Será que o auxílio caminhoneiro ajuda o autônomo? Na última semana começou a ser pago a primeira e segunda parcela do benefício. Os caminhoneiros reconhecem que o auxílio chegou em boa hora e que vai ajudar a pagar as despesas do caminhão e também as contas da casa. Porém, eles têm consciência de que a ajuda não resolve o grande problema dos autônomos que é a alta constante do diesel e a desvalorização do preço do frete.
A alta do diesel, assim como o aumento de todos os custos do caminhão como pneus, manutenção, alimentação, tem tirado o sono desses profissionais. Para driblar a situação, alguns diversificaram o tipo de frete transportados, enquanto outros trocaram as viagens longas por trechos mais curtos. Com o faturamento curto, os autônomos não conseguem se programar para investir em seu negócio.
O auxílio caminhoneiro ajuda o autônomo?
Casemiro Wolski Junior, de Palmeira/PR, trabalha como autônomo desde 2008, e acredita que o benefício chegou em boa hora mas ainda é necessários muitos ajustes para melhorar o dia a dia na estrada. “Eu estou recebendo o auxílio caminhoneiro. Porém, não resolve o problema, pois o diesel está um absurdo. Não me lembro de nenhum outro período desde que iniciei meu trabalho como autônomo em que o diesel estivesse mais caro que a gasolina. Mas, não posso negar que o benefício vai nos ajudar no orçamento em casa. O que seria realmente eficiente seria um frete mais justo e um preço de diesel mais baixo. Se nada for feito efetivamente, em um prazo de 10 15 anos a tendência é o transportador autônomo sumir”, acredita.
Heleno Franciso da Silva Filho, 18 anos de estrada sendo seis como autônomo, é de Pernambuco de Garanhus/PE, e acredita que já teve outras fases ruins no transporte e que ainda acredita em melhora. “Na minha opinião R$ 6 mil é uma boa ajuda. Porém o certo seria baixar o preço do óleo diesel que ajudaria nós caminhoneiro e todos os brasileiros”, opinou.
Nivaldo de Farias (QRA Pinoquio), 47 anos de idade, 29 de profissão, de Maceió/AL, herdou a profissão do avô e do pai. “A vida do autônomo é difícil e a nossa luta sempre foi grande. Nunca vi nada bom acontecer para o autônomo. Em relação ao auxílio é claro que achei bom e tudo que vem para ajudar será bem-vindo. As coisas não estão fáceis. Faço a rota Nordeste, São Paulo, e recebo frete de R$ 23 mil reais. Porém, gasto R$ 16 mil de óleo diesel. Então sobra pouco para manter a manutenção do caminhão e as nossas despesas. Nos sentimos muito fragilizado como se não tivesse ninguém pela gente. Somos desvalorizados demais. O que me sustenta até hoje é a paixão que tenho por ele. Peço a Deus que me dê saúde e ajude a mim e a todos os colegas”, destacou.
O que pensa o autônomo sobre a alta do diesel
a o autônomo Higo de Souza Pereira, 42 anos de idade e 19 de profissão, de Balsas/MA, o autônomo não tem saída. Cita ser bastante complicado se programam ou fazer qualquer tipo de previsão com o preço do combustível variando entre um Estado e outro. Somado ao diesel tem os outros custos do caminhão como manutenção, desgaste do caminhão, emplacamento, desvalorização, e todas as despesas da estrada. “É uma conta que não fecha. Pegar um caminhão e tirar todos os custos de desvalorização e dividir por 12 meses não sobra nada”, explicou.
Uma das explicações do Higo para o aumento constantes do diesel é ser uma questão de guerra política. “Falam que vão tirar o ICMS mas o que vai adiantar? Vão deixar apenas as cidades sem recurso. Na minha opinião o Governo precisa intervir. Mas não é isso que acontece. O que assistimos de camarote são as transportadoras comprando caminhão, os fazendeiros plantando e o frete estagnado. Ai eu pergunto um caminhoneiro com 50 anos vai fazer o que da vida se parar o caminhão. Alguma coisa tem que mudar”, questionou.
Alta do diesel não puxa reajuste do frete
O certo, na opinião de Higo é as autoridades e os profissionais irem atrás das agências reguladoras, para cobrar fiscalização em relação aos fretes. Principalmente o de retorno, que quase sempre tem o valor muito baixo. Ele explica que os valores dos fretes nunca acompanham as altas do combustível, e não existe fiscalização para isso.
