Evilazio Oliveira

Trocar ou comprar o caminhão nunca foi uma operação fácil para os motoristas, principalmente os autônomos, que habitualmente esbarram em uma série de entraves burocráticos, que incluem a comprovação de renda, de endereço fixo e ter o nome limpo na praça entre outras exigências para se conseguir crédito. Atualmente são disponibilizadas várias modalidades de financiamento, havendo até casos de taxas de juros atrativas e com bom parcelamento. O grande problema, porém, é conseguir reunir toda a documentação necessária e escolher a opção que não venha a comprometer a planilha de custo do carreteiro.

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Quanto mais novo for o veículo, menor será o desembolso com manutenção, e maior será a produtividade, alerta Lauro Valdivia

O engenheiro Antônio Lauro Valdivia Neto, especialista em transporte e assessor da NTC & Logística, explica que o importante no momento da troca do caminhão é avaliar o valor recebido pela venda, pois veículos cuja diferença entre o valor de aquisição e venda for menor serão as melhores opções. “O planejamento antecipado é essencial. O carreteiro deve lembrar-se que quanto mais novo for o veículo adquirido, menor será o desembolso com manutenção. Consequentemente, a produtividade será maior. Nos primeiros anos de atividade do caminhão, a tendência é sobrar mais dinheiro para pagar as parcelas do financiamento”, explica. Quanto à analise dos juros, Lauro alerta para que o carreteiro procure sempre o mais baixo e que caiba no seu bolso ou dentro de suas receitas.

O Procaminhoneiro, programa de financiamento criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), teoricamente é uma das modalidades que mais atendem ao motorista de caminhão autônomo, por oferecer taxas reduzidas e com longos prazos de pagamento, na aquisição de produtos novos ou usados. A taxa de juros de 3% ao ano (a partir do segundo semestre a taxa, é fixa já acertada com o governo federal, será de 4%), o bem pode ser financiado em 100%, o prazo total de financiamento é de até 10 anos, incluindo o período de carência (que pode ser de 3 ou 6 meses) e o cliente utiliza o Fundo Garantidor para Investimentos (BNDES FGI), que complementa as garantias, em até 80% do valor do bem financiamento.

Sao Paulo. 09.06.2010.
Cliente com toda a documentação solicitada recebe a informação da aprovação em menos de um dia, diz Agnel Martinez, do Bando Mercedes-Benz

Porém, na prática muitos carreteiros dizem enfrentar dificuldades para conseguir o crédito através do Procaminhoneiro. Para Edson Moret, chefe de departamento da Área de Operações Indiretas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o motorista autônomo tem mais dificuldade de obter aprovação por não conseguir comprovar renda e ser considerado um cliente de alto risco. “Apesar de todos os esforços para formalizar e profissionalizar o setor, ainda vai levar um bpm tempo para que o autônomo ganhe maior credibilidade na hora de conquistar o financiamento”, acredita. Moret reforça que o BNDES liberou entre 2011 e abril de 2013 R$ 800 milhões para o Procaminhoneiro e que a modalidade é, ainda, a melhor opção para o autônomo.

Em relação à liberação de recursos para todas as modalidades de financiamento, em 2011 o BNDES disponibilizou pouco mais de um bilhão, em 2012 este valor caiu para 450 milhões (por causa da retração da economia e a inadimplência) e até abril de 2013 haviam sido liberados 124 milhões. A expectativa, segundo Moret, é de pouco crescimento este ano. “Talvez algo em torno de R$ 600 milhões”, estima.

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As movimentações do setor são importantes para ajudar o autônomo a conseguir financiamento e trocar de caminhão, opina Ricardo Alouche da MAN Latin America

Por conta de toda a burocracia imposta ao Procaminhoneiro e baixa acessibilidade por parte dos carreteiros, uma das modalidades que vem sendo bastante procurada é o Finame PSI, que se tornou atrativo a partir do segundo semestre de 2012, quando a taxa de juros ficou em 2,5%. Atualmente está em 3% e a partir do segundo semestre – assim como o Procaminhoneiro – subirá para 4%.

Hoje, seis das principais montadoras do País podem financiar seus caminhões por meio de seus bancos ou de algum parceiro. Algumas delas deixaram de trabalhar com o Procaminhoneiro ou nem computam mais o resultado da modalidade devido à baixa procura. É o caso do Banco Mercedes-Benz que não opera o Procaminhoneiro, mas afirma que o Finame PSI é bastante procurado para o cliente de varejo, que tem um ou dois veículos. A taxa de 0,25% ao mês é atrativa, mas é necessário que o interessado tenha empresa aberta, está com as certidões em dia, conta em banco e trabalhar na formalidade. “O cliente pode financiar até 90% do valor dando de entrada apenas 10%. Por enquanto o nosso plano é direcionado apenas na compra do veículo zero quilômetro. Porém, caso o governo prorrogue as vantagens do PSI (está previsto para terminar em setembro deste ano) temos a intenção de estender a modalidade para caminhão usado também”, afirmou Agnel Martinez, diretor comercial do Banco. Para caminhões usados, atualmente a entidade empresa utiliza a modalidade CDC.

