Revista O Carreteiro – Após ter anunciado no final de outubro passado o retorno da linha F ao País, com os modelos F-4000 e F 350, a Ford pretende iniciar as vendas do modelo depois do segundo semestre deste ano. Por que está havendo esta demora?
Antonio Baltar Jr – Temos um programa de produção que segue várias etapas muito bem definidas, com todos os testes e certificações do produto. Estamos acelerando o programa de produção e já temos os protótipos prontos.
Revista O Carreteiro – A Ford está preparando um veículo totalmente novo e diferente ou vai seguir a mesma linha do modelo anterior. Você pode adiantar algumas das novidades?
Antonio Baltar Jr – Não vamos utilizar e nem temos nenhuma ferramenta do F-4000 antigo, o qual, quando descontinuamos a produção, os ferramentais já eram muito antigos. Preparamos uma ferramentaria totalmente nova para um caminhão totalmente novo, que será produzido em uma fábrica nova dentro da unidade de São Bernardo do Campo.
Revista O Carreteiro – Então foi necessário criar todo ferramental para o novo F-4000?
Antonio Baltar Jr – Sim, definimos que não adiantaria tentar recuperar as ferramentas e partimos para algo novo. Toda a parte de estamparia e fechamento da cabine é nova.
Revista O Carreteiro – Como você avalia o cronograma para o lançamento do veículo?
O processo está caminhando dentro do prazo estipulado?
Antonio Baltar Jr – Estamos a quatro meses do lançamento e dentro do prazo previsto, assim como a fábrica, que já se encontra adequada e entregando protótipos com nível de qualidade muito superior ao modelo anterior. Está tudo indo muito bem. Esperamos que quando iniciarmos a produção todos os colaboradores também já estejam treinados e dentro do ritmo para podermos fazer crescer o volume de produção.
Revista O Carreteiro – Qual a capacidade de produção da planta?
Antonio Baltar Jr – Não estamos divulgando volume de produção, mas temos uma demanda reprimida calculada. Conversamos muito com os clientes da F-4000 e isso nos levou a tomar a decisão de trazê-la de volta. Percebemos que mesmo tendo saído de linha há dois anos, os segmentos onde ela atua são ainda dominados pela própria F-4000 usada. Ninguém conseguiu entregar para esse consumidor o produto que ele esperava.
Revista O Carreteiro – Tem alguma novidade na linha em termos de ampliação da oferta de produtos?
Antonio Baltar Jr – A linha vai voltar exatamente como era antes, inclusive a versão 4X4. Temos alguns clientes específicos para este produto, como as empresas de eletricidade, por exemplo. Já estamos sendo procurados desde a Fenatran para anteciparmos a produção e atendê-los. Vale lembrar que o F-4000 é um caminhão com grande aplicação também na área rural.
Revista O Carreteiro – Durante o período que o F-4000 ficou fora de produção, os clientes do modelo devem ter procurado um veículo substituto. Você prevê alguma dificuldade para retomar este mercado?
Antonio Baltar Jr – Os clientes tentaram operar com outros caminhões, mas nenhum funcionou como esperavam para a aplicação que eles têm. Este é um segmento dominado pela Ford. Um cliente do setor eletricitário comprou 20 unidades quando soube que a F-4000 ia sair de linha, e deixou no seu galpão para fazer a troca da frota. Aliás, o modelo que expusemos na Fenatran no final do ano passado foi emprestado por este cliente.
Revista O Carreteiro – Que outros clientes para o modelo você tem em vista?
Antonio Baltar Jr – O Exército Brasileiro também compra F-4000 para fazer patrulhamento em regiões onde há necessidade de um veículo 4X4. Utiliza para o transporte de tropas e pequenos equipamentos. Temos muitos caminhões na Amazônia.
Revista O Carreteiro – A Ford acabou de divulgar o lançamento da nova linha F nos Estados Unidos com os modelos F-650 e 750. A nova F-4000 tem algo retirado desses veículos?
Antonio Baltar Jr – Os produtos que mostramos são protótipos para o mercado norte-americano. Já o F-4000 é feito para o Brasil. Temos nosso centro de desenvolvimento aqui no País e a plataforma é adaptada para o mercado brasileiro e sul-americano.
Revista O Carreteiro – Para quais países a Ford pretende exportar o F-4000?
