Por Evilazio Oliveira

Para o transporte rodoviário internacional, a BR-290 que liga o litoral do Rio Grande do Sul à fronteira Oeste do Brasil, na divisa com a Argentina, é uma rodovia de extrema importância, apesar das limitações de ter pista simples numa grande extensão e das praças de pedágios. O grande fluxo de veículos pesados, principalmente na região metropolitana de Porto Alegre, é outro fator que causa problemas ao transporte. Enquanto isso, no lado argentino, as rodovias estão praticamente todas duplicadas, cumprindo o acordo de melhorias estabelecidas em negociações do Mercosul.

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De acordo com Celso Morais, da Polícia Rodoviária Federal, qualquer anormalidade, como acidente ou quebra de veículo gera congestionamento

O chefe do Núcleo de Registro de Acidente e Medicina Rodoviária e presidente da Comissão Regional de Educação para o Trânsito da 9ª Superintendência Regional da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no Rio Grande do Sul, Celso Morais, 39 anos e sete na atividade, lembra que a BR-290 é uma das mais importantes rodovias do Estado, fazendo a ligação do Litoral às fronteiras da Argentina e Uruguai, passando pela região metropolitana e centro. “É uma rodovia moderna, principalmente no trecho duplicado, de Osório a Eldorado do Sul”.

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Guilherme Boger, da ABTI, lembra do acordo, entre Brasil e Argentina, em 2004, que previa avanço na construção de uma auto-estrada do Mercosul

Morais destaca que há projeto do Governo Federal de duplicação também do trecho de Eldorado do Sul até Pântano Grande, melhorando a trafegabilidade e segurança no trecho. “A extensão duplicada da BR-290 é de 111 quilômetros, de Osório a Eldorado do Sul, e de Eldorado do Sul até Uruguaiana mais 518 quilômetros, de pista simples”. Salienta que em relação ao trecho Porto Alegre a Eldorado do Sul, onde as rodovias federais BR-116 e BR- 90 se sobrepõem e, por convenção esse pequeno trecho, em vez de adotar a denominação da BR de menor numeração, adota a denominação de BR-290.

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Apesar de ser uma rota bem sinalizada e importante ligação com a fronteira da Argentina, rodovia ainda tem pista simples com mão dupla de direção

De acordo com Celso Morais, o trecho mais complicado da rodovia é o da região metropolitana. “Mesmo que tenhamos pista duplicada, com até três faixas em cada sentido, temos uma concentração muito grande de veículos de todos os tipos, que acabam deixando o tráfego complicado, com momentos de congestionamentos”. Ele salienta que qualquer anormalidade, como acidente, obras ou mesmo a quebra de um veículo acaba facilmente gerando congestionamentos, mesmo fora dos horários de pico, devido ao intenso fluxo na região.

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O cegonheiro José Airton Correia não se queixa da estrada, mas destaca que a duplicação poderia resolver problemas de congestionamentos

Além disso – conforme explica – a existência de apenas uma ponte sobre o rio Guaíba, com o seu vão móvel, suscetível a elevações para a passagem de embarcações – interrompe o tráfego entre a pista leste, onde fica a capital, e oeste, fronteira e o acesso à zona central e sul do Estado se constituem num outro fator complicador. Lembra que está em andamento o projeto para construção de uma ponte maior e mais alta, não sendo mais necessárias as interrupções por conta da passagem de embarcações pelo rio.

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O trecho entre Porto Alegre e Eldorado do Sul é cansativo por causa do grande movimento de veículos na pista simples, opina André Oliveira

“Este e outros projetos de mobilidade devem ajudar a melhorar a trafegabilidade da região e de toda a rodovia”, afirma. O restante, até Uruguaiana, segundo ele, é bem sinalizado e o estado de conservação da pista de rodagem é bom, ressaltando que sempre haverá espaço para que se possa melhorar a sinalização vertical e horizontal, em parceria e integração com o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e concessionárias.

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Acostumado a trafegar em todo tipo de rodovias, Tiago Ramires Simon espera que ao menos os trechos mais críticos da BR-290 sejam duplicados

O gerente executivo da ABTI (Associação Brasileira de Transportadores Internacionais), Guilherme Mundstock Boger, assinala que de acordo com a Ata de Copacabana, resultado de uma reunião de trabalho no Rio de Janeiro entre os então presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, em 16 de março de 2004, os dois países se comprometiam a avançar na construção da Auto-Estrada do Mercosul. E, também, na concretização da Cotecar (Controle de Cargas), em Paso de Los Libres/AR, que teoricamente deverá facilitar os despachos aduaneiros no transporte internacional. Do lado argentino, as rodovias estão praticamente duplicadas, com apenas alguns trechos em obras, e a Cotecar quase pronta para ser inaugurada, enquanto do lado brasileiro os problemas persistem. Salienta que a ABTI está atenta ao assunto, cobrando das autoridades a duplicação da estrada, já que recursos existem.

