Por João Geraldo
O futuro do transporte rodoviário de carga na Europa causa preocupação aos fabricantes de caminhão. Isso se deve tanto pelo crescimento da movimentação de mercadorias, previsto para as próximas décadas, quanto pela busca de eficiência do setor em suas relações a respeito do aproveitamento dos caminhões na operação, visto hoje como muito abaixo da capacidade do veículo. A inquietação se deve também à necessidade de reduzir o consumo de combustível da frota, item de alto custo na planilha do setor além de ser uma grande fonte de emissões de CO2.
Na visão de especialistas, o volume de cargas a ser transportado em 2050 deverá ser três vezes maior que hoje. Essa previsão indica a necessidade de mais veículos de carga em trânsito e, por consequência, a exigência de maior eficiência na operação. Os seis principais fabricantes de caminhões ( Mercedes-Benz, Volvo, DAF, Iveco, Scania e MAN) têm trabalhado na busca de soluções neste sentido, nas quais a conectividade aparece como a tecnologia viável para alcançar os pontos considerados atualmente como essenciais para melhor organizar as relações entre todas as empresas e profissionais envolvidos na cadeia do transporte.
Uma das experiências em curso para reduzir o consumo de combustível e das emissões e rodar com maior segurança é a dos caminhões viajarem em comboios interligados digitalmente e trocando dados. Trata-se de um conceito que envolve vários fabricantes do continente. Na prática, os comboios são a fase inicial de operação do caminhão autônomo, que trafega quase sem necessidade de o motorista estar ao volante, conforme se projeta para daqui a uma década.
Esta forma de transportar, conforme matéria publicada na revista O Carreteiro 497 (abril de 2016), que reúne muita tecnologia e planejamento, foi apresentada pela Mercedes-Benz a jornalistas do mundo inteiro em 22 de março deste ano na cidade Dusseldorf (Alemanha) com três caminhões Actros rodando em condições reais em rodovias.
Uma semana depois, dia 29 de março, três caminhões Scania com tecnologia semelhante partiram da fábrica em Södertälje, na Suécia, em direção ao porto de Rotterdam, na Holanda, para participar do Platooning European Challenge 2016, iniciativa do governo holandês. Dia 04 de abril, foi a vez de caminhões MAN partirem de Monique em direção a Roterdan, Holanda, num percurso de 880 quilômetros. Dia 06 de abril, em grande evento no porto de Roterdan, os fabricantes apresentaram seus sistemas platooning.
Viajando em pelotões, os caminhões trafegam à curta distância um do outro interligados automaticamente via transmissão de dados digitais de condução. Este conceito, que inclui em boa parte a direção autônoma, conforme foi divulgado recentemente pela MAN na Alemanha, está se tornando cada vez mais importante porque reduz as emissões, economiza combustível e aumenta a segurança nas estradas.
O gerente do projeto da MAN, Daniel Heyes, disse que a viagem foi um sucesso, e acrescenta que os maiores desafios foram o lado tecnológico para ajustar os veículos e as questões de registro em cada província federal da Alemanha e das autoridades da Holanda para aprovar o projeto. Aliás, o Platooning European Challenge 2016 é uma iniciativa da própria Holanda (conhecida e tratada na União Europeia como Países Baixos, já que sua formação é composta pela Holanda do Norte e Holanda do Sul).
Heyes disse que foi uma oportunidade para mostrar ao público que a eficiência e segurança com ajuda de tecnologias no estado da arte são prioridade da MAN. Em sua opinião, o evento contribuiu de modo significativo para colocar a questão da condução autônoma de veículos comerciais nos holofotes e que a participação de tantos fabricantes é uma demonstração de que todos querem se unir.
Apoiado também pela Associação Europeia dos Fabricantes de Automóveis, o objetivo do projeto é desenvolver corredores de condução do comboio dentro da Europa, aumentar a cooperação fronteiriça e abrir caminho para mudanças da legislação na União Europeia. O chefe de desenvolvimento de power train da Scania, Jonas Hofstedt, diz que o Platooning European Challenge é uma excelente oportunidade para aumentar a consciência, tanto na Suécia quanto na Europa, sobre as principais vantagens proporcionadas pelos comboios de caminhões.
Ainda de acordo com Hofstedt, esta é uma forma de conseguir operações mais seguras e eficientes de transporte, além de melhorar o fluxo no tráfego de veículos.
“Esperamos também, aumentar a compreensão sobre o fato de que são necessárias normas comuns para os diferentes sistemas de apoio, que a legislação europeia conjunta é necessária para permitir grande escala de comboio.
Cada um dos seis fabricantes de caminhões tinham sua própria equipe para demonstrar a viabilidade de viajar em segurança proporcionada pelo conceito pelotão. O evento trouxe mais experiência para as empresas e teve por objetivo também mostrar que esse sistema além de ser eficiente contribui para a segurança no tráfego.
Os caminhões que participam do comboio digitalmente interligados, são equipados com sistemas de câmeras, radares e avançado softwares de regulação de distância que os permitem trafegarem em comboio e manterem distância segura de 10 metros um do outro. Durante a viagem, os motoristas podem sair ou entrar no pelotão a qualquer momento.
Menos poluição, menos congestionamentos
O caminhão continua a ser o principal meio de transporte na Europa, onde aproximadamente 70% das cargas seguem por estradas. Deste total, cerca de 1/3 é entre países do continente e se questiona que poderá haver um aumento no futuro. Caso não haja medidas, acredita-se que o congestionamento atual poderia ser aumentado em até 50% até o ano de 2050.
O fato de um só motorista para mais de um caminhão, que pode,reduzir o consumo de combustível e poluir menos, é visto no continente como uma resposta ao envelhecimento da população e a consequente redução de motoristas treinados. Acredita-se que, futuramente, com o uso mais eficiente das estradas, a frequência e tempo de duração dos congestionamentos também vão cair em ritmo acelerado.
Os países da União Europeia pretendem obter uma redução dos gases que provocam o efeito estufa, mas para isso é preciso reduzir as emissões entre 80 e 95%, uma queda de pelo menos 50% em relação aos níveis de 1990. Nessa conta, o setor de transportes teria de reduzir pelo menos 60%. Estudos confirmam que caminhões viajando em pelotões podem resultar em significativa redução das emissões de CO2.
A comissão Europeia reconhece que o transporte rodoviário é fundamental para a sociedade. O setor proporciona emprego a cerca de 10 milhões de pessoas no continente, além de ser responsável por 5% do Produto Interno Bruto da União Europeia. Apesar de o continente ter conseguido reduzir em até 60% as emissões nas últimas décadas, acredita-se que os índices podem baixar ainda mais. Neste contexto, o conceito platooning se destaca como uma importante iniciativa. (JG)