Por Daniela Giopato

O ano de 2015 tem tudo para ser classificado como um dos piores em termos de economia para o Brasil. Empresas de diferentes setores fecharam as portas, reduziram significativamente o número de funcionários e encerraram as suas atividades. O mercado de caminhões, por exemplo, finaliza 2015 com queda de 47,7% em relação a 2014, sendo o impacto maior no segmento de pesados, o qual encerrou o ano passado com redução de 60,6% nos emplacamentos. Profissionais do setor estimam que 2016 será igual ou um pouco pior, porém, se sentem mais preparados para enfrentar a turbulência. Por conta disso, já têm ações traçadas para iniciarem a recuperação prevista para acontecer somente em 2017.

Ricardo Alouche, da MAN Latin America, espera um cenário mais animador este ano e acredita em crescimento da indústria a partir do segundo semestre
Ricardo Alouche, da MAN Latin America, espera um cenário mais animador este ano e acredita em crescimento da indústria a partir do segundo semestre

“Acreditamos que teremos um cenário mais animador em 2016, com início da estabilidade política e consequentes medidas que ajudarão o Brasil a impulsionar a economia, sobretudo a confiança dos compradores”, afirma de maneira otimista Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN Latin America. O executivo acredita em leve crescimento da indústria, entre 3% e 5%, a partir do segundo semestre e ressalta a importância da estabilidade política para o crescimento do mercado de caminhões, devido à possível volta dos incentivos fiscais, como o Finame, por exemplo.

“Tivemos de nos adequar a uma série de novas demandas para continuarmos competitivos no mercado. Sobretudo, trabalhamos sempre com a transparência perante nossos colaboradores, que são fundamentais para conseguirmos alcançar nossas metas. Desde o ano passado, estamos com olhos mais atentos às reduções de custos em diversas frentes, além da otimização de processos”, disse Alouche.

Para este ano, ele adianta que a empresa continuará a oferecer soluções com foco no atendimento sob medida para cada necessidade do cliente. Historicamente, os momentos de dificuldades econômicas têm sido o berço de ótimos negócios. Exemplo disso é o recém-lançamento que realizamos no fim do ano passado, um dos maiores de nossa história, com 18 novidades sob medida para o mercado brasileiro e mais de 30 países da América Latina e África”, reforçou.

Precisamos retomar o crescimento econômico para despertar novamente a confiança dos investidores, diz Roberto Leoncini, da Mercedes-Benz
Precisamos retomar o crescimento econômico para despertar novamente a confiança dos investidores, diz Roberto Leoncini, da Mercedes-Benz

No caso da Mercedes-Benz do Brasil, o vice-presidente de marketing, vendas e pós-vendas de caminhões e ônibus, Roberto Leoncini, explica que é muito difícil fazer uma previsão para 2016 com base no cenário econômico atual. No entanto, acredita que para o País voltar a crescer são necessárias medidas macroeconômicas para controlar a inflação e as elevadas taxas de juros (SELIC acima de 14%), como também o PIB com patamares maiores de crescimento para sustentar as vendas de caminhões nos próximos anos. “Para que possamos despertar novamente a confiança dos investidores, precisamos retomar o crescimento econômico, adotando medidas no presente que estimulem a sustentabilidade da produção/vendas”, opinou o executivo.

A Mercedes-Benz cresceu um ponto percentual em 2015, comparado a 2014. E, segundo o executivo, o resultado é fruto do forte trabalho realizado pela fábrica e rede de concessionários de ir às estradas e ouvir as demandas dos clientes. “A empresa intensificou as ações de demonstração de seus veículos nas operações dos clientes, para que eles comprovassem a rentabilidade dos nossos produtos. Além disso, a participação em eventos com grande concentração de transportadores foi ampliada para conhecer os desejos e as expectativas do mercado”, explicou.

A empresa também visitou diversas regiões do País com objetivo de entender a necessidade do mercado, e com base nessas informações lançou a linha de caminhões rodoviários Actros mix road, preparado para rodar na terra e asfalto. Outra ação foi ampliar a oferta de serviços através da rede de concessionários.

Este ano, o segmento de caminhões acima de 16 toneladas deverá sofrer redução de 10% em relação a 2015, estima Victor Carvalho, da Scania
Este ano, o segmento de caminhões acima de 16 toneladas deverá sofrer redução de 10% em relação a 2015, estima Victor Carvalho, da Scania

O diretor de vendas de caminhões da Scania Brasil, Victor Carvalho, acredita que este ano o mercado acima de 16 toneladas – fatia relativa aos semipesados e pesados e na qual a fabricante atua – deverá ser 10% menor do que foi em 2015. Para ele, um fator importante para o mercado de caminhões é a recuperação da confiança do transportador para que ele volte a investir. Para isso, alguns pontos são fundamentais; o empresário precisa confiar nos rumos da economia brasileira, que precisa reagir, e enxergar políticas mais claras do governo do ponto de vista fiscal.