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Ainda há muito que fazer em comparação ao que já fizeram os argentinos, cujas estradas estão quase todas duplicadas, afirma Luiz Fernando Baioco

Na opinião do carreteiro José Airton Correia da Silva, o Zé Batoré, 40 anos de idade e 19 de profissão, natural de São Francisco de Assis/RS, a rodovia é boa e não há maiores problemas. Ele costuma viajar entre São Paulo, Argentina e Chile, via Litoral. Salienta que os constantes problemas ao chegar a Porto Alegre, seguindo da fronteira, certamente seriam evitados com a duplicação da estrada. Porém, ele nãose queixa, acha que faz parte da vida  do estradeiro enfrentar esse tipo de dificuldade, fazendo com que dirija com mais atenção, apesar da inevitável perda de tempo.

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O carreteiro Enoir da Silva Castelan acha a estrada boa e bem sinalizada, mas aponta problemas de congestionamentos constantes nos trechos urbanos

Ainda sem muita experiência nesse trecho, o cegonheiro André de Oliveira, 32 anos e nove de profissão, natural de São Bernardo do Campo/SP, salienta que a viagem entre Porto Alegre e Eldorado do Sul, é cansativa para o motorista. Ele destaca como principal motivo o anda e para resultante do grande movimento de veículos na pista simples. “Por qualquer coisa tranca tudo e atrasa a viagem”, diz. Ele está a menos de seis meses na rota  Gravataí/RS a Rosário/Argentina, e considera que as estradas são boas de trafegar, em comparação com São Paulo, com problemas de restrição de trânsito e no Rodoanel. Em relação à BR-290, observa esses congestionamentos na saída de Porto Alegre. Cita que na Argentina há também problemas de estradas ruins e destaca um trecho de aproximadamente 30 quilômetros perto de Concórdia. No mais, tudo muito bom.

Na avaliação do estradeiro Tiago Ramires Simon, 26 anos, seis de profissão, natural de Orlândia/SP e atualmente vivendo em Quaraí/RS – o trecho da BR-290 entre Pântano Grande e a ponte sobre o rio Guaíba é complicado por causa do grande movimento de veículos, agravado pelos carroceiros que trafegam pelo local. Ele transporta arroz para o centro do País e muitas vezes segue para Rondônia, de onde retorna com madeira. Confessa que está habituado a todos os tipos de estrada, porém, ao comentar especificamente sobre a BR-290, afirma que espera ao menos que os trechos mais críticos sejam duplicados para melhorar o trânsito e evitar acidentes.

Luiz Fernando Baioco Madeira, 32 anos de idade e sete de volante, natural de Uruguaiana/RS, roda na rota São Paulo, Buenos Aires/Argentina, Montevidéu/Uruguai e Santiago/Chile, transportando “de tudo”. Diz estar acostumado a ficar até 25 dias no trecho e quando entra no Brasil – com destino a São Paulo – segue pela BR-290 a partir de Uruguaiana, até Osório, no Litoral gaúcho e ingressa na BR-101. Segundo ele, considerando que essa deveria ser a rodovia do Mercosul, ainda há muito a fazer em comparação com o que já foi feito pelos argentinos, cujas estradas estão praticamente todas duplicadas.

Ele acrescenta que no trecho entre Paso de los Libres a Buenos Aires, que faz parte da Rodovia do Mercosul, restam apenas duas ou três obras em execução e alguns poucos quilômetros ainda de pista simples. Baioco destaca também o trecho de Pântano Grande, nas proximidades de Porto Alegre, como o mais problemático pelo excesso de caminhões de cargas e das carroças com tração animal que trafegam pelo acostamento da pista.

Fazendo uma viagem entre Uruguaiana e Canoas a cada dois dias, o tanqueiro Enoir da Silva Castelan, 29 anos de idade, sete de profissão e há pouco mais de um ano nesse trecho, considera a estrada boa e bem sinalizada. Porém, ele não deixa de lembrar dos problemas a partir de Pântano Grande e depois na BR-116, onde os congestionamentos são constantes, agravando-se em horários de pico. Ele transporta combustível da Refinaria Alberto Pasqualini para o Posto Cristal, em Uruguaiana com um bitrem.

Apesar do tamanho do caminhão e dos dois tanques de combustível, não vê problemas, basta apenas dirigir com atenção e ficar atento aos veículos menores. Mas alerta que se acontece alguma batida ou carro quebrado na pista, para tudo. “Com pista simples e o movimento muito grande de caminhões do transporte internacional, transporte de madeira e de carvão das minas daquela região, além de ônibus e automóveis, daí complica tudo”, finaliza.