Por Daniela Giopato

O número de acidentes nas rodovias brasileiras aumentou significativamente nos últimos anos. Dados do Departamento da Polícia Rodoviária Federal mostram que entre janeiro e setembro de 2007 foram computados 92.671 ocorrências que resultaram em 5.157 mortes. A média mensal aumentou 9% em relação ao mesmo período do ano passado, e deixou registros de 112.788 acidentes e 6.168 mortes. E o pior: a imprudência dos motoristas continua sendo apontada como uma das principais causas da falta de segurança.

De acordo com o chefe do departamento de medicina ocupacional da Abramet – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dr. Dirceu Rodrigues Alves, 92% dos acidentes são causados por falha humana impulsionada por fatores orgânicos, tais como hábitos alimentares, cigarro, álcool, obesidade; uso de medicamentos incorretos como analgésico, anfetamina, que gera sonolência e falta de consciência; e o próprio ambiente de trabalho, que resulta na fadiga e estresse.

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Trafegar em velocidade segura, de acordo com as condições do tráfego e da estrada ajudam a evitar acidentes, acredita o carreteiro Hugo Felismino

Além da preocupação com a manutenção do veículo, Dr. Dirceu acredita que algumas mudanças por parte dos motoristas são essenciais para a redução de acidentes. “As principais atitudes são os cuidados com a saúde, que envolve uma boa alimentação, horas suficientes de sono antes de iniciar a atividade, redução da jornada de trabalho, com pausa a cada duas horas, e exercícios físicos durante as paradas”, sugere.

Aliás, de alguns anos para cá, os carreteiros começaram a mudar de comportamento e deixaram para trás velhos costumes da estrada, que cada vez mais perdem espaço entre os motoristas, principalmente diante das orientações de profissionais de saúde e das novas tecnologias incorporadas aos caminhões pelo setor do transporte rodoviário de cargas, tais como motor eletrônico e os sistemas de monitoramento e rastreamento, além de veículos mais confortáveis. Em outras palavras, passou a ser mais consciente, embora a própria categoria saiba que ainda resta um trabalho grande a ser feito para que os acidentes sejam reduzidos nas estradas.

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Danilo Costa lembra que o motorista tem de ter sempre em mente que o caminhão está sempre com carga é mais difícil de parar em situações de emergência

O carreteiro Danilo Costa Rezende, de Amargosa/BA, por exemplo, tem mais de 10 anos de profissão e diz nunca ter se envolvido em acidente. O segredo, segundo ele, é andar sempre em velocidades entre 80 e 90km/hora e manter distância do veículo da frente. Para Rezende, o motorista tem que ter sempre em mente que o caminhão é grande e normalmente carregado, condição em que é muito complicado frear bruscamente. “Por isso manter a distância é tão importante”, afirma.

Danilo transporta carga química de São Paulo para o Nordeste e explica ser muito importante a revisão a cada retorno de viagem. Além disso, a empresa não permite que se trafegue depois das 22h, para evitar que o motorista dirija cansado e cause um acidente. Se por um lado a atenção com o caminhão e a segurança estão em dia, Danilo admite ter abandonado o cuidado com a saúde. “Confesso que há muitos anos não faço exames médicos. E para piorar ainda fumo. Sei que estou errado, afinal posso me sentir mal enquanto dirijo, mas por enquanto está tudo bem”, avalia.

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Falta de maturidade e atitudes irresponsáveis, como dirigir com sono, colocam a vida de outras pessoas em risco, reconhece o veterano Valdeci dos Santos

Hugo Felismino, Amargosa/BA, 37 de idade e seis de profissão, faz a rota São Paulo e Salvador com todo tipo de carga e concorda com o colega Danilo. Um dos principais fatores para evitar acidentes na estrada é manter uma velocidade segura, que ele considera entre 70 e 80km por hora. Outra medida é fazer a manutenção todas as vezes que o veículo retorna à empresa, ou antes de sair, caso seja necessário. “Apesar de todo o cuidado que temos, para mim um dos grandes problemas são os automóveis de passeio que vão para a estrada de final de semana. Os motoristas não estão acostumados com alguns trechos e acabam prejudicando a viagem e até mesmo causando um acidente”, diz.

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Anástacio de Oliveira já tombou um caminhão por problema no sistema de freio e hoje diz ter carta branca para solicitar serviços de manutenção

A imprudência e o cansaço também foram apontados por Hugo como fatores que contribuem para o aumento de acidentes. “Já peguei estrada com muito sono. É horrível. Você perde a noção de tempo, lugar. Cochilei o tempo todo, tive sorte de não ter acontecido nada. Na época eu transportava frutas e tinha horário”, lembrou.

Diferente do colega, Hugo visita o médico a cada seis meses para se prevenir das doenças comuns entre os motoristas de caminhão como diabetes, pressão alta. “Não fumo, bebo socialmente e procuro sempre me alimentar bem evitando gordura, afinal estou fora do peso. A única coisa que poderia melhorar é fazer exercício. Mas depois de uma longa viagem, o que mais quero é descansar”.