“Em 2016, para enfrentar mais um ano difícil, estaremos em parceria com o cliente e a rede de concessionárias, que foi expandida para 126 pontos de atendimento, sendo 12 novos Serviços Dedicados, uma solução para reduzir custos e aumentar a disponibilidade da frota instalando uma estrutura dentro da empresa do cliente. De 2016 até 2018 investiremos mais R$ 50 milhões na rede”, explicou Carvalho.

Outra ação, acrescenta Carvalho, será divulgar como solução para aumentar a produtividade e a disponibilidade da frota, os dois novos caminhões apresentados em 2015: o cavalo mecânico rodoviário 8×2 (alternativa ao bitrem) e o semipesado de cabine estendida que carrega 400 quilos a mais de carga útil.

Do ponto de vista da estratégia comercial, neste ano a Scania vai trabalhar cada vez mais com propostas estruturadas, englobando produto, serviço, solução financeira e seguro, objetivando atender plenamente o cliente. “Apresentaremos também a alternativa do leasing operacional, alternativa de negócio que permite ao cliente obter todos os benefícios da proposta estruturada por meio do pagamento de uma só parcela mensal”, destacou.

O mercado é grande e existe uma demanda represada. O País tem condições para voltar a crescer se forem feitos os ajustes, afirma Ricardo Barion, da Iveco
O mercado é grande e existe uma demanda represada. O País tem condições para voltar a crescer se forem feitos os ajustes, afirma Ricardo Barion, da Iveco

O diretor de marketing da Iveco para América Latina, Ricardo Barion, acredita em uma leve melhora para os segmentos que registraram quedas expressivas, como o de pesados. “O mercado estará mais adaptado à nova realidade econômica. Apostamos no aumento das exportações e na retomada do crescimento do mercado brasileiro, o mais forte da América Latina e também um dos principais no mundo. Temos uma linha de produtos que atende a diversos segmentos do transporte, 40 anos de tradição e uma equipe altamente qualificada que manterá nossa operação como uma das principais da CNH Industrial no mundo”, afirmou.

Para Barion, o País tem todas as condições para voltar a crescer se forem feitos ajustes, isso porque o mercado interno é grande e existe uma demanda represada. “A Iveco irá continuará investindo no complexo industrial de Sete Lagoas/MG e aprimorando sua linha de produtos. “Esse movimento faz parte da estratégia da marca, independentemente do cenário político-econômico. Os investimentos em pesquisa, desenvolvimento, inovação e capacitação demonstram o compromisso que temos com o futuro da operação no País”, acrescentou.

A expectativa para 2016 é reforçar a participação nos segmentos leves, com a Daily, e avançar em fatias do mercado com produtos de alta qualidade, como as linhas Tector, Stralis e Hi-Way. Outra meta é aumentar a participação da marca na América Latina. “ Os clientes continuarão contando com uma linha de produtos que proporcione ótimo custo operacional e que ofereça ao mercado veículos aptos para atender a diversos segmentos do transporte. Nossa ideia é oferecer uma solução completa para a operação do motorista autônomo e do transportador”, concluiu.

Para Guilherme Ebeling, da International, a recuperação do mercado de caminhões  depende de incentivo à indústria e maior confiança do consumidor e investidores
Para Guilherme Ebeling, da International, a recuperação do mercado de caminhões depende de incentivo à indústria e maior confiança do consumidor e investidores

Para o presidente da International Caminhões, Guilherme Ebeling Neto, o ano de 2015 foi desafiador para a indústria e a crise econômica impactou em todos os setores da economia refletindo fortemente no mercado de caminhões. A previsão para 2016 é que seja um ano igual a 2015. O executivo acredita que a indústria fará os ajustes necessários para adaptar o ritmo de produção e estoque à demanda do mercado. “Ainda é precoce falar em estabilidade econômica. Acreditamos, que se ocorrerem medidas de incentivo à indústria, bem como a elevação do índice de confiança do consumidor e investidores, será possível uma recuperação econômica, industrial e, consequentemente, uma lenta retomada no mercado de caminhões”, destacou.

Este ano a empresa está adotando a mesma de 2015, quando decidiu suspender temporariamente a produção de caminhões de sua marca na fábrica de Canoas, como forma de ajustar os seus elevados estoques, e assim irá manter inalteradas as demais atividades do negócio no Brasil. “Este ano, manteremos todo o suporte aos concessionários e serviços autorizados, garantindo o bom atendimento a todos os clientes da marca. Também iremos reajustar os estoques para atender às necessidades do mercado”, explicou.

