Por Evilazio de Oliveira
Com a previsão da supersafra de grãos, a administração do porto de Rio Grande, em Rio Grande/RS, se prepara para receber cerca de 500 mil caminhões. Para tentar evitar a formação de filas e longas esperas para o descarregamento, o agendamento das viagens é obrigatório, embora não evite as demoras até mesmo para o recebimento das senhas para entrar na área portuária, conforme alegam carreteiros que levam cargas para exportação. Segundo as previsões, os portos brasileiros terão de suportar uma saída de 73 milhões de toneladas neste ano, só com soja e milho e grande parte direcionada aos portos do Sul e Sudeste, devido ao excedente de produção do Centro-Oeste e de novas fronteiras agrícolas no País. Com isso, a expectativa é de uma movimentação recorde em Rio Grande.
O superintendente do porto, Dirceu Lopes, afirma que 95% dos caminhões que transportarão grãos já realizaram o agendamento da descarga. Lembra que neste mesmo período – no ano passado – essa porcentagem era 10 por cento menor e, com isso, o fluxo dos caminhões está cada vez mais planejado para facilitar o tráfego em direção ao porto e evitando filas e congestionamentos.
Desde 2011 a superintendência do porto de Rio Grande tem realizado reuniões, a cada três meses, com representantes das polícias rodoviárias federal e estadual, polícia federal e terminais graneleiros, entre outros órgãos ligados ao setor, visando uma maior segurança, organização e eficiência no escoamento das safras. “É um diálogo permanente para que haja um comprometimento de todos os envolvidos direta ou indiretamente nessa atividade”, ressalta Lopes.
Para este ano – segundo ele – a preparação tornou-se fundamental, já que o chamado Plano de Ação para o escoamento da safra tem apresentado bons resultados, representando um ganho real para todos, incluindo a comunidade, produtor, exportador e o motorista de caminhão, que poderá fazer mais viagens e ter mais lucro no seu trabalho. Lopes ressalta, também, que a eficiência do porto de Rio Grande abre novas portas para o ingresso de grãos de outros Estados. “Estamos recebendo solicitações de cargas do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, porque temos aqui uma operação muito rápida. Neste ano teremos entre 1 e 2 milhões de toneladas de soja de outros Estados sendo escoadas pelo nosso porto”, informou.
Apesar de toda essa anunciada eficiência, o coordenador da Comissão de Infraestrutura do Setcergs (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul), Frank Woodhead, 64 anos de idade e 18 anos no setor de transportes, costuma criticar a “absoluta incompetência dos governos” pela falta de um projeto integrado para o porto de Rio Grande. Ele salienta que o trecho da BR-116 entre Porto Alegre e Rio Grande está sendo duplicado com grandes dificuldades, inclusive para as liberações ambientais. Entre Pelotas e Rio Grande já está duplicado. Todavia, o restante da rodovia preocupa no aspecto referente à conservação, principalmente depois que o Estado assumiu a responsabilidade dos pedágios. Woodhead lembra, também, que navios de grande porte só podem carregar 80% da sua capacidade devido à falta de dragagem adequada do porto e tudo isso resulta em perdas.
O carreteiro Antônio Félix Oliveira Dias, Félix, como é conhecido no trecho, natural de Marabá/PA, 52 anos de idade, trabalha com caminhão há 34 anos. Atualmente ele transporta grãos para uma empresa de Santa Catarina na rota entre Rio Grande do Sul e Nordeste. Na ocasião que falou com a reportagem da Revista O Carreteiro ele estava retornando de uma viagem ao porto de Rio Grande e com o caminhão vazio. Havia levado um carregamento de soja e, embora tenha sido a primeira viagem ao porto – e sem conhecer o trecho e os procedimentos portuários – afirmou que tudo foi muito bem e gostou da infraestrutura e do atendimento. “Tudo rápido e bem encaminhado”, acentuou. Sua viagem tinha começado em Primavera/MS e agendada, mas como seu caminhão quebrou na estrada, ele ligou para o terminal do porto avisando que atrasaria. Chegou três dias depois e descarregou sem nenhum problema, garante.
