Por Evilazio de Oliveira

Para o estradeiro, a utilização do celular continua sendo a principal alternativa para a comunicação com a empresa ou familiares. Isso apesar das inevitáveis ocasiões em que o aparelho fica “sem sinal”, uma característica das regiões mais afastadas dos centros urbanos. Todavia, nesses casos, a opção é seguir viagem até encontrar um posto de serviço ou uma localidade com telefones públicos, os conhecidos orelhões. O rastreador via satélite e que permite a comunicação via teclado com a transportadora, ou com a empresa que faz o monitoramento do veículo, não tem sido muito usado para a solicitação do envio de mensagens particulares.

Telefone ou e-mail são os principais meios que Paulo Juarez Camoretto prefere utilizar para se comunicar com a família, porque considera o custo menor
Telefone ou e-mail são os principais meios que Paulo Juarez Camoretto prefere utilizar para se comunicar com a família, porque considera o custo menor

Já o rádio PX, por sua vez, continua imbatível entre os estradeiros, mesmo nos casos sem a devida legalização exigida pelo Ministério das Comunicações. O carreteiro Paulo Juarez Nunes Camoretto, 52 anos e 30 de profissão, costuma operar no transporte internacional, principalmente para Buenos Aires/AR pela facilidade em se conseguir cargas e melhor remuneração. Além de ficar mais perto de casa -em Uruguaiana/RS, na fronteira do Brasil com Argentina. Ele mandou instalar um rastreador no caminhão no início de 2009, com um investimento que considera alto, porém necessário. Acredita que além da segurança para o estradeiro, o rastreador também facilita para determinados tipos de cargas, que pelo alto valor, o embarcador exija mais segurança, embora isso não signifique diferença no valor do frete, acentua. Quando viaja, Paulo Juarez costuma se comunicar com a família todas as noites por telefone ou e-mail. Lembra que as ligações telefônicas da Argentina são baratas e em quase todos os postos de combustíveis existem cabines públicas com telefones e acesso à internet. Por isso, o rastreador só é utilizado para se comunicar com a empresa para dar as informações solicitadas, como a localização e como a viagem está transcorrendo. Não tem rádio PX no caminhão, mas pensa em adquirir um aparelho “mais adiante, quando a situação folgar”.

Odaldo Vassallo Soares planeja comprar um rastreador e também instalar um rádio PX na cabine, prefere o telefone celular para falar com a família
Odaldo Vassallo Soares planeja comprar um rastreador e também instalar um rádio PX na cabine, prefere o telefone celular para falar com a família

O autônomo Odaldo Vassallo Soares, 54 anos e 33 de estrada, dirige pelas estradas do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, ou para onde tiver carga, como diz. Para a comunicação com as empresas para as quais transporta ou para a família, esse gaúcho de Santana do Livramento utiliza o telefone celular – ou, em caso de falta de sinal – procura um telefone público. Ele planeja comprar um rastreador no ano que vem e também instalar um rádio na boléia para se distrair um pouco. Mas, rádio PX seria a última opção, pois o pessoal do trecho fala muita bobagem, pouca coisa que se aproveite, além da burocracia para legalizar o aparelho, conforme salienta. Lembra que muitas empresas exigem que o caminhão tenha rastreador, que dá mais segurança para a carga transportada e mesmo para o carreteiro. Acredita que o sistema é de muita utilidade, mas apenas para as comunicações com a empresa, assuntos de trabalho. “Assuntos particulares se resolvem com o celular ou telefone público”, acrescenta.

