Por Evilazio de Oliveira Fotos Luis Gonçalves

Na esteira dos bons resultados da economia brasileira registrados nos últimos anos, o setor do transporte rodoviário de cargas se beneficia desse incremento das atividades produtivas e comerciais, procurando recuperar perdas anteriores, sobretudo as que foram causadas pela crise mundial de 2008 e que teve reflexos, ainda que de menor impacto, na economia brasileira. Com isso, carreteiros empregados ou autônomos, puderam trabalhar com um pouco mais de tranquilidade e, embora ninguém se vanglorie de grandes ganhos, pelo menos puderam pagar as contas e, em alguns casos, até fazer algumas economias. A esperança e a confiança desses estradeiros é que para o ano que vem, com o novo governo, as coisas continuem melhorando.

Há menos de dois anos na profissão, Daiane de Almeida diz que foi sorte ter começado na profissão em um bom momento da economia brasileira
Há menos de dois anos na profissão, Daiane de Almeida diz que foi sorte ter começado na profissão em um bom momento da economia brasileira

Foi com essa confiança que a zootecnista Daiane Aparecida de Almeida, 23 anos de idade, decidiu entrar na profissão de estradeira, “uma vida de loucura”. Natural de Vicente Dutra/RS, ela orgulha-se de conhecer praticamente todo o País com apenas um ano e seis meses de boleia. “Só faltam Acre, Amapá e Roraima”, afirma. Reconhece que o namorado, Lairton dos Santos, também carreteiro, teve um pouco de influência na escolha, “mas não muita”.

Apesar de trabalhar como empregado, Jaime Silvestre é comissionado, e estabelece metas de faturamento e quer comprar seu próprio caminhão
Apesar de trabalhar como empregado, Jaime Silvestre é comissionado, e estabelece metas de faturamento e quer comprar seu próprio caminhão

Ela comprou um caminhão ano 2001, com terceiro eixo, e começou a viajar junto com o namorado para pegar prática. Agora viaja sozinha. O namorado também comprou um cavalo-mecânico com carreta e agora se encontram mais espaçadamente, às vezes na estrada ou em algum posto de combustível. Acredita que teve sorte em pegar um período bom da economia brasileira para iniciar na profissão e acredita que as mudanças que forem feitas pelo novo governo não deverão impedir que o setor de transportes continue a crescer. Mesmo assim, Daiane não se descuida dos estudos. Já fez pós-graduação e permanece conectada ao mundo através de um notebook, seu companheiro de boleia.

Com mais carga para transportar e maior faturamento, Ciro Anger diz que pode dar mais conforto à sua família e faz planos para a compra de um caminhão
Com mais carga para transportar e maior faturamento, Ciro Anger diz que pode dar mais conforto à sua família e faz planos para a compra de um caminhão

O catarinense de São José do Cedro, Jaime Silvestre dos Santos, 38 anos e 13 de volante, também reconhece que houve uma acentuada melhoria na sua atividade nos últimos dois anos, com mais facilidade para a obtenção de cargas. E que, embora não tenham ocorrido melhorias nas tarifas de fretes, está conseguindo ganhar mais, pois tem mais serviço. Ele trabalha como empregado e garante que gosta de fazer o seu próprio salário. “Quanto mais se trabalha, mais se ganha”, defende. Assim, como comissionado, estabelece suas metas para o mês em termos de rendimentos. Atualmente Jaime dirige um caminhão ano 96 e tem também como objetivo a aquisição de um caminhão, mas para isso espera que o governo ajude no desenvolvimento do País, pois acredita que sendo assim haverá carga e serviço pra todos.

Mateus Zorzin destaca que a Copa do Mundo de Futebol e outros eventos vão ajudar a manter o ritmo da economia e do volume de cargas
Mateus Zorzin destaca que a Copa do Mundo de Futebol e outros eventos vão ajudar a manter o ritmo da economia e do volume de cargas

Para o carreteiro Ciro Anger de Sousa, 42 anos de idade e apenas três de estrada, na maior parte no transporte internacional, o ano de 2010 foi muito bom. Porém, não tem certeza se foi por causa do desempenho da economia brasileira ou porque aprendeu mais sobre a profissão. Admite que tudo melhorou também porque passou a fase inicial na profissão, quando não tinha experiência e também tinha a crise internacional, mas agora as coisas se ajeitaram e ele pode ganhar, o suficiente para pagar as contas e dar mais conforto à sua família.

Após realizar o sonho de ser carreteiro, Arlei Dalmolin está há seis meses na profissão e bastante otimista em relação ao seu futuro
Após realizar o sonho de ser carreteiro, Arlei Dalmolin está há seis meses na profissão e bastante otimista em relação ao seu futuro

Diz também que diante da maior oferta de serviço e carga, já faz planos para comprar um caminhão em 2011. Por conta de seu plano já está economizando para dar uma boa entrada e diminuir o valor do financiamento. Está muito satisfeito e quando questionado em relação ao futuro afirma que “nem precisa melhorar, é só permanecer como está”. Lamenta, porém, a enorme perda de tempo nas aduanas, sobretudo em Uruguaiana/RS, onde as esperas chegam a demorar dias.

