Item de grande peso nos custos da operação de transporte, os pneus sempre receberam cuidados por parte do motorista autônomo, porém, com as dificuldades enfrentadas na atividade cada vez maiores, a atenção sobre esses componentes, sobretudo na hora da troca, passou a ser maior nos últimos anos
Quem é do trecho sabe, a relação entre o caminhoneiro autônomo e o pneu do seu caminhão é de extremo cuidado. E não é para menos, pois trata-se de um dos itens de maior custo na sua operação. E a situação se torna mais delicada ainda quando se sabe que o prejuízo com a perda total ou parcial desse item pode vir de uma hora para outra ao trafegar em certas estradas do País, onde a falta de manutenção e o excesso de buracos obrigam o motorista a andar em ziguezague na pista para preservar os pneus, alinhamento e balanceamento e evitar a quebra de molas.
Para sobreviver nesse longo período difícil em que o combustível e a manutenção são custos que consomem o frete do autônomo, os pneus, que habitualmente sempre foram motivo de cuidados dos motoristas, passaram a receber mais atenção ainda. Calibragem controlada e até o uso mesclado de determinada marca na dianteira ou na tração, evitar manobras e trechos de pistas ruins, passaram a ser meios que autônomos recorrem na tentativa de aumentar a vida útil e de preservar os pneus.
A busca por produtos com preços mais em conta também faz parte do pacote de soluções dos autônomos para prosseguir na atividade. O veterano Gilmar Kumpel, 52 anos de idade, de Lagoa dos Três Cantos/RS, por exemplo, conta que hoje sua opção são os pneus importados. “São mais baratos, consigo comprar por preços entre R$ 700 e R$ 750,00. De outro jeito não consigo colocar o caminhão para rodar”, disse o carreteiro. “Tem pneu de marca que não aguenta muito. Por outro lado, tem produto importado que dura mais que os nacionais”, acrescentou.
“Antes, para escolher o pneu a gente levava mais em conta a durabilidade, a marca nem tanto, mas hoje não é nenhuma coisa nem outra. É o preço, por isso estou indo para os importados, que custam menos da metade do preço”, disse o carreteiro ao fazer o comparativo com o valor de venda de um determinado produto produzido no Brasil. Kumpel acrescentou que sabe bem que um pneu importado roda até 40 mil km a menos, mas afirma que para ele compensa.
Acrescentou que considera muito alto o preço dos pneus, por isso procura mantê-los na calibragem correta, com 115 libras na dianteira e 120 libras na tração e na carreta. Outros cuidados como manobras em postos também são evitadas ou feitas com cuidado e quanto menos estradas de terra pegar melhor, conforme relacionou. Em sua opinião os pneus brasileiros de marca vão melhor em um posição do que em outra, ao citar que a marca A vai melhor no eixo dianteiro, enquanto a marca B (mais borrachudo, segundo o carreteiro) é melhor na tração.
O também autônomo Cláudio de Oliveira Bandeira, de Pelotas/RS, tem opinião diferente de seu colega gaúcho quanto ao preço dos pneus, pois para ele não são tão caros ainda. Ele, que disse evitar passar por cima de calçadas e objetos que possam causar algum dano à banda de rodagem ou à carcaça, disse que consegue perceber a diferença entre pneus quando uma marca é melhor que outra.
Bandeira que citou duas marcas de sua preferência e garantiu que preço não influencia na sua escolha, o que leva em conta é a durabilidade e a quilometragem que os pneus alcançam. Quanto a pneus recauchutados, afirmou que não tem o hábito de usar em seu caminhão.
O autônomo Jader Lopes de Magalhães, 57 anos de idade, de Jacarepaguá/RJ, e mais de 30 anos de experiência na profissão, também destacou que a despesa com pneus está entre as maiores de sua operação, especialmente agora que tudo está mais difícil para quem vive da atividade. Assim como todo bom profissional que procura tirar o máximo do caminhão sem extrapolar os limites do veículo, Jader disse que usa radial de uma marca na tração e de outra no eixo direcional. Sobre qual produto comprar para seu caminhão, contou que aderência na pista e durabilidade do pneu são fundamentais para ele decidir qual marca e produto comprar.
Já o mineiro de Delfim Moreira, Carlos Magno Fortes, 32 anos de idade e 11 de estrada disse que leva em conta a propaganda de boca a boca e informações de pessoas que utilizam uma marca para decidir pelo produto, mas dando prioridade sempre à qualidade. Ao revelar a sua marca preferida ele acrescenta que todos seus amigos do trecho a utilizam, porque o pneu é melhor e dura mais. Fortes finaliza dizendo que alinhamento dos pneus faz somente quando dá e que procura manter a calibração e evitar contato com o meio fio.
Fidelidade à marca é uma das características de muitos motoristas, especialmente os mais rodados, como é o caso de Antônio César Camelo dos Santos, de Fortaleza/CE. Aos 53 anos de idade e 30 anos na profissão, ele afirma que usou sempre pneu do mesmo fabricante por entender que o produto entrega o resultado que ele precisa. “O que o pneu oferece contribui no desempenho do caminhão. Não usar pneu de uma marca boa é perda de tempo”, frisou.
Assim como outros colegas da estrada, Santos disse que preço e qualidade são itens obrigatoriamente levados em conta na compra de pneu novo e reforça que já está acostumado a usar a mesma marca. Fala também da preferência por pneus mais borrachudos e da calibragem com hidrogênio como uma solução para o pneu rodar mais frio, não rachar e ter maior vida útil. Quando perguntado sobre pneu recauchutado ele afirma que só compra produto novo.