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O Procaminhoneiro tem sido uma boa ferramenta, pois só em 2012 foram cerca de 500 novas operações, afirmou Márcio Pedroso, do Banco Volvo

Até o início de 2011, conforme explica Martinez, o Finame PSI não era muito procurado por oferecer taxas de juros altas, em torno de 6 a 7%, mas a partir do segundo semestre de 2012 passou a ser disponibilizado com taxas de até 2,5% (em setembro). Em relação ao tempo para aprovação do crédito, o executivo faz questão de ressaltar que se o cliente estiver com toda documentação solicitada, em menos de um dia ele recebe a informação sobre a aprovação e ressalta que é nesse momento que alguns carreteiros não conseguem atender a todas as exigências.

“Com o fim da carta frete e outras movimentações para regularizar o setor, acredito que em um futuro próximo será positivo para o autônomo, que hoje tem bastante dificuldade de comprovar renda. Este profissional deixará de atuar no campo da informalidade e passará a ter um histórico de movimentação no banco, um cartão de crédito. É um grande passo”, acredita.

Para Ricardo Alouche, diretor de vendas marketing e pós-venda da MAN Latin America, na prática todas essas movimentações para regularizar o setor são importantes para ajudar o autônomo a conseguir financiamento e trocar de caminhão. Ele concorda que levará pelo menos uns dois anos para que as novas regras sejam incorporadas por todos envolvidos no setor. As dificuldades aumentam quando o autônomo decide trocar o caminhão por outro usado, pois nesta área o nível de inadimplência é maior. “Ainda que o motorista tenha uma renda pequena, ele terá como comprovar e esse fato gera segurança nas instituições financeiras”, afirma Alouche.

Mesmo com todas as exigências impostas ao carreteiro para conseguir crédito, Alouche acredita que o mercado tem boas opções de financiamento. No caso do Banco Volkswagen, apesar de trabalhar com o Finame Procaminhoneiro, a melhor modalidade para os autônomos que se encaixam na condição de micro-empresário tem sido o Finame PSI. “As dificuldades para se contratar o PSI são menores do que as enfrentadas no Procaminhoneiro. Atualmente, 91% de nossas negociações de financiamento são realizadas através desta modalidade. Os outros 9% estão divididos entre CDC e Leasing, que mantém taxas de juros elevadas”, explica.

Outra opção oferecida pelo Banco Volkswagen – e que também atende os motoristas de caminhão autônomos – é o Cartão BNDES, que segundo Alouche traz uma série de vantagens para a aquisição de caminhões e ônibus Volkswagen, além de peças originais. Voltado para as micros, pequenas e médias empresas, o cartão consiste em um crédito rotativo pré-aprovado, de até R$ 1 milhão, para compra de produtos credenciados pelo BNDES. Podem obter o Cartão BNDES as MPMEs de controle nacional, com faturamento bruto anual de até R$ 90 milhões, e que estejam em dia com INSS, FGTS, RAIS e tributos federais.

Já o Banco Volvo atua no mercado brasileiro com duas linhas de financiamento, Finame e CDC. No Finame, a instituição trabalha com as modalidades Finame TJLP, Finame PSI e Finame Procaminhoneiro. Nas duas modalidades os prazos chegam a 60 meses e são voltadas tanto para financiamento de caminhões quanto para ônibus e equipamentos de construção”, explica Márcio Pedroso, presidente da Volvo Financial Service do Brasil. Além do financiamento, a empresa também disponibiliza o consórcio, com prazos de até 100 meses.

Para Pedroso, o Procaminhoneiro tem sido uma boa ferramenta, assim como o Consórcio. “O Banco Volvo é o banco que mais realizou operações de financiamento na modalidade Finame Procaminhoneiro, entre os bancos de montadoras, desde a criação do produto. Somente em 2012 foram cerca de 500 novas operações nesta modalidade”, destacou o executivo.

O Banco Volvo fechou o ano de 2012 com um volume total de financiamentos de 2,1 bilhão de reais em novas operações de financiamento, somando-se todas as modalidades, sendo o Finame a mais procurada. “Acredito os motoristas dispõem de diversas opções de financiamento no mercado, seja Finame, CDC ou Consórcio para aquisição dos produtos. E muito provavelmente um destes produtos poderá atender as suas necessidades”, conclui.

FROTA BRASILEIRA

O mercado brasileiro disponibiliza diversas modalidades de financiamento que teoricamente deveria atender a todo tipo de transportador. Na prática é possível perceber que apesar das taxas de juros atrativas e boas opções de parcelamento, alguns transportadores, principalmente os autônomos, ainda encontram dificuldades para renovar seus veículos. Dados da Agência Nacional de Transporte Terrestre mostram que a frota brasileira, principalmente a que está concentrada nas mãos dos motoristas autônomos, ainda é muito velha. Do total estimado em 1.910.209 veículos, a idade média é de 12,2 anos, em número da ANTT, de maio deste ano. Desse total, 868.210 veículos estão com os autônomos, porém a idade média sobe para 16,4 anos.