Por Luiz Aparecido

A colheita de grãos é um dos períodos mais esperados na economia brasileira. Isso acontece porque o agronegócio é responsável por 36,94% de todo o montante enviado ao mercado externo pelo Brasil. Para se ter uma ideia, apenas no ano passado, as exportações do setor registraram um novo recorde histórico, somando US$ 94,59 bilhões, valor 24% superior ao alcançado em 2010 (US$ 76,4 bilhões). O bom desempenho fez de 2011 o melhor ano para a balança comercial do agronegócio desde 1997. O milho e a soja, culturas de maior peso na produção, chegam a representar 83% de toda a safra brasileira.

Entretanto, a safra deste ano está sendo menor que a esperada. Isso porque o Sul do País, uma das principais regiões produtoras do Brasil, sofreu com a seca desde o fim do ano passado. De acordo com dados da CONAB, a produção brasileira de grãos do período 2011/12 chega a 157,8 milhões de toneladas, com uma redução de 3,1% ou de 5,026 milhões de toneladas a menos, se comparada à safra anterior, quando chegou a 162,837 milhões de toneladas.

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Estima-se que só no Paraná os agricultores deixaram de faturar R$ 1 bilhão com as culturas de soja e milho. As maiores perdas foram registradas na região Oeste. Nos 28 municípios atendidos pelo escritório da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná em Cascavel, as perdas na safra de soja foram de 33%. Já nos municípios que margeiam o lago da Hidrelétrica de Itaipu, as perdas chegaram a 50%. Na safra de milho as perdas ficaram em torno de 16% de forma geral em toda a região Oeste do Paraná.

As consequências com a quebra na safra são sentidas no comércio, na indústria, mais especialmente pelos carreteiros, pois estes aguardam sempre com grande expectativa o período da colheita, pois representa mais carga para carregar e, por consequência, a oportunidade de faturar um pouco mais. Porém, com menos grãos para transportar, sobram caminhões e o frete chegou a cair até 50%. Embora as perdas tenham sido menores no Mato Grosso e Mato Grosso Sul, o frete também caiu nestes dois Estados à medida que os motoristas sem ter o que transportar no Paraná foram a estas regiões em busca de trabalho.

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A maior queda no frete ocorreu em pequenas distâncias, conforme explica o carreteiro Valdomiro Antônio Grizza, de Cascavel/PR. Ele transporta soja em um percurso de 50 quilômetros, entre os municípios paranaenses de Braganey e Cascavel. No ano passado recebeu R$ 20,00 por tonelada. Este ano o valor caiu para R$ 10,00. “Com a quebra da safra sobram caminhões. Aí foi um salve-se quem puder. Era como um enxame de abelhas brigando por cargas. O frete está uma miséria e está descapitalizando o carreteiro”, relatou Valdomiro. Ainda segundo ele, as consequências serão graves, porque sem dinheiro não há como investir no caminhão. “É um dos piores anos em meus 32 anos de estradas”, lamentou.

O valor do frete também preocupa Irio Henicka, de Medianeira/PR. Ele transporta soja de Vera Cruz do Oeste para Paranaguá, recebendo R$ 54,00 por tonelada, ao passo que no ano passado o valor recebido chegou a R$ 100,00. Destaca que o frete do Mato Grosso para o Paraná está nos mesmos patamares do ano passado e, embora a safra já esteja no fim, ainda há muito grão armazenado. Mas a tendência é que os valores venham a cair com o aumento de caminhões que já estão sem ter o que transportar no Paraná.

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O carreteiro Irio Henicka afirma que está recebendo por tonelada transportada praticamente a metade do valor máximo obtido no ano passado

Para Osmar D. Carlos Camargo, de Foz do Iguaçu, que transportou soja de Sorriso, no Mato grosso, para o Porto de Paranaguá, a R$ 195,00 a tonelada, a desunião da categoria atrapalha. Para enfatizar sua reclamação, cita a questão do pedágio, dizendo que todo ano é a mesma novela, nunca se resolve. “Pedágio é caro e no Paraná pagamos o eixo erguido no retorno. Se os motoristas fossem mais unidos, poderiam pressionar as autoridades a tomarem decisões a nosso favor”, lamenta. Em sua opinião, como a categoria não tem força paga a conta. “Não temos aonde se segurar e nem segurança para trabalhar”, destaca.

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O ganho dos motoristas também cai muito, é preciso rodar mais e descansar menos, diz José dos Santos, que trabalha para uma transportadora

Sobre o frete, Osmar argumenta que embora tenha caído um pouco em relação ao ano passado, o valor no Mato Grosso foi um pouco melhor. No Paraná, com cinco milhões de toneladas a menos do que em 2011, foi triste, segundo o estradeiro. “O preço do frete no Paraná caiu tanto que era melhor ficar parado. Ser carreteiro é viver cansado e estressado. Trabalha-se muito e ganha-se pouco”, disse, em tom de desabafo.

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O preço do frete no Paraná caiu tanto que era melhor ficar parado, mas no Mato Grosso foi um pouco melhor, comentou Osmar Carlos Camargo

Boa parte dos motoristas ouvidos pela Revista O Carreteiro disseram que esperavam que 2012 seria um dos melhores anos. Isso porque, além de 2011 ter sido bastante positivo, itens que influenciam no custo do frete como diesel, serviços mecânicos e recapagem de pneus praticamente não subiram. “Com o frete do jeito que está estamos preocupados se vamos conseguir comprar um pneu novo. São Pedro não ajudou os agricultores e nós entramos no embalo”, acrescentou Valdomiro Antônio Grizza.

Carga de grãos na Bahia
A próxima região a demandar caminhões para o transporte de grãos será a Bahia. Isso porque, segundo projeções do Conselho Técnico da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), o Estado deve colher quase oito milhões de toneladas de grãos até o final do ano agrícola de 2011/2012, volume 13% maior que o obtido no ciclo anterior. Se confirmados os prognósticos, será um novo recorde de produção.

De acordo com o presidente da entidade, Walter Horita, a logística da safra da região, entre produção e insumos, demanda o equivalente a mil caminhões com capacidade de transportar 37 toneladas por dia, durante os 365 dias do ano. Por isso, já existem carreteiros organizados para atender a demanda dos produtores no Estado da Bahia. Entretanto, os que já se preparam para a colheita garantem que ganhará dinheiro apenas quem for com frete já acertado com antecedência. “Quem for à Bahia com frete certo, se sairá bem. Quem for à escura, corre o risco de tomar prejuízo. A situação não é das melhores”, destaca o carreteiro Irio Henicka, que já tem carga garantida na divisa da Bahia com o Piauí (LAP).