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Revezamento do volante com o irmão e manutenção preventiva são as armas de Mauro Sperandio para manter a segurança nas estradas

Com vinte anos de profissão, Valdeci dos Santos confessa que já viajou muito com sono e que se sente culpado, porque poderia ter causado acidentes graves. “Com o tempo percebemos o quanto estas atitudes são irresponsáveis, pois colocam em risco a nossa vida e a de inocentes. É falta de maturidade. Hoje quando me sinto cansado paro, tomo um banho, cochilo uns minutos e se me sentir preparado sigo em frente”, relata. Usar rebite foi outra atitude imatura do carreteiro. Ele diz que a experiência foi péssima e única, porque se perde a noção de tudo, fica sem reflexo e ainda por cima, no seu caso, provocou uma ressaca muito forte no dia seguinte”.

Outras medidas de segurança utilizadas por Valdeci é manter a distância do veículo da frente e fazer uma revisão todas as vezes que chega de viagem. Tem opinião de que a falta de manutenção é um dos grandes vilões da estrada. As pessoas não entendem que o quanto antes fizerem a manutenção, menos gasto e dor de cabeça terão. “Imagina ficar sem freio ou mesmo ter que trocar o motor?”, questiona.

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Antes de cada viagem, Valdivino Batista faz uma checagem geral no caminhão e se começa a sentir sono na estrada pára e descansa para retomar a viagem

Outro ponto levantado por Valdeci é a dificuldade para rodar dentro da cidade no final de semana, porque aumenta o número de carros de passeio em circulação e nem todos os motoristas sabem dos limites do caminhão, que é um veículo pesado e de ações lentas. Sem seguro do seu caminhão, do qual faltam ainda duas parcelas para quitar, resta ao carreteiro ter mais cuidado ainda com a segurança e a atenção redobrada na estrada, para não colocar em risco o seu principal meio de sustento.

A falta de manutenção do sistema de freio levou o baiano de Iaçu, Anastácio de Oliveira, 37 anos de idade e 20 de profissão, a tombar com o caminhão na tentativa de evitar um acidente de grandes proporções. Ele conta que na época, a empresa onde trabalhava só queria economizar e fazia a revisão do caminhão em qualquer lugar. “Há 13 anos dirijo com muita segurança. Estou em uma empresa que me dá carta branca. Se falo que precisa ir para a revisão tenho autorização. Depois apresento a nota de despesa”, acrescenta. Diz que todas as vezes que pára em algum posto de serviço aproveita e dá uma olhada se tudo está em ordem e aproveita para corrigir pequenos problemas.

Quanto à saúde, Anastácio diz ter os mesmos cuidados. Afirma estar com tudo em dia. “Faço exames, estou sempre disposto e procuro me alimentar da melhor forma possível e bebida só quando estou em casa relaxando”. O carreteiro confessa que já fez algumas loucuras quando era mais novo. Entre elas dirigir com sono quando as cargas eram com horário marcado. “Em uma dessas viagens parei com o caminhão no meio do mato. Depois do susto decidi dirigir sem pressa e sem sono para evitar acidentes”, conclui.

Apesar de ter apenas um ano de profissão, Mauro Sperandio, 28 de idade, de São Paulo/SP, acredita que a imprudência de alguns motoristas é a principal causadora de acidentes. Filho de carreteiro, Mauro divide com o irmão a direção do seu caminhão e garante que sabe o valor do bem que possui. Por isso não abre mão de uma direção segura e de estar sempre com a manutenção em dia. “Acho que deveria haver mais fiscalização. Tem muito motorista irresponsável que bebe, usa rebite e pega a estrada”, alerta.

Mauro faz a rota São Paulo e Salvador e para ter mais segurança reveza o volante com o irmão. Desta maneira, nenhum dos dois se sente cansado e a viagem fica mais tranqüila. “É bem melhor assim. Ninguém se esforça demais e sobra tempo para descansar depois do almoço e da janta. O caminhão é o nosso maior bem. E como não temos seguro, se acontecer qualquer coisa será um grande prejuízo”, diz. Ele lembra que ser motorista de caminhão é uma profissão de muita responsabilidade e não deve ser tratada como uma aventura. Para evitar imprevistos na estrada, Mauro diz fazer a manutenção com freqüência e em locais conhecidos.

Dirigir por todos é a solução que Valdivino Batista da Gosta, 32 anos de profissão e 51 de idade, da cidade de Goiânia/GO, encontrou para evitar se envolver em acidentes. Ele diz que antes de cada viagem faz o check-up de alguns itens que considera ser os principais, tais como os pneus, o câmbio e sistema de freio. Apesar de ser empregado, tem todo o apoio e confiança da empresa para opinar sobre as condições do veículo e solicitar possíveis reparos. “Dirigir exige atenção. Então não bebo e muito menos pego uma estrada cansado. Já tive uma experiência ruim, então hoje quando o sono bate eu paro, lavo o rosto, tomo um café, descanso antes de seguir em frente. Tenho dois colegas que por insistirem em dirigir cansados morreram em acidente. Sou casado e tenho filhos, penso muito na família e em Deus”, finaliza.