30% dos acidentes nas rodovias estão relacionados à saúde mental dos condutores. Causas como reação tardia do condutor ou falta de reação e transtornos mentais foram comuns nos sinistros.
Segundo levantamento de dados feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) a pedido da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), estes sinistros responderam por 24% das mortes e 29% dos feridos registrados entre janeiro e setembro de 2024.
“Os números corroboram o que os especialistas de Medicina do Tráfego e Psicologia do Trânsito vêm alertando há anos: para salvar vidas, precisamos cuidar da saúde física, mental e psicológica dos motoristas com maior frequência”, afirma o diretor científico da Ammetra, Alysson Coimbra.
Segundo o especialista em segurança viária, as recentes flexibilizações no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), como ampliação do limite de pontos para a suspensão da CNH e ampliação do prazo para renovação, provocaram um aumento no número de sinistros, mortes e feridos no trânsito.
“O motorista brasileiro está claramente esgotado e o aumento de episódios de brigas, discussões e lesões corporais no trânsito reflete os efeitos da ansiedade, depressão e deterioração da saúde comportamental. Motoristas comuns só passam por avaliação psicológica uma vez na vida, quando tiram a primeira habilitação, o que é assustador. Sem cuidar da saúde dos motoristas, não vamos salvar vidas no trânsito”, detalha o diretor científico da Ammetra.
Acidentes nas rodovias: excesso de velocidade e consumo de álcool estão no radar
O número elevado de acidentes nas rodovias provocados por excesso de velocidade e consumo de álcool e drogas também preocupa entidades do setor. De acordo com o levantamento da PRF, de janeiro a setembro foram registrados 5.985 acidentes causados por essas infrações, que deixaram 6.118 feridos e 453 mortos.
Segundo o PRF Jeferson Almeida, coordenador-geral de segurança viária da corporação, o maior desafio para 2025 será combater a combinação de álcool e direção e o excesso de velocidade nas rodovias federais. “É um desafio cultural. As pessoas bebem para comemorar ou para lidar com problemas, e mudar esse comportamento não é fácil”, explica. Almeida ressalta a importância da fiscalização intensiva para inibir a prática. “Quando há um relaxamento na fiscalização, as pessoas voltam a dirigir sob influência de álcool, acreditando na impunidade”, alerta.
Para o médico do Tráfego Alysson Coimbra sinistros provocados por excesso de velocidade são mais letais e têm maior potencial de fazer vítimas. No caso do álcool, o desafio é mudar a mentalidade dos motoristas. Precisamos encontrar formas mais eficazes de educar para o trânsito e conscientizar sobre temas básicos, como não beber e dirigir, usar cinto de segurança e respeitar os limites de velocidade, por exemplo”.
O coordenador da PRF reforça a importância da parceria com outros órgãos, como o DNIT, ANTT e concessionárias de rodovias para aprimorar a segurança viária, considerando a premissa das ‘rodovias que perdoam’, ou seja, estradas preparadas para minimizar os erros humanos.
Acidentes nas rodovias: é preciso investir na saúde física e mental do motorista
Para 2025, a PRF pretende investir em ações educativas e campanhas de conscientização, além de parcerias com o SEST/SENAT e associações médicas para abordar a saúde dos motoristas, incluindo aspectos físicos e mentais.
“A saúde influencia muito nos sinistros. Durante essas ações detectamos motoristas com pressão arterial alterada, fadiga e problemas relacionados ao uso de substâncias ilícitas”, relata Almeida, defendendo mecanismos legais para verificações de saúde mais frequentes, utilizando a CNH como instrumento.