Por Evilazio de Oliveira

As baixas temperaturas que predominam na região Sul do País nesta época do ano fazem com que os carreteiros adotem cuidados especiais com seus veículos, sobretudo com o desempenho do motor e um possível congelamento do combustível nos tanques, nos dutos ou até mesmo nos filtros. Além do caminhão, também é preciso pensar em si próprio, com alimentação adequada, roupas mais quentes e reforço nos cobertores para quem dorme na cabine. Para quem está acostumado a trafegar nas regiões de frio intenso, ou para quem viaja para o Chile, as baixas temperaturas não assustam.

Apesar do diesel de inverno, a maioria dos estradeiros conhece truques para evitar o congelamento do combustível, tais como o uso de querosene misturado ao óleo numa proporção que varia de motorista para motorista. Outros apenas acrescentam algum aditivo ao tanque enquanto outros preferem o diesel aditivado. Todavia, o querosene domina a preferência do pessoal do trecho. Outro cuidado é com a temperatura do motor, que não deve baixar muito. Por isso, muitos caminhões trafegam com uma proteção de lona – ou mesmo papelão – na grade de ventilação, impedindo a entrada do ar frio. Porém, para aqueles que transportam para o Chile no inverno, essas precauções fazem parte do planejamento da viagem e já estão preparados, afinal, a travessia da Cordilheira dos Andes é uma aventura e tanto, conforme afirmam.

Para o carreteiro Antônio Gilberto Gomes da Silva, 49 anos e 30 de estrada, conhecido no trecho como Tigrão, a melhor maneira de conservar o motor é utilizando diesel aditivado ao menos uma vez por mês. Porém, quando a temperatura cai muito, ele costuma adicionar uns 20 litros de querosene para cada 600 litros de óleo, para evitar o congelamento do combustível. Adverte que essa mistura pode ressecar os bicos injetores, por isso o cuidado de pelo menos uma vez por semana acrescentar de dois a três litros de óleo lubrificante no tanque do bruto. Garante que o rendimento do caminhão melhora sem haver perigo de o combustível congelar. Ele é natural de São José do Herval, a 185 quilômetros de Porto Alegre/RS, dirige um Scania 112, ano 1986 e não se assusta com o inverno do Sul. “Está acostumado”, garante.

O carreteiro João Pedro Britto, 47 anos e 29 de estrada, dirige um Mercedes-Benz 1987 e viaja para o Chile nos meses de verão, pois, conforme afirma, cansou de passar apertos na travessia dos Andes durante o inverno”. Ele conta que usava anti-congelante misturado ao combustível e que sempre procurava trabalhar com o motor aquecido para evitar a troca constante de marchas. Agora, enfrentando o inverno gaúcho no trajeto de Triunfo/RS até Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, transportando polietileno, João Pedro não vê necessidade de usar aditivo ou querosene no combustível. Utiliza o combustível comum, mas tem cuidado especial com sua alimentação, procura vestir roupas quentes e ter cobertores de sobra para as ocasiões em que precisa dormir na cabine. “De resto, tudo bem, é só cuidar de manter bicos e filtros limpos e manter a temperatura do motor estável”.

Morador de Caxias do Sul, na Serra, Sérgio de Oliveira Almeida, 40 anos e 15 de profissão, está acostumado a enfrentar as baixas temperaturas que predominam no inverno gaúcho. Ele dirige um Mercedes- Benz ano 1999 de seu pai, José da Silva Almeida, e viaja para Uruguaiana/RS transportando polietileno ou para Santa Catarina, Paraná e São Paulo, dependendo do frete disponível. Acredita que o principal problema com o frio é o acúmulo de parafina nos bicos injetores, que acabam entupindo e prejudicando o rendimento do motor. Para reduzir a possibilidade de entupimento ou de congelamento do combustível nos dutos ou nos filtros, ele utiliza diesel aditivado “que não contém tanta parafina” e, preferencialmente, mistura querosene numa proporção de 10 litros de querosene para 100 de óleo. Com isso o motor puxa mais e ajuda a limpar os componentes das impurezas do combustível.