Rádio PX e telefone celular são bastantes utilizados por Fabiano Arend que também não utliza o sistema de rastreamento para enviar mensagens para casa
Rádio PX e telefone celular são bastantes utilizados por Fabiano Arend que também não utliza o sistema de rastreamento para enviar mensagens para casa

Transportando todos os tipos de cargas e principalmente para estados do Nordeste, Fabiano Arend, 29 anos e quatro de profissão -, utiliza bastante o rastreador, o rádio PX e o celular durante as viagens. Ele e a empresa para a qual trabalha, a Antonini e Gambioni Ltda. são naturais de Dezesseis de Novembro/RS – município de quatro mil habitantes localizado a cerca de 450 quilômetros de Porto Alegre. E, como todos se conhecem, as notícias correm rápido, salienta. Ao se comunicar com a empresa via rastreador, logo parentes, amigos e familiares saberão que tudo está indo bem na viagem e que ele está em determinado lugar. “Portanto, não é preciso usar o rastreador para mandar recados para familiares”, explica. À noite, quando os assuntos são mais pessoais, utiliza o celular. “Principalmente para falar com a noiva, que é capixaba”, afirma sorrindo. E, quanto ao rádio PX, considera essencial e de grande utilidade. Isso apesar das bobagens que a maioria fala ao microfone. Quando isso acontece é só trocar de canal. Mas, o importante é que quando é preciso, os colegas de estrada são de muita utilidade para informações sobre o trecho, eventuais acidentes, tempo, fretes, barreiras policiais… E, para se manter informado sobre política, economia e sobre a atuação do seu time do coração, o Grêmio, Fabiano ouve o noticiário pelo rádio. Ao final, considera que em termos de comunicações na estrada, está muito bem servido.

Apesar da "falação", o rádio PX é uma forma de segurança, pois numa emergência se tem a quem recorrer, opina Alan Ribeiro
Apesar da “falação”, o rádio PX é uma forma de segurança, pois numa emergência se tem a quem recorrer, opina Alan Ribeiro

Os irmãos Arli e Alan Ribeiro Rodrigues, naturais de Alegrete/RS, sempre que possível viajam juntos. Alan tem 30 anos, seis de estrada e dirige um Scania 93 no transporte internacional. Tem um rádio PX na boléia e gosta de conversar com os colegas durante as viagens. Apesar da grande “falação”, de vez em quando surge alguma coisa de útil, além de ser uma forma de segurança para o motorista, pois numa emergência tem a quem recorrer, salienta. Ele utiliza dois celulares, um habilitado na Argentina e outro no Brasil, já que as ligações de lá para cá são mais baratas em razão da cotação do peso. À noite costuma ligar para a esposa Fabiana e o filho Vinicius, de quatro anos, para “matar as saudades”. Também utiliza o celular ou telefone público para se comunicar com a empresa, sempre que necessário. O irmão, Arli Ribeiro Rodrigues, 24 anos, dois de profissão e começando agora ao volante, já tem na cabine rádio PX e rastreador. Antes, dirigia outro caminhão, que agora ficou com o irmão Alan. Confessa que ainda não deu para experimentar na prática o uso do aparelho, mas garante que já aprendeu tudo com algumas instruções básicas. Acredita que para quem conhece um pouco de informática, tudo fica mais fácil. Segundo ele, o rádio PX é fundamental para o carreteiro. Lembra que, recentemente, em São Paulo, foi orientado sobre como chegar ao seu destino através do rádio, por colegas que lhe davam instruções sobre o melhor caminho a seguir. Além disso, tem utilidades para avisos em relação às condições das estradas, acidentes e qualquer tipo de emergência. Antes do caminhão com rastreador, Arli se comunicava com a empresa ou com os familiares por mensagem de texto pelo celular, por questão de economia. Mesmo assim, por celular ou telefone público, costuma ligar para casa. “Para dar e saber notícias”. Acredita que não tem problemas de comunicação na estrada, apesar de alguns pontos sem sinal de celular ou precisar rodar um pouco mais para achar um orelhão ou um cyber, conclui.

Arli Ribeiro já foi orientado como chegar no seu destino, através de rádio, por colegas que lhe davam instruções sobre o melhor caminho a seguir
Arli Ribeiro já foi orientado como chegar no seu destino, através de rádio, por colegas que lhe davam instruções sobre o melhor caminho a seguir