O dia do motorista é marcado por uma série de homenagens aos caminhoneiros. Essa data é comemorada desde o século XV e portanto é a mais lembrada e festejada. O principal motivo é o fato de nesse dia ser comemorado o dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. Como o trabalho de Cristóvão era transportar os viajantes através dos rios, tornou-se padroeiro dos viajantes. Mas, apesar de todas as homenagens prestadas, será que o caminhoneiro se sente realmente valorizado? O que de fato os caminhoneiros querem nessa data? 

Pesquisa realizada pelo Clube da Estrada, com 500 motoristas, no mês de junho, mostrou que 71% dos caminhoneiros não se veem exercendo a profissão nos próximos dez anos. Para a grande maioria dos profissionais, é preciso melhorar a segurança nas estradas (78%), oferta de pontos de parada e descanso (76%) e infraestrutura (71,4%).

Conversamos com alguns caminhoneiros e caminhoneiras e pedimos que fizessem um balanço da profissão e se pretendem permanecer na atividade nos próximos anos. Será a paixão pelo caminhão ainda é suficiente para mover esses profissionais pelas estradas que estão cheias de desafios? O que precisa ser feito para a profissão ser considerada pelos jovens?

Dia do motoristaCriciana Amorim Maleski, de 39 anos, QRA Cigana, de Porto Velho/RO, iniciou a carreira em caminhão frigorífico e hoje atua no transporte de câmara fria como agregada e viaja o Brasil inteiro. Ela acredita que a profissão de caminhoneiro proporciona uma boa remuneração e a possibilidade de conhecer lugares diferentes. “Daqui alguns anos eu me imagino atrás do volante na estrada em busca de mais um compromisso. Não me vejo em outra profissão, pois foi aqui que me encontrei, me conheci melhor e tive a certeza que somos capazes de mudar a maneira que vemos as coisas e isso faz toda a diferença. Sou apaixonada pela profissão. Mas algumas coisas precisam melhorar, entre elas que os postos permitam permanecer no pátio mesmo sem abastecer”.

Dia do motorista: é preciso mais pontos de paradas com segurança

Ronaldo da Silva, 59 anos, 28 de profissão, de Barra Mansa/RJ, acredita que a profissão é boa tem muitas coisas positivas mas também outras negativas e um pouco de sofrimento. “Horários para carregar e desacarregar, insegurança, mas isso me acompanha desde que comecei há 30 anos. Mas, mesmo assim, pretendo continuar na profissão, apesar de estar aposentado. Hoje, eu trabalho em uma transportadora em Barra Mansa e faço a linha Rio de Janeiro e São Paulo, o que me permite ficar mais tempo em casa. Me vejo dirigindo pois eu gosto da profissão e sou motorista por paixão.

Dia do motorista: é preciso mais segurança nas estradas 

Dia do motoristaLuciano Cândido de Souza, 44 anos de idade, Formiga/MG, acredita que as coisas não mudaram muito desde que começou no caminhão há 17 anos. “A grande mudança que eu observo é que os caminhões são maiores e o rodotrem tomou conta das estradas. Porém, a infraestrutura não acompanhou, pois os locais para descarga não comportam o tamanho desses veículos e as estradas, principalmente as de Minas Gerais a qual eu atuo, estão cada vez mais precárias e sem investimento adequando, o que acaba dificultando o dia a dia do caminhoneiro”. Em relação ao futuro Luciano acredita que a vida do autônomo não é fácil e, portanto, caso não consiga se manter competitivo no mercado fica difícil permanecer na profissão. “Pretendo me manter na profissão enquanto acreditar que existem condições adequadas de trabalho. Uma coisa importante de acontecer seria  alguma possibilidade de atualizar o caminhão para evoluir. Mas tudo isso depende de ações do governo”, afirmou.

Dia do motorista: é preciso condições adequadas para a troca do caminhão

Dia do motoristaPedro Muller, 59 anos, de Capetinga/MG, deixou a profissão na época da greve dos caminhoneiros, em 2018, e conta que o principal motivo foi não ter conseguido dar conta de honrar os pagamentos devido ao faturamento baixo e o desgaste físico e emocional acumulado ao longo dos anos.  “É uma profissão cansativa, perigosa e muitas vezes não temos retorno de todo investimento feito seja material ou físico. Trabalhamos o tempo todo para os outros e tudo o que recebemos acaba ficando para alimentação, pedágio, diesel, manutenção. Mas, mesmo assim, conseguia tirar um dinheiro. Porém o cansaço era demais e a saúde fica muito comprometida. O caminhoneiro não dorme bem, viaja por muitas horas seguidas, no frio, na chuva, e não tem tempo para se cuidar. E não conseguimos ser valorizados”.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por Pedro que o afastaram das estradas, ele garante ser um apaixonado pela profissão. “Eu amo o cheiro do caminhão, o barulho de motor, as estradas e pretendo comprar um caminhão. “Além de passear, quero poder trabalhar na agropecuária, onde estou atualmente. Viajei muito por essas estradas e posso dizer que realmente gosto de estar em um caminhão, cuidar, equipar. É um prazer, um hobby. E essa paixão foi que me moveu e permanecer apesar de todas as dificuldades que passei. Mas, eu jamais voltaria a ser autônomo para prestar serviço para transportadora. É muita exigência para pouca valorização.  Voltaria apenas para transportar as minhas coisas”, afirmou.

Dia do motorista: é preciso melhorar a infraestrutura

Dia do motoristaAna Paula é de Mato Grosso, tem 40 anos de idade e há seis trabalha como motorista. Iniciou a carreira no rodotrem e hoje atua na câmara fria. A história dela se mistura com a de outras gerações da família como pai, tios e primos, que também são do ramo do transporte. A paixão por caminhão vem desde a infância. “É um amor incondicional. A estrada me ensinou a ter paciência, a ser seletiva com as situações, pois nem tudo é fácil, tem muitos desafios. É importante trabalhar o psicológico pois corremos riscos todos os dias, Além disso, você vai encontrar pessoas que não têm a mesma humildade. Infelizmente a nossa classe é muito mal-vista em alguns lugares. Graças a Deus em outros somos muito bem tratados. Ainda é preciso uma conscientização maior que somos a peça fundamental para a economia do Brasil girar. Eu não sei o que o futuro me reserva. Mas, não me vejo em outra profissão. Amo essa profissão. Vem de sangue.

Dia do motorista: é preciso mais valorização

Dia do motorista

“Eu amo o que faço. Adoro minha profissão. Meus companheiros de estrada. Nossa! São muitas coisas boas de ser caminhoneiro. Gosto de saber que estou levando uma carga que vai ajudar alguém. Que levo uma carga de trilho de trem que vai contribuir para o ferroviário funcionar. De saber que levo o adubo para deixar a soja ficar bonita”, declarou Leandro Munhoz, 38 anos, 16 de profissão, de Itapetininga/SP. Para os próximos anos, Leandro espera ser um motorista mais experiente no transporte. “Não tenho intenção de sair dessa profissão, pois tenho paixão pelo que faço e quero continuar por muitos anos e me aperfeiçoar”.

 

 

#13 Treinamento pode ajudar na valorização da profissão?