A falha humana continua liderando a lista de fatores responsáveis pelos acidentes nas estradas e a valorização do caminhoneiro pode ajudar a mudar essa realidade. Segundo o relatório da Polícia Rodoviária Federal, todos os acidentes em rodovias federais são causados por erro humano, seja por ausência de reação do condutor ou por velocidade incompatível, o que pode ser evitado com atenção redobrada no volante. Além disso, dados do Ministério Público do Trabalho constataram que 90% dos acidentes, os sinistros, envolvendo caminhões com resultados fatais também acontecem por falha humana.
Atualmente o treinamento é peça chave para a valorização do motorista de caminhão. Isso porque, são grandes as exigências na hora de contratar os serviços do motorista de caminhão. Para atender a nova realidade, o carreteiro teve de adotar comportamento diferente de anos atrás, época em que para conseguir um bom frete bastava ter um caminhão e saber dirigir. A profissão de motorista podia ser resumida em pegar e entregar a carga, enlonar o caminhão e saber fazer nós.
Com o passar do tempo, esta imagem romântica do motorista de caminhão foi perdendo espaço para um outro tipo de profissional, o qual faz cursos, se atualiza, busca informações em feiras especializadas do setor, se preocupa com a aparência e vê o caminhão mais como um negócio do que um veículo de carga.
Além disso, o carreteiro se transformou no principal formador de opinião dentro das transportadoras, que, por sua vez, também adotaram um outro comportamento, e se preocupam em treinar e preparar seus motoristas para acompanhar as tendências do setor.
Valorizar o motorista e prepará-lo para situações adversas é essencial para a evolução do transporte de cargas e para a inserção adequada de novos profissionais no mercado. Estudos do Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC) mostram que o número de motoristas habilitados com a carteira tipo C caiu cerca de 18% entre 2010 e 2021.
Valorização do caminhoneiro contribui na redução de acidentes
Para estimular os principais responsáveis pelo transporte de cargas, o Instituto Setcepar de Educação no Trânsito (ISET), desenvolvido pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas no Estado do Paraná (SETCEPAR), oferece diversos cursos e palestras voltadas à especialização do condutor. A disponibilidade dessas formações reflete não somente na qualidade da locomoção, como também na facilidade de introdução de novos interessados na área.
Para Cláudio Gonçalves, instrutor técnico do ISET, essa oferta “é muito importante para que os motoristas desempenhem uma função qualificada. O investimento na especialização e valorização do caminhoneiro gera produtividade e eficiência no trabalho, além de diminuir os erros comuns. Com isso, as empresas aumentam suas margens de lucro e reduzem os custos com a utilização correta desses profissionais em relação à direção econômica e segura”.
O ISET oferece cursos para suprir demandas cotidianas do transporte de cargas, como os cursos de direção econômica, de gestão de custos operacionais no transporte e de caminhoneiro proativo, cujo objetivo é reforçar a consciência do motorista, entre outros. O conteúdo dos cursos é desenvolvido por montadoras de caminhões, por grandes transportadoras e por acadêmicos que atuaram na área para assegurar a utilidade dos aprendizados e a praticidade das teorias ensinadas.
Manoel Medeiros realizou a formação de motorista carreteiro no ISET e trabalha na área há mais de um ano. Segundo ele, o curso auxiliou, principalmente, no controle de combustível e no uso adequado do freio motor, mas tratou de outros temas importantes relacionados à mecânica e aos cuidados em geral.
A participação nessas formações expande a perspectiva de crescimento na carreira, e com o instituto é possível ter acesso a palestras e consultoria para empresas relacionadas, de modo presencial. Hoje, mais de 70 profissionais da categoria já foram capacitados.
Para Manoel, “é fundamental que o motorista busque novos conhecimentos e se atualize conforme o avanço da tecnologia”. Os caminhões possuem tecnologias que os profissionais precisam saber utilizar para fazer uso do veículo. “Hoje, não podemos dirigir um veículo automático da mesma forma que usavam um manual ontem. O mercado não necessita apenas de motoristas habilitados, mas de condutores profissionais e qualificados”, destaca o carreteiro.
“A quantidade de condutores está aumentando, e é muito importante ter esse aumento com pessoas capacitadas. Neste ponto o setor é sensível, pois a exigência de carteiras C e E, em alguns casos, além de cursos específicos, afunila o processo e assusta os interessados. Apesar disso, a demanda por esses profissionais só tende a crescer”, complementa e finaliza o instrutor Cláudio Gonçalves.
Treinamento contribui na valorização do caminhoneiro
De acordo com a Salete M. Argenton , gerente geral da Fabet Filial SP, a concorrência está acirrada em todos as áreas no País neste momento de crise política, econômica, institucional e social. O treinamento ajuda na valorização do caminhoneiro. “Não basta apenas ser um motorista habilitado e com experiência, é preciso ser um profissional atualizado e capaz de garantir para a empresa resultados qualitativos e quantitativos efetivos, contínuos e duradouros. Dirigir com segurança, produtividade e baixo custo operacional é fundamental e é exigência mínima do mercado de trabalho”, explica.
Todos os anos há um aumento em torno de 30% no número de alunos capacitados nos cursos abertos do Programa Caminhão Escola da Fabet, sinalizando um interesse maior dos motoristas por cursos de aperfeiçoamento. Para Salete, os motoristas de caminhão que evitam o treinamento insistem em dirigir de forma costumeira e antiga. O processo de desenvolvimento profissional é permanente em qualquer atividade e ser um profissional do transporte exige que as pessoas busquem aperfeiçoamento constante também.
“Os veículos são cada vez mais modernos e complexos, embarcadores e clientes exigentes com o nível de serviço, qualidade no atendimento e segurança, isso requer pessoas preparadas e qualificadas para o negócio. O papel do motorista gestor nos tempos modernos vai muito além da simples condução de um caminhão”, complementa.