Os desafios dos caminhoneiros em 2022 continuam bem parecidos com os que enfrentaram durante o ano passado. Apesar das expectativas para um ano de melhores oportunidades, o cenário parece sinalizar para uma outra realidade.

Diesel mais caro

falta diesel
Distribuidoras de combustível ascenderam um alerta para uma possível falta de diesel por conta de cortes de oferta feitos pela Petrobras

Janeiro já começou com mais uma alta do diesel. O fato desanimou muitos autônomos em relação as boas expectativas para 2022. Com o ultimo aumento na ordem de 8,8% o valor médio do diesel vendido para as distribuidoras passou de R$ 3,34 para R$ 3,61 por litro.

O aumento constante do diesel está provocando impacto direto na rotina dos caminhoneiros. A falta de previsibilidade em relação ao preço de um dos maiores custos do transporte e a defasagem do frete compromete a renda dos autônomos que dizem estar desanimados com a profissão.

Para Marlon Maues, assessor executivo da CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) o  impacto no transporte rodoviário de carga é direto uma vez que o diesel é o insumo básico da operação, acarretando um aumento direto no valor do frete e por consequência, no custo Brasil.

“O caminhoneiro autônomo também sofre o impacto diretamente pois muitas vezes não realiza os cálculos corretos do custo do seu frete e acaba comprometendo seus ganhos por não repassar os aumentos aos seus clientes”, explicou.

Cenário desfavorável

estradas

Para manter a logística eficiente no País, o motorista de caminhão lida com diversos fatores de insegurança.  E esses fatores também fazem parte dos desafios da profissão. O primeiro deles é a falta de locais seguros para parar e descansar após uma longa jornada de trabalho. São poucas as rodovias que oferecem espaços adequados para os motoristas pernoitarem. A maioria dos postos de serviços disponibilizam poucas vagas e muitas vezes cobram para permitir que o caminhão fique estacionado.

Outro fator significativo é a condição precária de boa parte das rodovias do País. Na 22ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias. Nesta edição, foram avaliados 107.161 km, o que corresponde a toda a malha federal pavimentada e aos principais trechos estaduais, também pavimentados. Desse total 57% dos trechos avaliados apresentaram estado geral com classificação regular, ruim ou péssima. Esta situação está associada a problemas no pavimento, na geometria da via ou na sinalização.

Pesquisa recente realizada pela CNT que traça o Perfil do Caminhoneiro, entre os dias 28 de agosto e 21 de setembro de 2018 – mais de mil motoristas do todo o Brasil, sendo 714 são autônomos e 352 empregados de frota mostrou alguns pontos que não favorecem a profissão. Na liderança está a insegurança com 65,1%. Muitos profissionais reclamam da falta de ações para evitar o roubo de carga e de caminhão e de locais seguros para parar e descansar. Além da insegurança, outros pontos negativos são o desgaste (31,4%), convívio familiar comprometido (28,9%), pouco rentável (20%), solitária (18%) e rotina árdua de trabalho (13,1%).

Falta de incentivo

frota

Apesar do caminhão ser um item importante para a logística do País, a frota nas mão dos autônomos é antiga.

Dados divulgados recentemente pela ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre – com base no RNTRC – Registro Nacional de Transporte Rodoviário de Carga, mostram que atualmente o Brasil tem uma frota estimada em 1.746.124 veículos de cargas. Desse total, 648.751 unidades, cuja idade média é de 16 anos, estão nas mãos de autônomos. Ainda de acordo com a pesquisa, quando se trata da idade média da frota das empresas a idade média cai para 9,5 anos.

Mudanças na legislação, como o fim da carta frete, ajudaram a tirar esses profissionais da informalidade, porém, entraves como os juros praticados pelo mercado, instabilidade da atividade e preços dos veículos ainda desencorajam os pequenos transportadores a se arriscarem a enfrentar um compromisso financeiro que não tem certeza se conseguirá pagar. E assim, entra ano e sai ano, a frota em poder dos transportadores autônomos vai ficando mais velha e carente de renovação.

O fato prejudica a eficiência do trabalho por parte do motorista além de aumentar os custos com manutenção e até mesmo de combustível.

Saudade de casa

Acidente Aviso

A rotina da profissão já fez muitos motoristas perderem momentos importantes da vida dos filhos, esposa e familiares. É comum em conversa na estrada escutar que o motorista não pode estar presente em datas importantes como formatura, aniversario, dia dos Pais, Natal e Ano Novo.

Esse é um dos motivos que faz a tarefa de trabalhar como motorista de caminhão estar longe de ser uma tarefa fácil. São dias longe da família, amigos e do conforto de casa enfrentando a falta de infraestrutura, de segurança, de pontos de paradas e altos custos para se manter na profissão. Carreteiros veteranos contam que no passado, enfrentar a saudade era ainda mais difícil, porque a comunicação dependia de telefones públicos, que não eram encontrados em todos os locais de parada.

Hoje é bem diferente. A tecnologia encurtou a distância através dos telefones móveis e aplicativos, porém, a rotina quase que solitária reforça a ideia de que para ingressar e viver da profissão não basta apenas gostar de caminhão, saber dirigir ou herdar a aptidão. É necessário ter paixão pelo que faz e consciência das dificuldades para não desistir da atividade na primeira viagem.

Frete defasado

anotacao frete

O preço defasado do frete e o aumento de outros custos como o preço do diesel, dos pedágios, manutenção, pneus entre outros desfavorece principalmente o autônomo que é o dono do seu próprio negócio.

Quem vive do caminhão, principalmente o motorista autônomo, deve sempre avaliar o valor do frete e todos os custos da operação para decidir se vale a pena fazer o transporte. Isso porque, o jeito de conduzir o negócio é o principal pilar em qualquer tipo de atividade para que ela possa garantir algum resultado financeiro positivo.

Se antes era necessário anotar as despesas, controlar os gastos e avaliar melhor o frete, agora, nesse cenário de crise econômica, é imprescindível para conseguir sobreviver na profissão.

Autônomo ou Empregado

Esse dilema também continuará em 2022. Afinal, com todos os custos aumentados e o frete não acompanhando muitos autônomos pensam em vender o caminhão e buscar uma oportunidade como registrado. Entretanto, a taxa de desemprego no Brasil ainda é muito alta. Mesmo com uma pequena queda no início do ano, a taxa é de 11,6%.

Antigamente, ser autônomo era o sonho da maioria dos motoristas que estavam começando na profissão. A sensação de liberdade, de poder decidir a rota, locais de parada e horários eram os principais atrativos para se ter o próprio caminhão. Além disso, o autônomo pode prestar serviços para uma ou mais empresas e aumentar o seu faturamento.

Porém, as diversas mudanças ocorridas no setor de transporte através dos anos, levou muitos autônomos a pensarem e até trocarem a suposta liberdade por um emprego com carteira assinada. Quem trabalha registrado conta com salário fixo todo mês, direitos como 13º salário, férias anuais e plano de saúde, entre outros benefícios. Porém, a jornada de trabalho é determinada pela empresa, o que muitas vezes pode significar cargas horárias puxadas.