Quais as expectativas dos caminhoneiros para 2023 depois de um ano tão desafiador? Reajustes constantes, falta de alternativas, aumentos dos insumos como os pneus, por exemplo, além de custos elevados de manutenção, alimentação combinado com valor defasado de frete foram algumas das dificuldades enfrentadas pelos profissionais em 2022 para manter o caminhão rodando.
Com o faturamento curto ficou difícil se programar para investir em seu negócio ou até mesmo realizar o sonho de ter o seu próprio caminhão. Pesquisa recente realizada pela CNTA – Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos – mostram que a média de idade dos caminhões é de 14 anos. Porém 17,7% dos caminhoneiros entrevistados possui veículo com mais de 21 anos. Entre as principais dificuldades enfrentadas pelos caminhoneiros quase 29% disse ser a remuneração e 33,2% a segurança.
Para muitos caminhoneiros, 2022 foi ano conturbado, de instabilidade e de muita insegurança. Mas, as expectativas para o próximo ano são bastante otimistas. No topo da lista de desejos de 2023 e as principais expectativas dos caminhoneiros estão a estabilidade do valor do diesel, valorização do frete e da profissão, melhor infraestrutura na estrada, mais opções de cargas e alternativas viáveis para a troca do caminhão.
Expectativas dos caminhoneiros: Ricardo Tramari espera que o agronegócio e a indústria continuem a crescer para movimentar o frete
Ricardo Tramari, 45 anos, é micro empresário, e junto com o irmão possui cinco carretas, que percorrem todo o Brasil. Ele se considera autônomo, principalmente pelas dificuldades enfrentadas, e acredita que foi um ano terrível, pós pandemia, de brigas políticas, pouco incentivo do governo, linhas de crédito apenas para os quem tem mais capital e custos altos. “Eu me considero um autônomo principalmente em relação as dificuldades. Meu pai começou esse pequeno negócio e, após se aposentar, decidimos assumir. O pior ponto de 2022 foi o preço do diesel e dos insumos do transporte, esse descontrole quebrou muita gente, pois ficou difícil calcular o custo do quilometro rodado com tantas oscilações e falta de previsibilidade. Conheço muitos colegas que perderam o caminhão”, afirmou.
Uma das questões mais urgentes, na opinião do Ricardo, é a disponibilidade de uma linha de crédito que realmente atenda os pequenos transportadores. Ele diz ser muito difícil ter acesso aos financiamentos com as mesmas vantagens que as grandes transportadoras conseguem. “Falo com conhecimento de causa, pois antes de assumir o negócio do meu pai fui gestor de uma empresa de transporte. Apesar de ser uma empresa de pequeno porte, era uma sólida e tinha bens. Em 2012 fiz uma compra de vários caminhões e conseguimos ótimas condições, entre elas três anos de carência e juros de 2,5% ao ano. Gostaria que fosse avaliando uma condição específica para os mais de 40% autônomos.
Para Ricardo, o ponto positivo foi a volta da indústria e do comercio perto da normalidade de antes da pandemia, a sagra de grãos e o crescimento do agronegócio que permitiu melhores ofertas de carga e a demanda se manteve. “Para 2023 não espero muita coisa principalmente nesse primeiro ano de novo governo, espero apenas que olhem pelo Brasil e pelos caminhoneiros para que possamos ter melhores oportunidades e igualdades. E que o o agronegócio, comércio e indústria continuem crescendo para termos melhores fretes”, destacou.
Expectativas dos caminhoneiros: é importante ações para incentivar os jovens a se interessarem pela profissão de motorista
Jeferson Luiz Falchetti, de Barretos/SP tem 45 anos de idade e há 24 como motorista. Durante quatro anos trabalhou como autônomo porém, atualmente, é empregado. O principal motivo foi evitar os gastos diários e os imprevistos. “Muitos estão fazendo isso também para ter uma rentabilidade fixa, bem diferente da realidade do autônomo. Apesar de 2022 ter sido um ano bom, poderia ter sido melhor. A pandemia prejudicou muito pois o trabalho diminuiu. Esse final de ano está ainda pior com pouquíssimas cargas. As dificuldades enfrentadas são as de sempre, desrespeito, falta de locais com estrutura para receber o motorista, banheiro limpo, restaurante com preço acessível e de qualidade”, enumerou.
