por Iara Aurora

Há tempos, o assunto oportunidades de emprego para jovens carreteiros é discutido no segmento de transporte rodoviário de cargas. Muitos dos ingressantes dizem que se preparam para o mercado e que investem em cursos de aprimoramento, mas na hora do processo seletivo o item experiência profissional pesa bastante e os impedem de adentrar nas empresas. Ao mesmo tempo, e do “outro lado da moeda”, estão os motoristas com mais de 40 anos de idade e que contam como principal atrativo no currículo os anos de estrada dedicados à profissão. Estes, porém, nem sempre apresentam histórico de atualização e, consequentemente, se sentem em desvantagem ao “competir” com os mais jovens pelos empregos disponíveis. Eles consideram tal disputa algo inviável e afirmam que as transportadoras dão preferência a condutores mais jovens, atualizados e preparados para lidarem com as tecnologias embutidas nos novos caminhões.

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Um condutor que participa de treinamentos e se qualifica ganha destaque na hora da contratação, diz Luiz Fernando, da transportadora TNT

Embora haja quem pense dessa forma, enquete com o tema “As transportadoras preferem motoristas mais experientes ou qualificados?”, realizada durante o mês de setembro passado no portal O Carreteiro, com mais de 100 participantes, mostrou que 66% consideram ideal para o mercado de trabalho o profissional que tenha os dois quesitos. Isto é, um condutor capaz de lidar tanto com as particularidades da vida no trecho quanto com as últimas mudanças, sistemas e serviços implantados nos veículos atuais. É também a opinião dos administradores responsáveis pelos processos de seleção em transportadoras. Segundo eles, ter a experiência no segmento é algo primordial, porém, não o bastante para conquistar empregos e sobreviver no setor rodoviário.

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Habilidade é indispensável e requer maior tempo para desenvolvimento, se comparado à qualificação, comenta Márcio Oliveira, da Transportadora Americana

“A experiência é um requisito básico para a função de motorista devido às suas características, mas com certeza um condutor que participa de treinamentos e se qualifica ganha destaque na hora da contratação. Visamos sempre quem inova e se prepara para o trabalho,” diz Luiz Fernando Simabukulo, gerente de marketing e customer service da Transportadora TNT.

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Aos 55 anos de idade e 18 na profissão, Vander Gonçalves defende que experiência abre mais portas do que qualificação no mercado de trabalho

Márcio Oliveira, gerente de RH da TA (Transportadora Americana), diz que “ambos os quesitos se completam, de um modo geral a capacitação e desenvolvimento são relevantes”, ressalta. Para o executivo, habilidade para a função de motorista de caminhão é indispensável e requer maior tempo para desenvolvimento, se comparado à qualificação

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Com 12 anos de experiência na profissão, Marcos Faria comenta que a teoria é uma coisa, mas a prática é outra e só se aprende no dia a dia

Apesar do resultado da pesquisa feita com internautas e das opiniões dos executivos, entre carreteiros não há um consenso. Alguns afirmam que a vivência ultrapassa os aprendizados teóricos, outros vice-versa, e para demais motoristas, como citado até aqui, os dois quesitos se completam.

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Vivência vale mais que qualificação. Os iniciantes não estão preparados para suportarem a dura realidade das estradas, opina Gilmar Sobral

O carreteiro Vander Gonçalves Correia, 55 anos de idade, defende que a experiência supera a formação. Trabalhou 18 anos como autônomo e há três deixou a vida de independente para trás e conquistou a primeira vaga como empregado. “Pela minha vivência, digo que realmente a experiência vale mais, o jovem sem prática acaba se perdendo na rotina”, afirma.

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As empresas estão mais preocupadas em contratar profissionais que aceitem os baixos salários oferecidos, dispara Marcelo Ferreira da Silva

Da mesma maneira avalia o empregado Marcos Faria, de 31 anos de idade e motorista há 12 anos. “A teoria é uma coisa, já a prática é outra completamente diferente. Só se aprende no dia a dia,” opina. Na ocasião da entrevista, Faria havia acabado de receber a notícia de aprovação em uma vaga de emprego. Para ele, o fator primordial para a conquista foi a experiência na área.

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Os motoristas novos têm mais pique para trabalhar, porque não sentem o peso da idade e isso é uma grande vantagem, pontua Eurípedes Almeida

Gilmar Sobral, motorista de 39 anos e há 18 autônomo, faz parte do grupo daqueles que consideram a vivência na profissão como algo superior à formação. “Vivência vale mais que qualificação, os iniciantes não estão preparados para suportarem a dura realidade da vida nas estradas, só se aprende realmente a trabalhar na prática”, defende ele.

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Para o autônomo Júlio César Dorneles, para quem trabalha como empregado o quesito formação conta mais na hora da contratação

Marcelo Ferreira da Silva, por sua vez, diz que a qualificação é perda de tempo, pois as transportadoras não valorizam aqueles que se dedicam ao aprendizado. “Pelo descaso com os carreteiros hoje, às vezes penso que fazer cursos não vale a pena. As empresas estão mais preocupadas em encontrar profissionais que aceitem os baixos salários oferecidos, por isso, eles só se preocupam em encontrar alguém que saiba “tocar para a frente o caminhão”,afirma.

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Mesmo que se tenha experiência, as coisas mudam e o que se sabe hoje pode não ser suficiente amanhã, explica o carreteiro André Lino Correa

Aos 62 anos de idade e 25 na estrada, Eurípedes Almeida Silva acredita que para as transportadoras contratar condutores jovens é mais viável para a produtividade da empresa. “Os novos têm mais pique para trabalhar, produzir mais, pois não sofrem com o peso da idade. Acredito que isso seja uma grande vantagem em relação aos mais experientes”, diz Silva.

Já o autônomo Júlio César Dornelas traz uma opinião diferente dos companheiros, pois para ele quem trabalha como empregado o quesito formação conta mais na hora da contratação. “Hoje, a qualificação se sobrepõe à experiência, e se você reparar no quadro de funcionários de uma transportadora vai perceber que há mais jovens contratados do que motoristas de idade avançada. Se o carreteiro tem todos os conhecimentos necessários para fazer o trabalho, é claro que a transportadora preferirá contratá-lo e treiná-lo ao invés de alguém que seja só mais um experiente”, justifica.

Para o carreteiro André Lino Correa, de 29 anos, a atualização profissional sempre ajudará um motorista a conseguir emprego e a se destacar no mercado de trabalho. “Mesmo que você tenha experiência, as coisas mudam a cada dia. O que você sabe hoje pode não ser o suficiente para amanhã, porque tudo se renova. É como a gente sempre ouve falar, quem parar de se atualizar ficará para trás diante dos avanços do mercado”, completa.