Por João Geraldo
Fotos: Divulgação

A busca por combustíveis mais limpos e renováveis como opção ao óleo diesel no transporte rodoviário, tem levado empresas de vários setores a pesquisarem novas alternativas com baixas emissões de CO2 e, se possível, mais econômicas. Um desses novos produtos é o etanol de segunda geração, cujo grande destaque é ser produzido a partir de resíduos agrícolas tais como palha de trigo, de milho ou bagaço de cana de açúcar, e que tem apresentando resultados bastante positivos, conforme atestam técnicos da Scania e da Clariant, empresa da área química com mais de 100 unidades espalhadas pelo mundo.

A parceria entre as duas empresas começou em meados de 2015 e desde então três caminhões Scania P-270 4X2 rodam 24 horas transportando produtos químicos dentro da unidade da Clariant em Suzano/SP, o maior complexo da Clariant na América Latina. De acordo com Celso Mendonça, gerente de desenvolvimento de negócios da Scania no Brasil, após um ano de operação, os Ecotrucks (conforme estão sendo chamados os veículos) confirmaram redução de 90% nas emissões de CO2 em comparação aos modelos utilizados anteriormente com motores movidos a diesel.

Martin Mitchell, gerente de desenvolvimento de negócios da Clariant para as Américas, diz que a designação “etanol de segunda geração” se deve ao fato do aproveitamento de resíduos da agricultura. Segundo ele, o processo biotecnológico, representado pela tecnologia sunliquid, é inovador para a fabricação de etanol celulósico a partir de resíduos agrícolas.

Mitchell explicou que durante o processo, o pré-tratamento – sem química – é utilizado com muita eficiência, e que a Clariant desenvolveu enzimas altamente específicas à matéria prima, as quais dividem a celulose e a hemicelulose em açúcares fermentáveis sob condições estáveis de processamento com alta produtividade. “A produção de enzimas (as quais são adaptadas a cada matéria prima) proporciona flexibilidade e reduz bastante os custos de produção”, adicionou.

Fábrica da Clariant em Suzano/SP
Fábrica da Clariant em Suzano/SP

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Ainda de acordo com o gerente da Clariant, na etapa seguinte um organismo de fermentação permite que os açúcares C5 e C6 sejam convertidos em etanol, aumentando em cerca de 50% a produção deste combustível. “O preço do etanol de segunda geração é menor do que o do etanol já conhecido e toda a tecnologia foi desenvolvida pela Clariant”, concluiu Mitchell revelando que a cada tonelada de bagaço seco se consegue obter 300 litros do combustível.

O etanol de segunda geração tem em sua composição 5% de um aditivo chamado de ED 95, também produzido pela Clariant. Esse produto ajuda a lubrificar o motor e torna o combustível mais próximo do diesel. Segundo o engenheiro de pré-vendas da Scania no Brasil, Emílio Fontanello, testes de campo com dois caminhões rodando com diesel e etanol apresentaram consumo de 1,68km/litro e 0,954 km/litro, respectivamente. “O rendimento do etanol fica entre 55% e 60% em relação ao diesel”, disse Fontanello, destacando que foi contratada uma empresa para fazer as medições de consumo.

Fontanello lembra que o motor ciclo diesel é mais robusto, tem maior rendimento e durabilidade. No caso específico dos Scania P-270, um engenho de 8,9 litros e cinco cilindros em linha, que estão rodando dentro da Clariant, a potência máxima chega a 270hp a 1.900rpm e torque máximo de 1.200Nm na faixa entre 1.100 e 1400rpm.

As modificações para adequá-lo ao etanol foram concentradas principalmente nas peças que têm contato com o combustível, sendo a maioria da parte de compressão. Os pistões, por exemplo, passaram da taxa de compressão de 18:1 (diesel) para 28:1 (etanol) e as unidades injetoras também foram substituídas por outras de maior vazão, além da troca também dos filtros de combustível.

E com etanol, o motor passou a atender os níveis de emissões operando com o sistema EGR de controle de emissões, sem o uso de Arla-32. A Clariant ainda não tem definida uma fábrica para a produção em escala comercial do seu etanol de segunda geração.