Mateus André Zorzin, 32 anos e 14 de profissão, trabalha como empregado ao volante de uma carreta de seis eixos e viaja para onde houver carga. “Sabe que a economia brasileira está “bombando”, produzindo cada vez mais e com isso sobrando carga para ser transportada”. Ainda tem pouca idade, conhece o serviço e tem disposição para trabalhar, por isso está muito otimista com o futuro. Salienta que 2010 foi muito bom, com muita carga, embora o frete não ajude. Acredita que devido à Copa do Mundo de Futebol e muitas obras projetadas, as coisas não devem mudar de uma hora para outra. Está otimista e garante que se o governo não atrapalhar, também vai comprar um caminhão, pois, reafirma, “não tem medo de serviço”.

O ano passado havia sido bom, mas este foi melhor ainda, afirmam Gilberto Burin e sua esposa Marilene Schultz
O ano passado havia sido bom, mas este foi melhor ainda, afirmam Gilberto Burin e sua esposa Marilene Schultz

Com pouco mais de quatro meses de estrada, Arlei Antônio Dalmolin, 38 anos, admite que ainda não sabe avaliar o comportamento do setor de transportes ou estabelecer comparativos. Natural de Chapecó/SC, só agora conseguiu o sonho de se tornar motorista de caminhão e dirige, por enquanto, só nos Estados do Sul. Diz que, no trecho, sempre está muito atento às conversas dos colegas, que falam de tudo, e reconhece que é difícil que as pessoas fiquem totalmente satisfeitas. Ele, no entanto, está feliz com a nova profissão e confiante que dará certo.

Gilberto Antônio Burin, 40 anos, 20 de profissão, e a sua mulher Marilene Antônia Schultz, 40 anos, naturais de Dionísio Cerqueira/SC, consideram que este foi um dos melhores anos das últimas décadas. Ele dirige uma carreta pelas rotas do Mercosul e salienta que o ano passado foi bom, mas 2010 foi muito melhor, com mais cargas e melhor remuneração. “Não deu para ganhar dinheiro, mas foi o suficiente para pagar as contas e começar uma pequena poupança”, explica satisfeito. Lembra que 2008 foi um ano péssimo para todos, mas passou e diz que agora é torcer para que o setor continue assim, ou melhore, já que muita gente está comprando caminhão novo, tudo isso pensando num futuro cada vez melhor.

Para Tomás Martins, o crescimento não refletiu na atividade, pois os preços dos pneus, pedágios, combustível e impostos subiram, mas o frete não
Para Tomás Martins, o crescimento não refletiu na atividade, pois os preços dos pneus, pedágios, combustível e impostos subiram, mas o frete não

Na opinião do autônomo Tomás José Martins, 56 anos e 35 de estrada, natural de Curitiba/PR, o anunciado crescimento da economia nacional não teve reflexos na atividade do motorista, que continua um “lixo” de profissão. Segundo ele, combustível, pneus, pedágios e impostos continuaram aumentando de preço, enquanto o valor do frete continua o mesmo. Ou, em alguns casos, até diminuiu. Depois de desfiar uma série de queixas contra a política do governo para o setor, ele conclui que os últimos anos não foram bons para ninguém. “Foram péssimos, e não acredito que vai melhorar”, conclui.

Acostumado a conviver com os altos e baixos do setor, o agente de cargas Walter Silva, 59 anos e há 25 na atividade, atende em seu local de trabalho – no estacionamento do Posto Buffon, na BR-386, em Canoas/RS. Conta que tem carteira com cerca de 150 motoristas e 100 empresas cadastradas, com as quais negocia fretes e tarifas. Diz que a sua média diária é de 10 cargas, mas tem dias que não fatura nada, pois os carreteiros negociam direto com as empresas, embora, ele garanta que consegue tarifas melhores.

O agente de carga Walter Silva diz que a oferta de carga melhorou no final do ano e admite estar apreensivo em relação ao novo governo
O agente de carga Walter Silva diz que a oferta de carga melhorou no final do ano e admite estar apreensivo em relação ao novo governo]

Lembra que o começo do ano foi fraco, apesar de todas as informações sobre o crescimento da economia do País e que agora, mais para o fim do ano, a oferta de cargas melhorou um pouco. Porém, continua apreensivo com o que poderá acontecer com o governo da nova presidente Dilma Roussef. Utilizando três telefones celulares para se comunicar com motoristas, empresas e negociar fretes, Walter garante que se não trabalhar duro, nada se consegue. E ele precisa ganhar pelo menos R$ 50,00 por carga agenciada. Tem dias que rende boas comissões, mas já teve períodos de “vacas magras” que espera que não se repitam.