2018 será um ano que ficará marcado na memória da maioria dos brasileiros. A crise econômica que vem se alastrando desde 2017 se intensificou e acabou com todas as expectativas de um “ano da virada”. No caso dos motoristas de caminhão, não foi diferente, porém alguns fatores tornaram o dia a dia na profissão insustentável.

A alta do diesel e o frete totalmente defasado, além de outras reivindicações como falta de segurança, cobrança alta de pedágio e falta de locais para parar, impulsionaram os motoristas a promoverem uma das mais impactantes greves já ocorridas no País. Para 2019 ainda resta um pouco de esperança por melhores condições de trabalho e maior valorização da profissão.

Evaldo 2 OKEvaldo Rego da Silva, 51 anos de idade e seis de profissão, de Surumbi/PE acredita que até o meio do ano o trabalho estava bom, porém, depois da greve a realidade mudou. Antes fazia duas viagens por mês entre São Paulo e Nordeste e agora faz apenas uma.

Com redução de 50% do seu faturamento a situação foi ficando complicada. Para ele o diesel tinha que baixar ainda mais para compensar o frete, já que hoje as empresas não estão mais pagando o valor estipulado em tabela. Conta que de São Paulo para Recife o valor caiu de R$ 14 mil para R$11 mil e os custos são os mesmos. “Fica complicado sobreviver assim. Eu sei que o frete não compensa, mas e ai, vou ficar mais de 10 dias parado? Por isso, na minha opinião, as piores coisas de 2018 foram o alto valor do diesel e os pedágios e o frete que não acompanha”, afirmou.

Evaldo espera que em 2019 algumas medidas realmente beneficiem os motoristas. Assim como boa parte dos colegas ele espera trocar de caminhão para conseguir melhores oportunidades de frete. “Meu caminhão é ano 95 e apesar de ter trocado faz dois anos a mudança foi somente o modelo, preciso atualizar o meu veículo”.

Adelson 2 OK

Adelson Olivio dos Santos, 37 anos de idade e 10 de profissão, de Frei Miguelinho/PE é autônomo e na sua avaliação 2018 foi um ano bom, na medida do possível. Para ele, caminhão é difícil e é preciso trabalhar muito para conseguir se manter. Ele conta que no início do ano a situação estava mais complicada. Com aumentos excessivos do diesel e frete muito baixo. “A paralisação foi uma consequência desses acontecimentos. Na minha opinião ia acontecer de qualquer jeito, pois estava muito difícil trabalhar. Ia chegar um momento que a conta não ia fechar e para entregar uma carga seria necessário colocar dinheiro do bolso”, lamenta.

ara Adelson, a greve foi um divisor de águas as coisas começaram a melhorar um pouco. Mas, confessa que ainda tem muita coisa para mudar e hoje o frete voltou a ficar baixo e ninguém paga o valor estipulado na tabela de frete. “Fiquei esperançoso, mas com a falta de fiscalização nenhuma empresa obedece a lei.  Cheguei a carregar por R$ 15 mil a soja e recentemente me ofereceram R$ 12 mil”, afirma.

Para 2019 as expectativas são de mudança. “Vamos ter fé que esse novo governo realmente faça alguma coisa para nós motoristas. A primeira coisa que deveria acontecer era liberar crédito para os autônomos poderem trocar de caminhão e melhorar o negócio e assim conseguir pagar as contas e sobrar um valor para poupar.  A outra seria as empresas realmente obedecerem o valor estipulado na tabela, pagar o pedágio antecipado e, claro, a ANTT fiscalizar”, disse.

José Luiz Oliveira 2 OK

Diferente dos colegas autônomos, José Luiz de Oliveira, 50 anos de idade e 20 de profissão, de Guaxupé/MG,  é empregado e não tem do que reclamar de 2018.“Foi um ano bom e trabalhei bastante. Acredito que a greve não ajudou a mudar muitas coisas. E vejo os colegas ainda enfrentando dificuldades. É por isso que nunca tive vontade de ter o meu próprio caminhão”, afirmou.

Apesar de não ter despesas com diesel e não depender exclusivamente do frete, José diz que para 2019 também aguarda mudanças para melhorar o seu dia a dia. Para ele uma das coisas que deveria mudar é a qualidade das estradas. “Algumas rodovias precisam de duplicação. Outra medida importante é acabar com a criminalidade de vários locais, mas principalmente no Rio de Janeiro”, destacou.

José Jesualdo 2 OK

Para José Jesualdo Rangel, 49 anos de idade, autônomo da cidade de Aurora/CE, 2018 foi o pior ano desde que começou na profissão há 20 anos. “Já existiram outras crises, mas foram superadas rapidamente. Foi muito difícil. Frete baixo, alta de diesel constante, corrupção. Tudo isso contribuiu para que a maioria dos motoristas não conseguisse pagar as contas e começaram a ter prejuízo”.

A greve, em sua opinião, foi positiva, mas os reflexos duraram pouco tempo. Explica que muitos motoristas não souberam aproveitar o momento e começaram a aceitar viajar com valor baixo de frete. Essa atitude somada a falta de fiscalização de órgãos competentes contribuíram para que o empresário deixasse de pagar com o valor estipulado em tabela. “Cadê a lei? Parece que não existe. Eu acabei de carregar de Juazeiro do Norte para São Paulo pelo valor de R$ 8.500,00 quando na verdade deveria ser de R$ 12 mil. E tem motorista que para não perder ainda oferece R$ 7 mil para carregar”, explicou.

Para 2019, José afirma estar com muita esperança de algumas mudanças. “Espero que esse governo faça algo bom não para mim e sim para o País. Que acabe essa roubalheira, essa insegurança. Eu tenho duas filhas. Todos os dias quando saiu de casa eu beijo elas, pois não tenho certeza de que vou voltar. Um País tão rico como o nosso não deveria estar passando por isso”, disse emocionado.

Rubens Silva 2 OK

Rubens Silva, 41 anos de idade e 20 de profissão , de Brasilia/DF, autônomo, viaja o Brasil inteiro, avalia 2018 como um dos anos mais difíceis. Ano em que o valor do diesel esteve mais caro. “As despesas aumentaram muito e o frete não acompanhou. Foi o ano em que menos faturei. Essa alta do diesel foi cruel. No ano passado ainda a gente abastecia por R$ 2,85 e agora a gente encontra por R$ 3,30 e ainda acha barato”.

Ainda na opinião de Rubens, a greve realmente foi necessária e ajudou a melhorar um pouco o nosso dia a dia. Ele cita a isenção de cobrança do eixo erguido. “Isso foi positivo, mas ao mesmo tempo para compensar aumentaram a tarifa do pedágio, que, não deveria, mas sai do bolso”. Outro ponto abordado é o não cumprimento da tabela de frete.

“Se eu tivesse para onde correr eu deixava a profissão. Eu realmente espero que 2019 seja melhor. É sempre bom ter expectativas de melhora, de novo governo de novas ideias. Se o valor do óleo diesel baixar já vai ajudar a fazer as coisas começarem a andar novamente”, opinou.