Por Nilza Vaz Guimarães

Quando o assunto é pedágio, a maioria dos carreteiros demonstra descontentamento, seja pelos valores cobrados ou falta de manutenção nas rodovias pedagiadas. Alguns concordam com as melhorias das estradas depois de concedidas, mas quando ocorre um reajuste nas tarifas, como aconteceu em dezembro de 2011, nas BRs-324 (a mais importante interligação estadual, Salvador à Feira de Santana, com extensão de 113,2 km) e a 116, de Feira de Santana à divisa da Bahia com Minas Gerais e extensão de 554,1 km, a insatisfação é geral entre os motoristas de caminhão.

Após o anúncio do aumento, autoridades baianas entraram com ação pedindo à Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT para fazer a ViaBahia Concessionária de Rodovias S/A, suspender o reajuste. Uma liminar judicial concedida pela 1ª Vara da Justiça Federal determinou o fim do reajuste da tarifa do pedágio na BR-324, dando, na ocasião, prazo de 48 horas para a Via/Bahia cumprir a determinação sob pena de multa diária de R$ 75 mil.

A concessionária acatou a decisão judicial proferida em caráter liminar e retornou as tarifas das praças de pedágio da BR-324 (Simões Filho e Amélia Rodrigues) para o valor anterior ao da correção, desde o dia 22 de dezembro de 2011. No entanto, manteve o aumento para o trecho da BR-116, no sentido Feira de Santana até divisa com Minas Gerais, cujos preços foram reajustados dia 14 de dezembro.

A tarifa para caminhão leve, ônibus, caminhão-trator e furgão com rodagem dupla passou para R$ 6,10, enquanto que para caminhões com reboque, caminhões-trator com semirreboque com nove eixos passou para R$ 27,20. De acordo com a concessionária Via/Bahia, os aumentos são necessários para a realização de obras de conservação e prestação de serviços como telefones, guinchos e ambulâncias.

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Para o carreteiro Wenceslau, há um exagero nos valores cobrados e na quantidade de praças de pedágio nas estradas da Bahia

“É um absurdo”, esbraveja o carreteiro pernambucano Wenceslau Passos Amorim, 61 anos, proprietário de um Mercedes-Benz 1113 baú ano 83, no qual transporta mudanças e cereais por todo o interior da Bahia e região de Recife/PE. Em sua opinião, as estradas na Bahia estão melhores, mas ele vê exageros na cobrança de pedágios. Cita como exemplo a existência de duas praças entre Salvador e Feira de Santana, em trecho inferior a 100 quilômetros; e também de haver sete praças entre Salvador e Vitória da Conquista, num trajeto de cerca de 500 quilômetros. “É um absurdo. É muito pedágio, mas mesmo assim é melhor pagar do que viver com o caminhão quebrado e com o pneu estourado a cada quilômetro”, opina Amorim.

Além dos valores e do número de praças de pedágio, o carreteiro reclama também da falta de postos de manutenção ao longo das rodovias. “Daqui para Feira, por exemplo, os quatro postos de abastecimento existentes deveriam ter área reservada para os caminhões pernoitarem gratuitamente, além de oferecerem serviços de banho gratuito”, sugere. Outra queixa é em relação aos preços cobrados nas lojas dos postos. Para ele são muito altos e fora da realidade de quem vive nas estradas. “O carreteiro chega a pagar R$ 4,00 por um pastel e R$ 2,80, pelo refrigerante”, reclama. Em sua opinião também deveria ter um posto de saúde para atendimento de emergência.

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Adolfo acredita que não deveria ser cobrado pedágio na BR-324, pois existem trechos sem acostamento, sinalização e socorro mecânico

“A gente paga pedágio, mas não é com satisfação não. Só deveria ser cobrado quando a pista estivesse totalmente pronta e recuperada”, acrescenta o carreteiro. Explica que o pior trecho, onde a velocidade máxima é de 50km/hora, está entre Amélia Rodrigues e Feira de Santana, mesmo assim tem de desembolsar quase R$ 5,00 de pedágio. Na BR-116, também de concessão da ViaBahia, Wenceslau transita sempre quando vai entregar carga em Vitória da Conquista, gastando cerca de R$ 50,00 com pedágio. Ele recebe pelo frete entre R$ 700,00 e 800,00. “Despesa com pedágio, mais o diesel, faz a conta. O que é que sobra?”, contesta. Para o carreteiro baiano Adolfo Garcia, 74 anos de idade e 52 anos na profissão, ainda carregando carga do Norte até o Sul do País, a condição das estradas no Brasil está melhor, mas falta ainda muita coisa, principalmente no Nordeste. Ele transporta máquinas e equipamentos para construção no seu MB L 1513, ano 84, nas rotas de Salvador para o Interior da Bahia, Porto Velho/RO, São Paulo/SP e para onde tiver carga. “Rodo muito nas estradas federais em todo o País, muitas delas pedagiadas, mas as do Sul não são como as do Nordeste”. Segundo Garcia, nas estradas do Sul do País o carreteiro encontra assistência médica em caso de acidentes, segurança em relação ao roubo de cargas e socorro mecânico, enquanto no Nordeste não tem nada disso. “Mesmo caro, vale a pena pagar o pedágio no Sul, mas aqui não, além do que, por lá as praças de pedágio contam com uma distância de no mínimo 100 km entre uma e outra. É tudo diferente”, comenta.

