Das inovações tecnológicas incorporadas aos caminhões mais modernos, o câmbio automatizado parece ser, de longe, o mais apreciado pelos estradeiros.  Embora muitos ainda desconheçam os detalhes técnicos que o diferenciam do automático, o certo é que todos gostam da novidade e garantem que aprenderam com relativa facilidade, com o auxílio de colegas de estrada ou de cursos rápidos nas concessionárias, onde outras novidades que também visam o conforto e segurança são mostradas. A expectativa é que, cada vez mais, daqui para a frente, os caminhões saiam da linha de produção equipados com caixa de transmissão automatizadas. Assim também pensam os carreteiros.

O autônomo Leandro Lopes admite nunca ter dirigido um caminhão com caixa de câmbio automatizada, mas afirma que só ouve elogios nas estradas
O autônomo Leandro Lopes admite nunca ter dirigido um caminhão com caixa de câmbio automatizada, mas afirma que só ouve elogios nas estradas

O autônomo Leandro Lopes, conhecido no trecho como Maninho, natural de Pelotas/RS, 32 anos de idade e 12 de profissão, é dono de uma carreta caçamba (para o transporte de areia) tracionada por um cavalo-mecânico fabricado em 2001. A caixa de câmbio é manual e ele confessa que nem ao menos teve a experiência de dirigir um caminhão caixa automática.

Mesmo assim, ele garante que é o desejo de todo carreteiro, pois só ouve elogios e acredita que no futuro todos os caminhões serão equipados com esse tipo de caixa. Agora, falando no assunto, ficou interessado e vai aprender a utilizar o automatizado com os colegas de estrada, que considera a maneira mais fácil. “Basta ter vontade e a gente aprende logo. Afinal se não aprender a gente vai acabar perdendo oportunidades na vida”, afirmou.

É tudo de bom, afirma Ricardo Ávila que já trabalhou com caminhões automatizados e atualmente dirige um modelo com transmissão mecânica
É tudo de bom, afirma Ricardo Ávila que já trabalhou com caminhões automatizados e atualmente dirige um modelo com transmissão mecânica

O carreteiro Ricardo da Silva Ávila, natural de Uruguaiana/RS, 32 anos de idade e 10 de volante, também trabalha com um caminhão com caixa mecânica. Ele viaja na rota internacional com uma carreta puxada por um cavalo-mecânico fabricado em 2000, mas afirma que já trabalhou com outros com câmbio automatizado. “É tudo de bom”, disse acrescentando que além de ser mais confortável também ajuda a economizar combustível, porque “faz as marchas” de maneira correta e no tempo adequado.

Ávila afirmou ainda que aprendeu a utilizar a caixa automatizada com um colega, embora já tivesse alguma experiência anterior com um automóvel Monza automático que teve tempos atrás. Em sua opinião, daqui para a frente todos os caminhões vão ter esse tipo de câmbio. “Isso será muito bom para os motoristas e os patrões, porque todos vão ganhar. O motorista pelo conforto e facilidade de dirigir, o patrão, por sua vez, economiza com combustível e viagens mais rápidas e seguras”, concluiu.

O carreteiro Iraci Rodrigues afirma que é uma ferramenta maravilhosa e quem experimenta não quer mais voltar para a caixa  de marchas tradicional
O carreteiro Iraci Rodrigues afirma que é uma ferramenta maravilhosa e quem experimenta não quer mais voltar para a caixa  de marchas tradicional

Para o motorista Iraci Rodrigues, o Soneca, o câmbio automatizado nos caminhões é uma fermenta maravilhosa, muito boa, e que quem experimenta não quer trocar”. Natural de Barra do Quaraí/RS, ele tem 45 anos de idade e 25 de profissão. Há quatro anos ele trabalha no transporte internacional dirigindo uma câmara frigorífica acoplada a um cavalo-mecânico 2008 com caixa de transmissão automatizada.

Soneca diz que gosta muito do equipamento, porém, destaca que para atravessar a Cordilheira dos Andes precisa utilizar a opção “manual” em razão da baixa velocidade necessária na subida. Explica que no automatizado as marchas vão sendo trocadas de maneira inadequada e o caminhão acaba parando. “Fora isso, tudo é uma beleza”, acentua. Ele teve os primeiros contatos com a caixa automatizada com os colegas na empresa e depois participou de um curso na concessionária Volvo, onde aprendeu muito, conforme admite.

Ele recorda que em trechos onde ele trocava quatro marchas, o instrutor trocava apenas uma. E enquanto ele freava uma vez, o instrutor não utilizava o freio. Reafirma que aprendeu muito, embora tenha demorado um pouco  mais para evitar os vícios adquiridos ao longo dos anos dirigindo caminhões com caixas manuais.  Hoje, disse, até se atrapalha um pouco quando dirige o seu automóvel particular, com câmbio manual. Soneca defende que todos os motoristas deveriam ter aperfeiçoamento técnico permanente, até mesmo quando estão esperando para carregar ou descarregar – muitas vezes por um dia inteiro -, que podia ser utilizado em aprendizados. “Uma coisa que as empresas poderiam pensar”, sugere.

José Claudenir trabalhou um ano com caminhão automatizado e destaca que os veículos modernos têm sempre alguma coisa a mais
José Claudenir trabalhou um ano com caminhão automatizado e destaca que os veículos modernos têm sempre alguma coisa a mais

Quem não vai gostar de dirigir caminhão com câmbio automatizado, pergunta o carreteiro José Claudenir, 53 anos de idade e 30 de direção. Nascido em Uruguaiana/RS, ele também ganha a vida ao volante de uma carreta na rota do Mercosul.  Embora atualmente dirija um veículo com caixa manual, ele comenta que trabalhou durante um ano com um modelo 2014 automatizado e destaca que  ficou muito bem impressionado. Fez o cursinho na concessionária e foi aperfeiçoando com os colegas, pois acredita que sempre tem alguma coisa a mais para a aprender a utilizar nos caminhões modernos e com isso tirar melhor proveito em termos de rendimento, economia e conforto.

Proprietário de um caminhão fabricado em 1976, o autônomo Edson Rodrigues diz que nunca se interessou pelo câmbio automatizado e pensa em deixar a profissão
Proprietário de um caminhão fabricado em 1976, o autônomo Edson Rodrigues diz que nunca se interessou pelo câmbio automatizado e pensa em deixar a profissão

“Dirigir todos dirigem, mas é preciso saber guiar bem e com segurança. Por isso é necessário aperfeiçoamento permanente dos motoristas de caminhão”, enfatiza Edson de Castro Rodrigues, natural de Cachoeira do Sul/RS, 38 anos de idade e 20 de profissão. Autônomo, ele é proprietário de um Scania Jacaré ano 76, com o qual faz a rota Uruguaiana-Porto Alegre. Confessa que nunca se interessou pelo tal câmbio automatizado e nem teve curiosidade de saber como funciona.

Aliás, Rodrigues diz que se encontra desiludido com a profissão. Por conta disso tem pensado seriamente em abandonar a estrada, vender o caminhão e trabalhar por conta própria, embora ainda não saiba em que ramo. Quando conversou com a reportagem da Revista O Carreteiro, ele estava parado numa oficina aguardando o conserto do alternador do seu jacaré. Lembrou que há algum tempo se inscreveu para a compra de um caminhão através do Pro caminhoneiro, mas acabou desistindo na última hora.  Disse que estava tudo pronto, cadastro aprovado, porém, ficou assustado com o alto valor das mensalidades de R$ 4.700,00. Diante das condições oferecidas preferiu continuar trabalhando com seu velho caminhão.