A perspectiva para o próximo ano, segundo Jefferson, é que de tudo certo, o novo governo faça o Brasil crescer, pois assim as oportunidades aumentam e muita saúde para continuar. Outro ponto levantado por Jefferson é a urgência de ações para incentivar os jovens a serem caminhoneiros. “Apesar das empresas estarem investindo na fabricação de caminhões bons, confortáveis e cheio de tecnologia o que vemos são cada vez menos pessoas querendo ser motorista. Os jovens assistem as dificuldades vivenciadas pelos mais experientes, como ficar dias longe de casa, sem infraestrutura e segurança, e desistem de ser motorista. É importante que tenham ações de incentivo a profissão. Do tempo que comecei era bem remunerado e os motoristas trabalham porque gostavam. Hoje ninguém trabalha mais por paixão”.
Expectativas dos Caminhoneiros: Nélio José quer que o País continue crescendo para resultar em mais trabalho e rendimento
Nélio José de Souza, de Francisco Morato/SP, conhecido como Papa Léguas, tem 57 anos de idade, 38 de experiencia, sendo 11 com carreta e atualmente trabalha de empregado com câmara fria. Para ele, 2022 foi um ano complicado. “De agosto para frente enfrentei algumas dificuldades, o motor do meu caminhão ferveu, fiquei internado três dias, perdi o meu emprego. Tudo isso, somado as brigas política e os jogos da Copa, contribuíram para reduzir o movimento, o faturamento e, como consequência as contas não foram pagas e as dívidas aumentaram. Para 2023 eu espero que as coisas melhorem pois é assim que eu acredito que devemos pensar. Um País crescendo significa mais trabalho e mais rendimento”, disse.
Claudemir Pedro da Silva, Florianópolis/SC, 51 anos de idade e 30 anos de profissão, é autônomo e transporta furtas e verduras. Para ele, 2022 poderia ter sido um ano melhor se não fosse o aumento constante do diesel. “ Os preços continuam nas alturas e foi o principal fator para desmotivar os autônomos, que mesmo assim se mantiveram na luta para poder sair do vermelho. Como sou autônomo negócio direto com o cliente. E várias vezes tentei pleitear um reajuste. Porém, quando eu não tinha sucesso trocava as rotas de distância longas pelas mais curtas para ter menos prejuízo. O meu forte sempre foi viajar para o Nordeste, porém com a falta de acordo passei a viajar mais para São Paulo, Minas, Goiás. E fui me virando”, explicou.
Para 2023, Claudemir espera que o novo governo lute por preços justos de combustível e todos os demais insumos. “Esta tudo um absurdo e se isso não acontecer vai ficar cada vez mais difícil trabalhar. Outro ponto importante é melhorar a tabela reguladora de frete e fiscalização que cobre das empresas que não querem pagar o valor mínimo. Não posso dizer que foi o pior ano da minha vida pois graças a Deus eu escapei de um acidente grave no Nordeste. Meu caminhão deu perda total, mas eu saí com vida. Estou me recuperando agora. O acidente foi na BR 116 em Povoado Cem /BA. Estou de muleta com fratura na coluna. Mas estou bem e pronto para o próximo ano”, lembrou.
Ronaldo da Silva, é de Barra Mansa/RJ ADM do Grupo Amigos Rodoviários Barra Mansa RJ, é empregado, trabalha com carreta e acredita que apesar de todas as dificuldades, 2022 foi um ano produtivo e de bastante trabalho. “Mas ainda percebo os reflexos da pandemia no nosso setor, ainda não atingimos 100% do que era antes. Em 2023 as minhas expectativas são boas. Espero que as coisas melhorem para o nosso País, não apenas para os caminhoneiros e o setor de transporte, mas para todos os brasileiros. Que tenhamos um ano de muito trabalho”.
Para Leandro Munhoz, 38 anos de idade e 16 de profissão, de Itapetininga/SP 2022 foi um ano turbulento e segundo ele, apenas os fortes sobreviveram. “Muitos autônomos não conseguiram. Foi um ano de muita luta e medo. Eu mesmo perdi muitos amigos por conta da Covid. O frete ficou bastante desvalorizados pois algumas empresas aproveitaram o momento de crise para reduzir os valores. Houve período de baixas ofertas. Além disso foi um ano onde os caminhoneiros parecem ter sido esquecidos. De todo o tempo que estou na área acredito que 2022 foi o mais trabalhoso com muitas dificuldades para enfrentar,” relatou.
Mesmo diante de todos esses fatores negativos, Leandro ainda é grato e acredita ter sido abençoado. “Conseguir atingir as minhas metas que havia estabelecido no início do ano. Vamos ver como será 2023. Eu espero continuar na empresa que trabalho, e que seja um ano bom, de fretes mais valorizados e com infraestrutura melhor. Quem sabe um dia consigo ter meu próprio caminhão? Vamos ver quais planos vamos conseguir atingir. Sou casado tenho dois filhos e apesar dessa rotina puxada de ficar 50 dias fora de casa eu trabalho para dar um futuro bom para a minha família”, finalizou.