“Todos os custos sofreram aumento e os autônomos são os que mais estão sofrendo pois não conseguem fazer a conta fechar. Estão esmagando os autônomos. Não adianta fazer greve, tem que parar de transportar e deixar os produtos lá na lavoura no navio, na estrada. Sou contra tirar o direito de ir e vir. Não é preciso bloquear as rodovias. Simplesmente parar de transportar. Como o autônomo vai sobreviver nesse meio, com falta de crédito, preços de peças altas, mão de obra caríssima, está quase impossível fazer a manutenção do tipo troca de óleo e filtros. A realidade é triste!”.
Alta do diesel compromete a manutenção do caminhão
Joao Carlos, Manuel Ribas/PR, 33 anos de idade, trabalhou por 11 anos como empregado. Agora como dono do próprio caminhão – em sociedade com um ex patrão – está sentindo na pele as dificuldades de ser autônomo. Para ele, a alta do diesel somado ao aumento dos custos do caminhão está provocando a falência dos caminhoneiros. “Atualmente o caminhão não dá nem 20%. O frete está tão defasado que o valor pago no Porto de Paranaguá, por exemplo, há cinco anos é o mesmo de hoje. E olha o quanto o diesel subiu durante esse período. Uma tentativa de driblar esses custos é fazer viagens mais curtas. Os colegas que fazem rotas longas estão desesperados”, explicou.
João chama a atenção para o estado de conservação dos caminhões. “Atualmente, ninguém está trocando pneu, acessório, paralama. Quebra e ninguém conserta. Os pneus é cada um de uma marca. Se colocar dinheiro na manutenção falta para o óleo diesel, alimentação, pedágio, oficina. Então a matemática não fecha. E não adianta ficar subindo o frete pois o reflexo vai ser sentido pelo consumidor. O leilão de frete é muito comum e quem se beneficia são as transportadoras”, destacou.
Uma das principais reclamações de João está no frete de retorno. Ele explica que em uma mesma rota, o frete sofre grandes variações e, como consequências, prejuízo. “Tenho um caminhão que vale R$ 600 mil. Se eu sair do Paranaguá/PR hoje até o Mato Grosso/MT tirando toda a depreciação do veículo e os custos vai me sobrar R$ 500,00. Isso porque, o frete de retorno que transporto é o adubo e o valor dele está bem abaixo do frete da ida que é grãos. Exemplo, frete de Sorriso/MT para Miritituba/PR é R$ 340,00. Chegando no Porto carrego adubo por R$ 85,00. A distância do porto de Miracatu para Sorriso é de 1100 km. Com o valor de R$85 em um caminhão de nove eixo não da nem R$ 5 mil . Enchendo o tanque imagina o quanto sobra?”, questiona. Com isso, segundo ele as transportadoras se beneficiam. Não é a toa que estão cheia de caminhões novos nos pátios. Os autônomos não conseguem trocar de caminhão.
Alta do diesel prejudica a renovação do caminhão
Lucca Abdalla Caetano, 38 anos, 15 de profissão, é de Goiânia/GO e faz a rota Goiás e Mato Grosso. Para ele, o aumento constante do diesel está complicado pois o frete não está acompanhando e fica difícil fechar a conta. “No mínimo reduziu 20% do ganho líquido. Está ficando cada vez mais difícil se manter como autônomo. Meu caminhão é 2002 fica inviável pagar prestação e manter a manutenção em dia com o frete baixo do jeito que está. São de três a quatro aumentos de diesel para um de frete que não chega nem a 10%”, compara.
Outro fator que provoca o aumento do custo do caminhão é a falta de infraestrutura da estrada. De acordo com a pesquisa da CNTA, 34% dos caminhoneiros consideram a falta de infraestrutura na estrada como uma das principais dificuldades da profissão. “Trabalhando na região de Mato Grosso/MT para Colinas/TO no transporte do grão. As estradas estão com muito buraco. Um trecho de 30 quilômetros gasto 1h30. É um absurdo. E tudo isso compromete ainda ais a minha renda no final do mês”, explicou.
Alta do diesel faz caminhoneiros optarem por viagens mais curtas
Fabiano da Silva Farias, tem 33 anos de estrada, é de Baitayporã/MS, explica que nesses últimos tempos houve muita redução de frete. Como alternativa passou a viajar menos pois com a alta do diesel e dos custos não compensa. “Toda semana somos surpreendidos. Uma solução encontrada foi fazer viagens mais curtas para ver se pelo menos empata. OS custos do caminhão aumentaram demais, os pneus, as lonas de freio e assim fica difícil continuar na profissão. Para tentar não ter prejuízo vou alternando entre viagens curta, longa.As vezes fico uma semana parado”.
A expectativa de Fabiano é que o preço do diesel volte a baixar ou que pelo menos o frete oferecido seja compatível para que possamos ter um pouco mais de estabilidade e rentabilidade na profissão.