Durante muitos anos, a profissão de motorista de caminhão era, na sua maioria, praticamente  hereditária. O pai incentivava o filho a seguir os seus passos e transformava o caminhão em um símbolo de liberdade. Eram outros tempos. Veteranos contam que a profissão era mais valorizada, ao ponto de o carreteiro sentir-se orgulhoso de ver o filho escolher a profissão como principal meio de ganhar a vida.

Casos de motoristas inspirados pelo pai e que hoje se encontram na profissão são muitos e geralmente são profissionais que gostam muito do que fazem. Ricardo Roski, 39 anos de idade, de Jundiai/SP, é um deles. Ele conta que a paixão por caminhão e pela profissão começou cedo. O pai, Edwardo Roski, 62 anos de idade e 41 anos de profissão, foi quem o inspirou. Lembra dele puxando batata e cebola em um truck amarelo na rota de São Paulo para o Sul do País. Com o passar dos anos essa vontade de seguir os mesmos passos aumentou.

ricardo pai

“Certo dia meu pai falou para mim e meu irmão que se a gente quisesse seguir na profissão teríamos que passar de ano na escola e ter o diploma. Encaramos isso como um desafio para conseguir realizar o nosso maior sonho” Roski acrescentou que aos poucos ele foi nos ensinando tudo sobre caminhão a começar pela manutenção, como  entrar embaixo da carreta, posicionar o macaco e “bombar” até certa altura para trocar câmara de ar, protetor de câmara, montar os pneus e centralizar as rodas. “Aprendemos também a  fazer o tradicional “nó carioca”, regular os freios, tirar o ar do sistema de combustível, trocar óleo e filtros, entre outras providências. ” E nas viagens longas  fomos aprendendo a enfrentar as situações difíceis da estrada, como subir e descer a serra com chuva, e manobras em lugares apertados”.

 

rocardo pai2Ricardo lembra que quando ele e o irmão finalmente se formaram na escola, o pai os ensinou a dirigir e ter noção de volante. “Hoje somos profissionais, mecânico, borracheiro, eletricista e o que mais precisar para essas naves rodarem com tranquilidade, conforto e segurança. Tudo graças ao nosso pai”, acrescentou.

Apesar de os tempos serem outros, Ricardo afirma que não se opõe caso os seus filhos decidam seguir na profissão de motorista de caminhão. Disse que atualmente estão finalizando o segundo grau e, apesar de se interessarem muito por caminhão, falam em fazer faculdade de eletrônica e mecatrônica. “Hoje um deles trabalha em um lava-jato e o outro no setor de logística. Mas eles são loucos pelo caminhão. E assim como meu pai fez comigo eu os ensino a trocar e regular a lona de freio, tirar ar de caminhão”.

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Francisco Garcia de Oliveira, conhecido como Cigano, de Cubatão/SP, 54 de idade e 36 de profissão, é filho de motorista e também seguiu a profissão por admiração ao trabalho do pai Francisco César de Oliveira, conhecido como Chico Andança. “Sou apaixonado por caminhão. Gosto de tudo o que envolve a profissão. E isso não tem explicação, vem de pai para filho. Já tentei largar várias vezes mas o sangue fala mais alto e sempre volto. O motorista que herdou a profissão geralmente continua, não por obrigação e sim por paixão e transforma qualquer dificuldade em aventura e vitória. Isso também eu enxergava no meu pai, um homem trabalhador. Lembro de quando ele viajava para a Bahia e permanecia fora por mais de três meses, a gente ficava esperando com aquela saudade. Hoje, eu vejo que transformei esse sofrimento em uma paixão. Ele percebeu que me deixou uma herança”, lembrou.

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Cigano conta que todo mundo gostava do seu pai e que não havia  problema ou desafio algum que ele não enfrentasse. “Ele era meu tudo, meu chão. Agradeço a Deus por ele ter me ensinado o que eu sei de estrada, de ter aberto os caminhos para mim. Atualmente estou afastado para poder cuidar da minha mãe e irmã, mas tenho fé que em breve estarei de volta fazendo o que ele e eu eramos apaixonados: dirigir caminhão por esse País”.

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Fabio José de Almeida, de Rondonópolis/MT, tem 39 anos de idade e mais de 10 anos de estrada, disse que desde criança também tinha o sonho de ser motorista de caminhão. Diferente dos colegas, foi incentivado pelo tio José de Paula, conhecido como ‘Miudinho’, que também era caminhoneiro e hoje está aposentado. “Na infância viajava bastante com ele. Nunca conheci meu pai, mas tive a sorte de ter meu tio como exemplo e por ter sido apresentado à profissão de uma maneira tão positiva, bonita e bem profissional. Me inspirei nele. A medida que fui crescendo ele me deixava pegar um pouco na direção e aí toda essa vontade de seguir na profissão foi crescendo até se tornar realidade”, conta.

Apesar das dificuldades inerentes à profissão, Fábio gosta de estar na estrada e acredita que a falta de valorização dos motoristas é um dos problemas mais sérios e por isso admira aqueles que entendem todo o universo desses profissionais e oferecem estrutura e tratamentos adequados. “Antigamente, era raro uma fazenda que não oferecer alimentação para nós. Hoje isso é bem diferente. Se você não tem uma caixa cozinha passa dificuldade. Ainda bem que existem colegas que estão sempre prontos a nos ajudar. Os motoristas são profissionais guerreiros”.

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Fabio conta que tem dois filhos, um de 18 anos (Erick) e outro com 16 (Pablo) e que ambos foram criados com o caminhão. “Eles me apoiam em tudo, mas não sei se vão seguir na profissão. Mas se seguirem vou fazer de tudo para que sejam bons profissionais, assim como meu tio fez comigo quando decidi ser caminhoneiro”.

Para os que já estão na estrada, Fábio deseja um Feliz dia dos Pais e que todos tenham mais paciência, principalmente com os colegas com menos experiência e com que dirigem caminhões menores  ou menos potentes. “Tenho muita esperança de que as coisas vão melhorar”.