Continuaremos trabalhando com planejamento estratégico de longo prazo focados em produtos, serviços e inovações, diz, Flávio Costa, da Ford Caminhões
Continuaremos trabalhando com planejamento estratégico de longo prazo focados em produtos, serviços e inovações, diz, Flávio Costa, da Ford Caminhões

Para o gerente de vendas e marketing da Ford Caminhões, Flávio Costa, o setor de caminhões será igual a 2015, sem qualquer recuperação, devido a fatores amplamente conhecidos. Porém, ele afirma que a empresa continuará investindo para um cenário de médio e longo prazos. “A Ford trabalha com um planejamento estratégico de longo prazo com foco em produtos, serviços e inovações. Essas metas não se alteram. O que pode acontecer é a necessidade de haver ajustes e adequação de produção em determinadas situações”, explica.

Costa ressalta ainda, o fato da montadora ter lançado recentemente seis novos produtos com caixa de câmbio automatizada, a linha Cargo Torqshift. Ele adianta que já está programando lançamentos de novos produtos com versões de transmissão manual e maior capacidade de carga, para os próximos meses. “A nossa linha de caminhões dos segmentos do semileve ao extrapesado – que unem versatilidade, tecnologia e custo-benefício ao cliente – chegará a 34 modelos”, afirma. Ele acrescenta que a Ford Caminhões tem um dos mais amplos programas de serviço, distribuição de peças e pós-venda voltados especialmente para não deixar o caminhão parado nas oficinas.

Luís Gambim, da DAF, diz que previsão para 2016 é de crescimento das vendas de caminhões da marca e fechar o ano com participação de 5% entre os pesados
Luís Gambim, da DAF, diz que previsão para 2016 é de crescimento das vendas de caminhões da marca e fechar o ano com participação de 5% entre os pesados

A DAF Caminhões finalizou 2015 com mais de 70% de crescimento em relação ao ano anterior (foram 257 unidades em 2014 contra 443 em 2015). A previsão da empresa para este ano é de crescer mais ainda e superar as mil unidades vendidas. De acordo com Luís Gambim, diretor comercial da companhia, a expectativa é alcançar a marca de 5% de participação no mercado de caminhões pesados. A estratégia da empresa será a mesma praticada em 2015, com ações voltadas para crescimento e evolução no mercado nacional e foco no relacionamento com cliente.

“Para nós, é muito importante que nossos clientes saibam que somos uma marca que tem longos planos para o País e que viemos para ficar. Com os resultados podemos afirmar que estamos conseguindo nos firmar no mercado brasileiro”, disse Gambim. Ainda de acordo com ele, a empresa vai continuar focada em oferecer produtos de qualidade atrelados ao bom atendimento, isso desde a compra até o pós-venda. “Este ano temos um diferencial em relação ao ano anterior, o CF85, caminhão que lançamos no final de 2015, durante a Fenatran”, concluiu Gambim.

Bernardo Fedalto, da Volvo, estima queda nas vendas de pesados, mas destaca que se houver previsibilidade e confiança na economia o mercado retoma rápido
Bernardo Fedalto, da Volvo, estima queda nas vendas de pesados, mas destaca que se houver previsibilidade e confiança na economia o mercado retoma rápido

O diretor de caminhões da Volvo do Brasil, Bernardo Fedalto, explicou que 2016 será um ano difícil, durante o qual estima queda de até 15% nas vendas. “Nós da Volvo vamos focar bastante no pós-vendas para dar suporte e apoio aos clientes, com peças e serviços através, da nossa rede. E como forma de dar um retorno a eles, que nos apoiam, estamos com uma promoção na qual ao adquirir qualquer peça e serviço na rede de concessionário Volvo ele estará concorrendo a 36 automóveis, um modelo FH e um VM durante o ano de 2016”, destacou.

Outra ação da empresa será focar na venda de seminovos e avisa que tanto a rede quanto a fábrica estão comprometidas em criar mecanismos e situações que facilitem a renovação da frota. A empresa também irá disponibilizar o leasing operacional, modalidade que ao final do contrato – com diferentes planos – o cliente devolve o caminhão para a fábrica, como se fosse um aluguel.

“O mercado de caminhões tem uma característica de ser muito rápido nas reações quando há uma confiança e uma previsibilidade. Acreditamos que assim que houver definição, previsibilidade e confiança na economia, o mercado deverá retomar. 2016 será o ano das definições e 2017 teremos uma retomada gradual”, finalizou Fedalto.