Empresas reduzem negócios para evitar quebra de contratos de exportação

Os atrasos nos embarques de soja, provocados por problemas nas estradas e nos portos, já afetam a comercialização do grão e reduzem o preço pago aos produtores. Nas duas últimas semanas, em pleno auge da colheita, as \”tradings\” – empresas que compram a matéria-prima dos produtores e a vendem para os importadores – reduziram o ritmo das compras.

\”As empresas dizem que pararam de vender porque não têm condições de levar a soja ao mercado externo\”, afirma Daniel Latorraca, gestor da área técnica do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). \”Elas querem evitar o descumprimento de contratos, como o ocorrido nesta semana com a China\”, diz. A Sunrise, grande \”trading\” chinesa de soja, cancelou anteontem a compra de 2 milhões de toneladas do grão do Brasil.

Segundo dados do Imea, ao final de fevereiro 73% da atual safra de soja de Mato Grosso, principal Estado produtor, havia sido comercializada, embora a colheita tenha atingido 43% da área. Na quinta-feira passada, a área colhida avançou para 85%, mas as vendas não acompanharam: o percentual de comercialização aumentou apenas três pontos percentuais, para 76%.
A indústria compradora de soja para o processamento ou para a exportação confirma a redução dos negócios. Segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), os problemas com o transporte da safra elevaram substancialmente o custo interno de movimentação dos grãos.

\”O frete entre Sorriso/MT e Santos/SP já chegou a R$ 300 por tonelada. Além disso, tem exportador pagando US$ 20 mil por dia de atraso para navios que aguardam nos portos\”, afirma Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da Abiove.

Com a queda do preço internacional da soja – 4% em uma semana – e dos prêmios para estímulo à exportação, os ganhos foram reduzidos. Na avaliação da associação, a única solução para a retomada da comercialização será a redução do preço interno da soja, reduzindo o lucro dos produtores rurais.

Para evitar esse impacto sobre os agricultores, o preço internacional da soja teria de subir, ou o custo da logística interna, cair. \”Não acho que vá ocorrer nem uma coisa nem outra\”, diz Amaral.

Da Folha de S. Paulo