Com opinião oposta a de Antônio Félix sobre o porto, o carreteiro Maicon Paulo Klauck, 27 anos de idade e oito de volante, natural de Encantado/RS, lembra que apesar das cargas serem agendadas, a espera mínima para descarregar em Rio Grande é de um dia a um dia e meio. Ele explica que é preciso estacionar o caminhão num pátio retirado e esperar pela senha que permite entrar numa fila para depois ingressar nas instalações do porto, de onde será encaminhado ao terminal de descarga. Embora sem rota fixa, Klauck costuma viajar com mais frequência para os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Lembra que em 2013 carregou apenas uma vez para Rio Grande, mas neste ano era a quinta viagem e “todas muito estressantes”. Ele criticou a falta de segurança, instalações precárias, banheiros em péssimas condições e até dificuldades para a alimentação. Isso porque, segundo ele, dentro do pátio não é permitido cozinhar e preparar as próprias refeições. “Não tem segurança alguma e ninguém é responsável. É tudo aberto”,
afirma. Segundo ele, é muita “nóia” carregar pra Rio Grande. “Nunca gostei”, enfatiza.
Para o estradeiro Odair Dalle Molle, natural de Marialva/PR, 59 anos de idade e 32 anos de profissão, a estrutura de atendimento no porto de Rio Grande tem melhorado bastante em comparação a anos anteriores, conforme a opinião de outros motoristas mais experientes, em conversas nos pontos de paradas. Transportando soja entre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, lembra que em certa ocasião precisou esperar quatro dias para descarregar no porto de São Francisco/SC, mas garante que hoje, com o agendamento, tudo ficou mais fácil. Salienta que se não estiver com a carga agendada para descarregar no porto, o caminhão não é liberado nos postos fiscais. Segundo ele, com o aumento da safra e das exportações é preciso que a estrutura do porto continue melhorando para atender a essa enorme quantidade de caminhões, “ou a coisa vai ficar muito difícil”.
O carreteiro Rittchilli Vieira Novo, 35 anos de idade e 12 de estrada, natural de Rio Grande/RS, transporta grãos de Rondonópolis/MT e das regiões produtoras do Rio Grade do Sul para as indústrias ou exportação. Em 2013 ele carregou farelo de soja de Passo Fundo/RS para o porto de Rio Grande, “tudo devidamente agendado”, conforme disse. Como as descargas de farelo eram feitas somente à noite, quase sempre era preciso esperar, pois ele chegava durante o dia, algumas vezes até pela manhã. “Não dava para reclamar, pois a espera era de no máximo um dia”. Segundo ele, nesta safra, ao que parece tudo vai ser igual, apesar do anúncio de algumas mudanças na estrutura do porto, no estacionamento e na entrada para evitar a formação de filas. Na verdade, Rittchilli Vieira reclama das péssimas condições de conservação das estradas. Algumas nem existem mais, como é o caso da BR-386 entre São Miguel do Oeste/SC e o Rio Grande do Sul. “E a situação é parecida em todas as partes, com a total falta de manutenção das rodovias por parte do governo ou das concessionárias”, reclama.
Aliás, o escoamento da supersafra é um assunto que preocupa os agricultores gaúchos, principalmente pelas más condições das BR-386 e 285, estradas que eram pedagiadas e foram devolvidas à administração da União. Essas vias, além de outras importantes rotas estaduais, estão em péssimas condições de trafegabilidade, segundo alegam os motoristas e produtores rurais. E por conta dessa condição criam um sério problema para o transporte da safra.
O trecho da BR-116 entre Porto Alegre e Rio Grande, por exemplo, está totalmente esburacado, lembrou um carreteiro que costuma fazer essa rota. Segundo ele, o calor excessivo do verão e as chuvas deste ano estão convertendo o asfalto “num mingau revirado”, sobretudo nas proximidades de Barra do Ribeiro. Ele não sabe o que vai acontecer quando efetivamente começar o vai-e-vem dos caminhões transportando grãos para o porto.