Gastos logísticos subiram e cotações estão caindo abaixo do preço mínimo
Uma safra de milho mais volumosa que a do inverno passado começa a travar o mercado em Mato Grosso, responsável por 38% da produção nacional do cereal neste ciclo, conferiu a Expedição Milho Brasil, em viagem pelas principais regiões de cultivo. Apesar do atraso no plantio, as lavouras surpreendem com perspectiva de produtividade igual ou até maior que a de 2012 em área ampliada em mais de 20% no estado.
Enquanto o clima de otimismo se espalha no campo, os preços do produto despencam, a comercialização estaciona e a preocupação com armazenagem aumenta. A cotação caiu mais de 10% em um mês e abriu a semana na casa de R$ 15 por saca de 60 quilos em Sorriso, na região que produz metade da safra de inverno de Mato Grosso. O preço está R$ 2 abaixo do mínimo oficial e já não cobre os custos de produção.
Em Primavera do Leste (Sudeste mato-grossense), o aperto é ainda maior. “Precisaríamos de pelo menos R$ 15 por saca, mas hoje não conseguimos mais de R$ 12. Essa diferença é pressionada pela logística que temos”, diz o produtor Fernando Cadore, que atua na região. Ele comprometeu 60% da colheita, que começa neste mês.
“Tivemos poucas oportunidades de venda. Ano passado [com mais interesse do mercado externo], vendi 20% da safra antecipadamente. Neste ano, não comprometi nada ainda”, conta Edilson Piaia, de Campo Novo do Parecis (Oeste). O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que só 22% da produção estadual foram comercializados. O índice está 24,5 pontos porcentuais abaixo do registrado nesta época de 2012.
“A intervenção do governo é fundamental. Se não ocorrer, o produtor vai ter uma rentabilidade ainda mais baixa”, afirma a analista do Imea Bruna Lopes, que acompanhou a Expedição na viagem pelo estado. A sondagem segue por Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.
Os produtores ampliaram o investimento em tecnologia (adubação, sementes de ponta), conforme os técnicos consultados pela Expedição. Os custos estão aumentando também com os reajustes no preço do frete. “Ano passado, vendemos [mais de] 6 milhões de toneladas com um custo logístico de R$ 200 por tonelada. Hoje, a comercialização está travada e o custo subiu para pelo menos R$ 280 por tonelada”, disse Jaime Binsfeld, diretor da Fiagril, trading que atua em Mato Grosso e Tocantins e faz investimentos de R$ 90 milhões em infraestrutura.
Custo cresce pela demora no escoamento – Mato Grosso consome 3 milhões de toneladas de milho. Ou seja, terá um excedente exportável próximo de 13 milhões de toneladas do cereal de inverno. Enquanto as vendas não engrenarem, toda essa produção disputará espaço em armazéns lotados. O quadro amplia o uso de silos bolsas, embalagens descartáveis gigantes cada vez mais presentes no meio das lavouras.
“Estamos com o dobro do volume de soja que tínhamos nos armazéns nesta época do ano passado. Só conseguimos carregar e mandar a Paranaguá quando recebemos senha, 15 dias antes da nomeação do navio”, relata Jaime Binsfeld, diretor da Fiagril. “Os produtores podem ter de segurar a colheita de milho até que haja espaço para armazenagem”, afirma.
“A operação de estocagem em silo bolsa, incluindo a compra, secagem e trabalho de armazenamento, custa em torno de R$ 1 por saca”, afirma Edilson Piaia, produtor de Campo Novo do Parecis. O investimento para guardar a produção em armazéns terceirizados é ainda maior. Pode chegar a R$ 2,10 por saca. Um armazém com capacidade para estocar 50 mil sacas exige cerca de R$ 800 mil, incluindo equipamentos principais (silo, secador, elevadores, máquina de limpeza), acessórios e obra civil (projeto elétrico, moegas, bases), conforme Manoel Luca, supervisor da Perfipar Sistemas de Armazenagem, que integra a Expedição Milho Brasil.
Da Gazeta do Povo