Texto Alessandra Sales
Uma característica comum a todas as montadoras é aprimorar o conhecimento de seus motoristas para torná-los cada vez mais especializados em caminhões, aptos a responder perguntas sobre os produtos e também conhecer a fundo o veículo. Desta forma encontram-se sempre preparados para realizar uma de suas funções, capacitar carreteiros, além de passar o melhor jeito de condução para obter do caminhão o máximo que ele pode oferecer com as novas tecnologias.
A Iveco, por exemplo, oferece o serviço do Top Driver, cuja equipe chega a treinar motoristas durante três dias. Juliano Guimarães da Costa, 37 anos, é um desses profissionais preparados para dar treinamento. Ele diz que tem notado a preocupação das empresas quando o assunto é qualificação. “Fico muito feliz quando dirijo caminhões modernos e ainda consigo passar conhecimento para outros profissionais. Isso contribui para que eu tenha muitas histórias para contar”, comenta.
Seu colega, também da Iveco, Alexsander Henrique Matos Nepomuceno, 29 anos,acrescenta que o motorista de teste dirige o tempo todo se auto-avaliando ao mesmo tempo em que o caminhão está sob sua avaliação contínua. Tem opinião de que essa forma de trabalhar é o que diferencia do motorista comum, que confia muito na máquina, e que em casos de não saber utilizar todos os recursos do veículo, faz crescer as imprudências nas estradas. “Este é o propósito do treinamento, incentivar o preparo dos motoristas em geral”, salienta.
Para Nepomuceno, hoje o mercado oferece maneiras para se dedicar mais à profissão, devido à velocidade das informações. “Por mais moderno e eficiente que seja o produto, é necessário conhecê-lo bem e saber utilizar os mecanismos tecnológicos envolvidos, para poder alcançar o objetivo esperado”, conclui.
Já na Mercedes-Benz, um dos integrantes do time de motoristas é João Moita, profissional de larga experiência na área. Com 59 anos de idade, Moita, como é conhecido no meio, dirige caminhão desde a década de 70, época que iniciou as viagens pelo Brasil. Atuou por 15 anos como piloto de provas para testes e, em seguida, partiu para demonstração ao cliente. Ao falar de seu trabalho e conhecimento, Moita afirma que realiza cerca de quatro testes por mês, além dos cursos de reciclagem, na montadora, a cada seis meses.
Quanto ao treinamento de motoristas, defende a importância, pois faz com que o condutor saiba tudo sobre o produto. “Em um caminhão com 16 marchas, por exemplo, nem sempre é necessário utilizar todas. Outro ponto importante, é que se não souber usar o freio motor ele desgasta”, ensina. Para ele, o papel desempenhado pelos motoristas depende também do investimento designado pela empresa, caso contrário, eles não renderão da forma que deveriam, por conta da falta de conhecimento e habilidade com as novas máquinas.
Reconhece que há empresas que têm como finalidade o aprendizado do funcionário e destaca a eficiência do treinamento com resultados claros na economia de itens do veículo, como o combustível, por exemplo. Por outro lado, destaca que às vezes um simples bate papo na estrada entre motoristas acaba virando aprendizado, que, na maioria das vezes, é aceito e colocado em prática, argumenta. Em razão disso, admite que há condutor hoje em dia que acompanha a evolução dos veículos de maneira gradativa.
Desde 2001 na Scania, o Master Driver Rogério Matheus, 51 anos, iniciou na montadora como mecânico e hoje cuida da frota de caminhões de demonstração. Viaja pelo Brasil para apresentar aos clientes os veículos e as novas tecnologias. “Acredito que atualmente 50% dos motoristas já tentam se adaptar às inovações dos caminhões, procurando se inteirar mais do assunto”, opina.
Para ele, atuar na profissão é ter “óleo diesel na veia”, pois além de gostar é preciso ter o mínimo de conhecimento mecânico do equipamento para apresentá-lo com segurança, sem contar a habilidade para conduzí-lo com prudência em vários tipos de estradas e terrenos. Lembra, ainda, que o motorista precisa ler o manual antes de guiar um caminhão, medida que evitaria a ocorrência de várias falhas por falta de informação.
Matheus diz que fez curso técnico na Argentina, realizado pela Scania, no qual teve a oportunidade de trocar informações e experiências com profissionais de outros países, da Suécia, por exemplo. “Acho pertinente empresas reciclarem os funcionários, até porque sempre haverá algo novo para testar”, diz. Ele cita, como exemplo, que de 100 demonstrações que realiza, apenas um grupo de 20 condutores consegue assimilar ou captar informações para guiar o veículo com segurança.
Apesar de dicas e conselhos trocados na estrada, o Master Driver da Scania lembrou que os motoristas antigos não gostam de recomendações, pois devido à experiência que adquiriram com o tempo de direção acreditam já conhecerem tudo. “Sempre que vejo uma imprudência e tenho a oportunidade de encontrar o motorista em um posto de serviço faço questão de parar para aconselhá-lo. Resta saber se o conselho servirá ou não”, finaliza.
Há mais de 20 anos na Volvo do Brasil, Vânio Albino, 47, começou sua carreira na Área de Controle de Qualidade, teve passagem pela Garantia (como Analista) e, em seguida, foi convidado a atuar no Centro de Formação Técnica, como Instrutor de freios, suspensão, chassi, direção e mecânica geral. Na época, a montadora havia criado o Programa de Treinamento para Motoristas, sendo que ele foi um dos pioneiros na atividade. Atualmente na área de Desenvolvimento de Competências, Albino afirma que os anos de experiência são decisivos na hora de classificar um bom motorista. “Além de bagagem profissional, é extremamente fundamental manter o aprendizado dos funcionários sempre atualizado e a Volvo é a responsável direta pelo treinamento de todos os seus instrutores”, esclarece.
Para justificar as falhas cometidas geralmente por motoristas de caminhão, o profissional citou o famoso “ganhar tempo na descida para não perder velocidade na subida”, além de manobras bruscas e ultrapassagens perigosas, em razão dos prazos apertados para a entrega da carga. Em contrapartida, confessa, há bons motoristas que conhecem o equipamento e sabem utilizá-lo. “A situação anda mudando e o motorista tem procurado se informar cada vez mais para obter segurança, economizar combustível e reduzir tempo e gastos com manutenção, entre outros. Neste caso, adquirir conhecimento nunca será demais, pelo contrário, será sempre bem-vindo”, conclui.