Por Daniela Giopato

Enquanto algumas pessoas se programam para viajar, descansar e viver momentos agradáveis ao lado da família durante as férias de final e início de ano, os motoristas de caminhão se preparam para encarar um período de estresse e atraso na entrega das cargas. O motivo é simples, as estradas ficam com maior volume de veículos de passeio e o carreteiro passa a dividir o seu “local de trabalho” com motoristas menos experientes e sem conhecimento suficiente para entender as limitações e comportamento de um veículo pesado.

O Código de Trânsito Brasileiro diz em seu artigo 29, inciso XII, parágrafo 2 do Código de Trânsito Brasileiro, que os veículos de maior porte são responsáveis pela segurança dos menores. Portanto, a assessoria de imprensa da Polícia Rodoviária Federal, destaca que como motorista profissional, cabe ao carreteiro o uso da direção defensiva e a paciência com os condutores que estão em viagem, embora estes também tenham o dever de dirigir corretamente e de forma segura. Os carreteiros afirmam que justamente por conta de toda essa responsabilidade que eles têm, o desgaste físico é maior neste período, pois é preciso redobrar a atenção. Isso significa dirigir com mais cautela e principalmente se preocupando com os outros condutores, que muitas vezes parecem estar descompromissados com a segurança, desrespeitam a sinalização e o código de trânsito.

“Temos que estar atentos a tudo. Muitas vezes somos submetidos a fazer manobras arriscadas para evitar acidentes. Sou profissional e estou trabalhando, enquanto eles estão passeando. Por isso, me sinto no dever de garantir – de todas as formas – a segurança nas estradas”, afirma Gildazio Soares Gomes, 52 anos de idade e 26 de profissão, de Ibira/BA, faz a rota Recife/PE, São Paulo/SP e São Luiz/MA.

6520t
Temos de estar sempre atentos e muitas vezes fazemos manobras arriscadas para evitar acidentes, diz o carreteiro Gildazio Soares

Usuário com frequência de estradas federais, Gildazio afirma que o acumulo de veículos de passeio nas estradas nesse período do ano dificulta o trabalho dos carreteiros. O principal motivo, segundo ele, é o fato desses motoristas terem pouca experiência de dirigir em rodovias. Em sua opinião, é preciso aumentar a fiscalização para evitar os abusos como alta velocidade e ultrapassagens arriscadas.

Ele lembra de uma vez que um colega estava em Campos Sales/BA, sentido Nordeste e um carro de passeio fez uma ultrapassagem arriscada. Para não bater no veículo de passeio ele teve de desviar para o acostamento e veio a capotar. No acidente, o carreteiro quebrou o pescoço e morreu na hora. “Sei da nossa responsabilidade, mas acredito que todos os condutores devem ter a consciência da arma que tem na mão”, destaca.

6554t
O aumento de veículos na estrada durante o período de férias provoca atraso nas entregas e nos deixa mais cansados, afirma Joanito de Souza

Apesar de no final do ano muitos carreteiros optarem em viajar ao lado da família, Gildazio diz que prefere não arriscar, porque mesmo com todo o cuidado que tem, não está isento de cometer um erro. “Não vale a pena, prefiro fazer o meu trabalho e saber que minha família está em segurança”, afirma.

Joanito de Souza, 37 anos de idade e 16 de profissão, viaja o Brasil inteiro transportando frutas. Para ele, trabalhar no final do ano, em época de férias, significa mais estresse, paciência e cuidado. “Fica perigoso, afinal aumenta muito o número de veículos e de motorista com pouca experiência nas estradas. Todo esse cenário contribui para ficarmos mais cansados e também para a ocorrência de atraso na entrega das mercadorias”. Para evitar transtornos, ele opta em viajar durante a noite e antes de sair sempre se informa sobre os horários de maior fluxo de veículos.

6563t
José Roberto Silvério considera uma época boa para trabalhar, porque tem carga, mas diz que atitudes de motoristas de carro de passeio atrapalham

Apesar desse período ser um tanto conturbado, Joanito diz que procura manter a calma e ajudar os condutores de veículos de passeio, que na maioria das vezes, está viajando com a família. Ele conta que em uma ocasião estava descendo a Serra em Arapoti/PR e um automóvel cruzou na frente do seu caminhão. Mesmo tendo freado a tempo para evitar uma batida mais forte, o veículo foi arrastando por alguns metros. “Nesse dia realmente me assustei e decidi ir atrás do motorista que estava parado em um posto. O mais espantoso é que ele estava com mulher e filhos. Disse a ele para prestar mais atenção. Um absurdo”, desabafou. Ele ressalta que todo motorista profissional se sente na obrigação de dirigir por todos, e essa situação fica mais evidente no final do ano, quando o estresse aumenta muito. “Ainda bem que os caminhões têm muitos retrovisores e amplia a nossa visibilidade”, conforma-se.