Antonio Baltar Jr – Vamos exportar para Argentina, Chile e Venezuela. Estes são os principais, mas vamos abrir frentes em outros mercados onde a série F tem aplicação, como o Uruguai e Paraguai e outros mercados.
Revista O Carreteiro – Apesar da restrição aos modelos grandes nos centros urbanos, as vendas de caminhões leves apresentaram retração em 2013. Como você analisa esse fato?
Antonio Baltar Jr – O segmento de leves caiu em percentual, de 24 para 22%, mas em volume o segmento cresceu mil unidades (de 33.500 para 34.500). A queda aconteceu por causa do crescimento do extrapesado de 2012 para 2013. Quando um segmento cresce muito, outros perdem em percentual, mas o segmento de leves continua apresentando crescimento.
Revista O Carreteiro – E como tem sido o segmento de leves para a Ford?
Antonio Baltar Jr – A nossa grande sacada foi a liderança no segmento de oito toneladas, pois pela primeira vez nos últimos 15 anos conseguimos ficar à frente da MAN nesta faixa de carga. Foi um crescimento natural, passamos sem qualquer programa de queima de preço ou da margem do distribuidor. Apenas fruto da qualidade do produto. Nossos clientes dizem que este caminhão está indo muito bem no mercado.
Revista O Carreteiro – O que você tem a dizer sobre o Cargo 11.190, recente lançamento da Ford para 11 toneladas?
Antonio Baltar Jr – Este produto – que lançamos em dezembro do ano passado – é o nosso carro-chefe, a maior capacidade de carga no segmento de leves. Saímos na frente e o caminhão está indo muito bem. Estamos bastante satisfeitos e sabendo que há concorrentes também preparando seus modelos de 11 toneladas.
Revista O Carreteiro – Mas já existia no mercado brasileiro modelos na faixa de nove a 13 de PBT. Onde está o pulo do gato?
Antonio Baltar Jr – A gente tem notado que a robustez é muito importante também neste segmento, o caminhão tem de “aguentar o tranco”. Não adianta fazer um veículo e dizer que aguenta 11 ou 13 toneladas e o chassi torcer logo na primeira vez que se colocar um implemento. Tem muita confusão de que o caminhão leve tem de ser frágil. O cliente não quer isso.
Revista O Carreteiro – Em que aplicações tem atuado o Cargo 11.190?
Antonio Baltar Jr – Estamos entrando muito forte no segmento de bebidas. Temos recebido o retorno de alguns grandes frotistas de que este produto vai muito bem nesta aplicação. Com isso temos também boas expectativas de voltar muito forte para este segmento, que hoje tem os dois lados: o do caminhão pequeno para chegar até o bar, nos centros urbanos, e a distribuição rodoviária, na qual o transportador precisa de caminhão um pouco maior, trucado com plataforma baixa.
Revista O Carreteiro – E a linha extrapesada. Qual resposta a Ford já têm da atuação neste segmento novo para a empresa?
Antonio Baltar Jr – Nossa análise é de que estamos indo bem. Nosso produto é bem desenhado para o segmento 4X2 e 6X2, sentimos isso vindo dos frotistas. Por ser um segmento novo para a Ford estamos aprendendo com os frotistas que compraram nosso caminhão.
Revista O Carreteiro – E o que eles estão dizendo a respeito do desempenho?
Antonio Baltar Jr – O Cargo extrapesado tem se destacado muito na comparação com os concorrentes no quesito consumo de combustível. Isso era uma coisa que havíamos já visto nos testes com a engenharia e está se comprovando no mercado com números bem significativos, chegando até 10% na média de consumo em relação aos caminhões de outras marcas do frotista.
Revista O Carreteiro – A Ford tem algum programa de treinamento junto aos clientes para os extrapesados?
Antonio Baltar Jr – Temos um programa de test drive com os frotistas que se dispõem a testar o nosso extrapesado, principalmente o 6X2. Emprestamos o veículo por um período de 30 a 60 dias e a única coisa que pedimos no final é que ele nos passe a média de consumo de combustível do nosso caminhão versus os veículos da frota dele. É isso que faz vender o caminhão, o boca a boca. Enfim, nosso produto está indo muito bem e já vemos um crescimento no volume de vendas nos últimos meses. Mas sabemos que é um trabalho de médio e longo prazo, porque o frotista deste segmento só arrisca no certo.