicos MAN nas rodovias brasileiras e pa´tios de grandes transportadoras.

O Carreteiro – A imagem do caminhão extrapesado é feita também por grandes empresas e embarcadores que compram esse tipo de veículo, mas o que se nota, aparentemente, é que o MAN ainda não conquistou esses clientes. O que acontece com esse veículo que apesar de estar há 10 anos no mercado brasileiro ainda patina para ganhar participação de mercado à altura de suas qualidades?

Ricardo Alouche – Não entregamos mais caminhões MAN porque seu custo é muito elevado e quando uma grande empresa vem comprar ela não quer pagar o que o caminhão custa no varejo, quer um desconto que não conseguimos dar.

O Carreteiro – O que acontece com o preço do MAN que deixa ele menos competitivo em relação aos concorrentes?

Alouche – O MAN ainda tem um grande conteúdo importado e com o dólar elevado fica mais difícil ainda. Eu não consigo oferecer o preço que o grande cliente estaria disposto ou que desejaria pagar. Por isso as vendas acontecem mais basicamente no varejo para pequenas e médias empresas pulverizadas em todo o Brasil.

O Carreteiro – Então você tem caminhões MAN espalhados em várias regiões do País, mas ainda não em volume são suficientes para fazer uma massa crítica?

Alouche – Sim, mas estamos fazendo um trabalho muito forte para localização de componentes pesados para que o MAN também tenha preços competitivos, e muito em breve seu volume vai começar a aumentar gradativamente.

O Carreteiro – Que componentes importados são esses que encarecem demais o preço final?

alouche
Não consigo oferecer o desconto que o grande cliente estaria disposto porque o MAN ainda tem um grande conteúdo importado, como o motor por exemplo. Aí eu vendo praticamente no varejo, para pequenas e médias empresas pulverizadas no Brasil inteiro.

Alouche – Hoje, o motor D26 do MAN tem o bloco produzido aqui no Brasil pela Fundição Tupi. Aí vai para a Alemanha onde o motor é montado e mandado de volta para cá. Só nesse exemplo já temos um custo maior em relação ao nosso primo aqui no Brasil, o Scania, que tem tudo produzido aqui. Eu perco muita vantagem competitiva nesse processo.

O Carreteiro – E qual é a solução para o motor?

Alouche – É nisso que estamos trabalhando, no sentido de termos mais conteúdo de peso já nacionalizado para depender menos de situações, como por exemplo, do preço do dólar. Eixo e caixa de câmbio já são produzidos aqui no Brasil. Hoje temos 65% de índice de nacionalização, mas queremos ir além, não somente para usar peças nacionais como também ter flexibilidade para usar peças importadas. Os concorrentes, por exemplo, trazem componentes para o Brasil quando o mercado está bom e na hora que não está mandam daqui para lá.

O Carreteiro – É provável que você também já tenha lido ou ouvido falar que o caminhão MAN passará a fazer parte da família linha Constellation, como um “Constellation TGX”, com maiores potências e assim inserir de vez a marca Volkswagen no segmento de extrapesados.  Existe alguma verdade nessa conversa?

Alouche – Quanto ao MAN virar Constellation tem estudo de todos os tipos, desde estender a linha Constellation, mas isso não tem nada de definitivo. Vi o que foi publicado e não faz qualquer sentido. Toda nossa linha de produtos passa por processo de modernização permanente, por isso é natural que haja mudanças de aparência. Faz parte do desenvolvimento contínuo.

 O Carreteiro – O fora de estrada híbrido com cabine do Constellation e trem de força do MAN, apresentado na Fenatran de 2017, já não seria uma experiência nesse sentido?

AloucheEsse é o 33.440 um caminhão com motor de 12,8 litros do MAN embaixo de uma cabine Constellation, desenvolvido para atender a nichos de mercado como cana de açúcar, madeira, que exigem potência, mas não precisam de uma cabine como a do MAN. Por isso instalamos um motor maior e mais potente no Constellation.

 O CarreteiroEsse caminhão ainda se encontra em testes ou já está à venda?

Alouche – O 33.440 foi apresentado como conceito na Fenatran de 2017; na feira passada, em 2019, anunciamos que ele já estava em testes em grandes usinas do País. Estamos fazendo o desenvolvimento em conjunto e vendo os possíveis problemas reais, mas vamos começar a vendê-lo no final de 2020.