Apesar do aumento de movimentação de veículos no período das férias, José Roberto Silvério, 63 anos de idade e 43 de profissão, de São Paulo, afirma que considera uma época boa de trabalhar, pois tem bastante carga. “Realmente, a única coisa que atrapalha é a falta de respeito, principalmente por parte dos motoristas dos carros de passeio. Eles querem chegar logo ao destino e fazem bobagens ao longo do caminho, principalmente nas ultrapassagens arriscadas”, explica. Silvério diz que costuma ajudar os condutores, fazendo a sinalização adequada, porém, afirma que muitos a desconhecem. “Chega a ser engraçado, dou seta para direita para ele ultrapassar e ele não vai, mas depois de alguns minutos resolve fazer a manobra, vai entender”, brinca.

6548t
Nós estamos trabalhando, mas os outros estão passeando. Essa relação entre caminhão e carro de passeio é complicada, reconhece José Vieira Oliveira

José Vieira de Oliveira, 60 anos de idade e 25 de profissão, viaja o Brasil inteiro, principalmente na região Nordeste. Para ele, viajar durante as férias é sinônimo de mais cansaço, perigo e atenção. “Nós estamos trabalhando, mas os outros condutores estão passeando com a família e essa relação entre o veículo pesado e o carro de passeio é complicada”, avalia. Pela sua experiência na estrada, Oliveira afirma que alguns motoristas têm medo do caminhão e por causa disso acabam tomando atitudes erradas, como andar na frente e frear de repente. Por outro lado, o carreteiro diz que também existem muitos motoristas de caminhão, principalmente entre os mais novos, que parecem não ter consciência do perigo de não respeitar as leis de trânsito e acabam provocando acidentes graves. “Por isso que eu acho que independente da época do ano, a fiscalização nas estradas deveria ser maior”, sugere.

Há 18 anos na profissão, o pernambucano de Caruaru, Cícero Florêncio, 41 anos de idade, que também viaja por todo o Brasil, diz que é muito complicado trabalhar nesta época do ano, principalmente pela tensão que os carreteiros sofrem. “É difícil andar em um mesmo espaço motoristas experientes, que estão trabalhando, e os condutores de carro de passeio que estão se divertindo, relaxando”, comenta. Florêncio lembra também que o excesso de veículos provoca também o atraso nas entregas.

6525t
Para Cícero Florêncio é difícil andar em um mesmo espaço motoristas experientes trabalhando e condutores que estão se divertindo

Diferente de seus colegas, o paranaense de Londrina Otávio Pereira, 64 anos de idade e 40 de profissão – atualmente morando em Arujá/SP-, aproveita o período das férias de final de ano para trabalhar com mais tranquilidade. A explicação é simples, Otávio opera com entrega urbana dentro da Grande São Paulo e enfrenta diariamente muito trânsito. “Nesta época a cidade fica vazia, é uma maravilha. Circulo livremente e sem o ritmo cansativo do anda e para. Todo o estresse vai para as estradas”, brinca.

Na condição de motorista experiente, quando o assunto é a relação com os carros de passeio, Otávio alerta que a receita é simples: paciência e muita atenção. “Tem que ter atenção dobrada, afinal temos mais experiência de volante e muitos condutores não têm ideia da dimensão do caminhão e se aventuram em manobras arriscadas. Somos profissionais, por isso devemos contribuir para promover maior segurança”, aconselha.

6545t
Otávio Pereira trabalha com entrega urbana e durante o período de férias fica mais tranquilo, porque o movimento de carros de passeio na cidade diminui

Otavio garante que a experiência de muitos anos de profissão fez com que ele tenha hoje uma relação mais saudável com os veículos de passeio. “Nem me estresso. Quando percebo os apressadinhos dou passagem e procuro manter distância razoável. Afinal para um caminhão carregado frear de repente é complicado”, finaliza.

Viagem segura
De acordo com a assessoria de imprensa da PRF o número de acidentes aumenta consideravelmente nesta época do ano, especialmente nas estradas de acesso ao Litoral e balneários. A imprudência dos motoristas, de acordo com as ocorrências registradas, é apontada como a principal causa dos acidentes de trânsito. O maior índice de fatores que incidem na ocorrência de acidentes de trânsito continua sendo a falta de atenção e o mal comportamento do motorista, agregado ao excesso de velocidade.

Os motoristas que se dispuserem a cooperar com o trânsito, para reduzir a violência nas estradas, devem permanecer atentos durante todo o tempo em que estiverem dirigindo e respeitar sempre as leis de trânsito, obedecendo e cumprindo as seguintes orientações:

•Respeito aos limites de velocidade
• Não dirigir sob efeito de álcool ou substância de efeito análogo
• Não ultrapassar em local proibido
• Utilizar o cinto de segurança (todos os ocupantes, inclusive no banco traseiro), bem como assento adequado para crianças
• Conduzir motocicleta com segurança e utilizar os equipamentos de proteção adequados
• Maior atenção ao trânsito de pedestre, especialmente nos aglomerados urbanos
• Manter distância segura do veículo da frente
• Planejar a viagem, saber onde serão feitas as paradas de descanso alimentação e abastecimento do veículo
• Cumprir a legislação de trânsito
• Descansar no mínimo 30 minutos para cada 4 horas de viagem ininterrupta