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Se o caminhão quebra na BR-116, na Bahia, o guincho só aparece 48 horas depois, reclama Manoel Bispo

Numa viagem de Salvador para São Paulo, diz ganhar R$ 1.500,00 e gasta R$ 400,00 só de pedágio. “Mas mesmo assim, imagine se não tivesse pedágio. Com a buraqueira nas estradas, o gasto com a manutenção seria muito maior, não daria nem para pagar o óleo da viagem toda e muito menos voltar para casa”, constata. Mas em relação ao pedágio da BR-324, acredita que não deveria ser cobrado, pois existem muitos trechos da estrada sem acostamento, sinalização e socorro mecânico. “A pista está melhor, mas toda remendada. Quando fiquei sabendo da paralisação contra o reajuste, torci para dar certo”, enfatiza. Já na BR-116, Garcia lembra que a concessionária só tem apoio em Vitória da Conquista. “Se o caminhão quebra na estrada, o socorro da concessionária leva o caminhão para o posto de apoio da ViaBahia e depois o carreteiro que dê um jeito de chamar um guincho ou um mecânico para verificar o que aconteceu”, se queixa. O carreteiro Manoel Bispo de Oliveira, 51 anos de idade, acreditava que as rodovias ficariam melhores quando fossem privatizadas, mas se decepcionou. Dono de um Mercedes-Benz 1620, ele transporta cargas em geral e petroquímicas, de Salvador para São Paulo e vice-versa, e considera o trecho pedagiado da rodovia BR-324, entre Milagres à Salvador, uma vergonha.

O que ele gosta mesmo é de trafegar na BR-116, mas não no trecho baiano da rodovia, e sim, no trecho paulista, que segundo ele, é conhecido como a Rodovia do Amor. Por ter uma boa conservação, bons postos de abastecimento, mecânicos ao longo da rodovia, os carreteiros apelidaram-na com este nome. “No trecho da BR-116 dentro da Bahia não tem rodovia. Se o caminhão quebra, só após muitas horas de espera chega um agente da concessionária. Ele coloca os cones de sinalização e o guincho só aparece depois de 48 horas. Isso mesmo, só tem um guincho para atender toda a rodovia. Mesmo assim, quando o guincho chega, leva o caminhão ao posto de abastecimento mais próximo e a partir daí o carreteiro que se vire”, relata.

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“Da cidade de Divisa Alegre até Salvador não tem acostamento nem sinalização, apenas cortam o mato. Só estão cobrando pedágio porque na Bahia todo mundo manda”, reclama. Ainda de acordo com Oliveira, se o caminhão quebra é necessário pedir a um colega da estrada para solicitar socorro quando ele passar por um posto de pedágio, porque a rodovia não tem sistema de comunicação. “A gente tenta conversar com o pessoal da concessionária, mas não dão ouvidos. A Polícia Rodoviária Federal também não colabora. É uma vergonha”, reclama. Seu maior sonho é que as estradas da Bahia sejam arrumadas, com acostamento e bom atendimento, porque hoje é só para constar no contrato. “Coitado de quem passar mal nestas estradas, pois além de ter apenas uma ambulância, não poderá contar com ela. “Estradas boas são Dutra, Castelo Branco, Bandeirantes e Fernão Dias, o resto é conversa”, conclui.

ESPAÇO APERTADO
Alan dos Santos Oliveira, filho do carreteiro Manoel Bispo de Oliveira, viaja sempre com o pai e aponta outro problema. De acordo com ele o espaço para o caminhão passar – ao lado das cabines de pedágio – é muito estreito nos postos da Via/Bahia. De acordo com ele, os veículos mal cabem nas vagas e por conta disso estragam os pneus e quebram o calibrador automático de pneus nas colunas laterais dos postos de pedágio, mal projetados. “Não sou contra o pedágio, mas e o IPVA serve pra quê?”, questiona.
OBRAS INTENSIFICADAS
Após a determinação judicial, as obras das BRs 324 e 116 foram intensificadas em sete frentes de trabalho. Até outubro de 2012, a concessionária deve concluir obras em 300 Km, em dois trechos considerados prioritários, e finalizar o total das duas BRs em 2014, como prevê o contrato de concessão. A duplicação do anel de Contorno Sul de Feira de Santana e a rodovia BR-116, entre Feira e o rio Paraguaçu – totalizando 83,67 quilômetros de extensão – têm prazo de entrega de dois anos a partir do início dos trabalhos. Atualmente estas rodovias são de pista simples e passarão a oferecer pistas duplas de duas faixas por sentido, acostamento e faixas de segurança. A velocidade regulamentada será de 100 quilômetros por hora, com classe 1A, reduzindo o tempo de viagem.
ATENDIMENTO A USUÁRIOS

As quinze Bases de Serviços Operacionais (BSOs), sendo três situadas na BR-324 e doze na BR-116, estão equipadas com banheiros femininos, masculinos e para portadores de necessidades especiais. Para registro de atendimento a usuários, a ViaBahia informa que disponibiliza, de forma gratuita, os telefones 0800-6000-324, para a BR-324, e 0800-6000-116, para a BR-116, 24 horas por dia, ininterruptamente.

Os serviços de atendimento ao longo do trecho contam com 16 viaturas de inspeção de tráfego, 11 guinchos leves, quatro guinchos pesados, duas unidades de suporte avançado (UTI’s), 13 unidades de resgate, quatro caminhões-pipa para combate a incêndio na faixa de domínio, três caminhões de apreensão de animal, cinco veículos de segurança viária e um veículo de supervisão de tráfego. Além disso, são realizados, diariamente, os serviços de conservação das rodovias, como catação de lixo, verificação dos elementos de segurança, limpeza e desobstrução de drenagem, reparos localizados e fiscalização de todo o trecho sob sua administração.