Lembra que até alguns anos atrás era comum ver caminhões que não “queriam pegar de manhã” por causa do frio. Acredita, no entanto, que além da possibilidade do combustível estar congelado, também havia a falta de conservação de itens como bateria, motor de arranque, bicos injetores limpos e filtros. Tem opinião de que se o motorista cuidar de todos esses itens com capricho, o caminhão vai corresponder em desempenho e economia. As indústrias petroleiras oferecem vários tipos de combustíveis e aditivos para serem usados no inverno e depende de cada um a decisão de usá-los ou não. “Ou do patrão, que prefere economizar na maioria das vezes”, afirma.

Na opinião de Adroaldo da Rosa, 35 anos, nove de volante que viaja para qualquer parte do País, o cuidado especial nos meses de inverno é apenas ao dirigir, como estar atento por causa da chuva, da serração e dos buracos na estrada. Natural de São Sebastião do Caí/RS, ele cuida principalmente da bateria, em razão do alto consumo causado pelo rastreador, rádio, faróis e luzes internas. A cada parada costuma “dar uma geral” no caminhão para ver se está tudo em ordem antes de seguir viagem. “Sempre tive muita sorte, graças a Deus”, admite. Adroaldo conta que aprendeu com o pai, também carreteiro, a só utilizar produtos originais no caminhão. E faz assim com o combustível, nada de misturas, mesmo no inverno mais rigoroso. Inverno que, segundo ele, faz com que esteja constantemente resfriado.

Outro carreteiro acostumado ao frio é Luciano dos Santos Correa, 31 anos e 12 de profissão, morador de Lages/SC, região conhecida pelas baixas temperaturas no inverno. Justamente por isso ele prefere viajar para o Norte e Nordeste do País nesta época. São viagens longas e quando volta para casa é por pouco tempo e não precisa utilizar aditivo ou querosene para evitar o congelamento do combustível. Todavia, nos cuidados diários com o caminhão, de vez em quando é preciso botar algum produto no tanque para ajudar na limpeza dos bicos. “Mas isso faz parte da rotina de manutenção” explica. Luciano dá gargalhadas quando lembra dos caminhões encrencados que já viu nas manhãs frias de Lages. Além do combustível congelado, acontece também a falta de manutenção, quase sempre com bateria velha ou com pouca carga e água congelada no radiador ou nas mangueiras. “Caminhão velho é uma desgraça”, lembrando que os modelos novos dispõem de mais recursos para impedir esses problemas.

O carreteiro José Alexandre Silva Pereira, 36 anos, 14 de boléia, é de Governador Valadares/MG, onde faz muito calor. Há cerca de cinco meses passou a viajar para o Sul e ainda não pegou muito frio, mas já foi advertido a respeito e garante que está preparado. Conta que numa dessas manhãs geladas viu um motorista sofrendo para fazer o caminhão “pegar”. “E olha que não estava tão frio assim”, ironiza. Por enquanto ele tem cuidado apenas de proteger o corpo contra o frio, pois com o caminhão tudo está bem, por enquanto.

O paulista Rodrigo de Oliveira Fidélis, 32 anos, 15 de boléia, ainda não enfrentou o tal frio de “renguear cusco” de que falam no Sul. Porém, como os pais moram em Florianópolis/SC, já está preparado. Segundo ele, neste inverno ainda não precisou adicionar querosene ao diesel, mas em outras ocasiões já fez essa mistura para ajudar na limpeza dos bicos injetores e dar uma força ao motor, não apenas por questão das baixas temperaturas. E quanto à saúde, Rodrigo garante que tudo está ótimo e encontra-se preparado para as baixas temperaturas do Sul: não bebe, não fuma, não usa rebites e alimenta-se bem. “Cuidando bem do caminhão e com a ajuda de Deus, tudo dá certo, mesmo no frio”, afirma.