Por Luiz Aparecido da Silva Fotos Orlei Silva

Os motores das colheitadeiras quebram o silêncio nos campos do Mato Grosso do Sul até altas horas da noite, com os agricultores aproveitando ao máximo o tempo bom para colher a soja. Paralelo a isso, outra classe também vive a agitação para colher os lucros que a soja sul-mato-grossense traz nos meses de fevereiro e março. São os carreteiros que têm a oportunidade de aumentar seus lucros neste período, transportando os “grãos de ouro” que são exportados pelos portos de Paranaguá/PR e de Santos/SP, ou para indústrias da região Sul.

O momento é de colher os lucros e por isso motoristas de vários Estados do País se deslocam para o Mato Grosso do Sul. “Esta também é a nossa safra. Agora é o momento do carreteiro ganhar dinheiro. Temos que aproveitar o período em que o preço do frete sobe. Deu uma pancada de chuva e sobra para o carreteiro porque os preços do frete caem”, afirma Flávio Bevilaqua, de Maravilha/SC, que transporta soja da região de Dourados/MS para Chapecó, no seu Estado.

Luiz Cláudio Costa prefere transportar grãos para a indústria do Rio Grande do Sul, porque as rotas têm menos postos de pedágio
Luiz Cláudio Costa prefere transportar grãos para a indústria do Rio Grande do Sul, porque as rotas têm menos postos de pedágio

Luiz Cláudio Costa, de Pelotas/RS, puxa a safra da região de Rio Brilhante/MS. Ele conta que o frete que normalmente gira em torno de R$ 60,00 a tonelada, na safra sobe para R$ 65/70. Luiz prefere pegar cargas para indústrias do Rio Grande do Sul do que para os portos de Paranaguá e Santos, porque as praças de pedágios são poucas. “Para Paranaguá você tem que pagar sete pedágios na BR 277 no Paraná. Para o Sudoeste do Paraná e Santa Catarina não têm pedágios e para o Rio Grande do Sul são poucos, e dependendo da região, não tem. Isto é que nos garante um ganho um pouco maior”, acentua.

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Luiz Cláudio também argumenta que este bom momento, que dura de 60 ao máximo 90 dias, tem de ser aproveitado. “Este ano estamos ganhando um pouco de dinheiro, mas vivemos a máxima que diz que caminhão só empresta dinheiro ao dono. Dá em um ano e tira em outro. Este ano estamos trabalhando para sair do vermelho, pagando contas que sobraram do ano passado”, frisa o carreteiro.

O ideal é não perder tempo, porque se pegar congestionamento dentro do porto se perde um ou dois dias e o lucro vai embora, diz Édson Volmir
O ideal é não perder tempo, porque se pegar congestionamento dentro do porto se perde um ou dois dias e o lucro vai embora, diz Édson Volmir

Mas nem tudo são flores na vida dos motoristas. Édson Volmir Hintercolz, de Toledo/PR, por exemplo, explica que no pico da safra chega-se a pagar R$ 130,00 por tonelada para o transporte entre Rondonópolis/MT e o porto de Paranaguá, mas basta não ter navio no porto ou chover que o preço cai para R$ 100,00, R$ 90,00 e em alguns dias chega a R$ 70,00 a tonelada. “O frete está melhor para as transportadoras. Como não se permite mais a formação de filas de caminhões em Paranaguá, temos que ter a carga programada. Se a sua descarga não está programada, perde-se muito tempo. Mesmo assim, se tiver congestionamento dentro do porto perdemos um ou dois dias, e todo nosso lucro vai embora”, relata.

Já Darri Almir Scheffler, de Marechal Cândido Rondon/PR, diz que de um modo geral na safra deste ano o frete está bom nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. “Já no Mato Grosso não está lá estas coisas. O ideal seria se pudéssemos trabalhar na região Oeste do Paraná, para ficarmos mais próximos de casa”, explana.

O frete da safra de soja está bom nos Estados do Sul, diz Darri Scheffler, para quem carrega no Mato Grosso do Sul o preço não está lá estas coisas
O frete da safra de soja está bom nos Estados do Sul, diz Darri Scheffler, para quem carrega no Mato Grosso do Sul o preço não está lá estas coisas

Os carreteiros são unânimes em afirmar que as rodovias melhoraram embora em alguns Estados existam problemas. No Paraná, as estradas estão boas, diz Flávio Bevilaqua. Ele argumenta que no Mato Grosso do Sul o asfalto é bom, mas faltam acostamentos, o que aumenta o risco de acidentes. “Se furar um pneu você está frito, porque precisa rodar com pneu murcho até achar um lugar seguro para encostar o caminhão. Se precisar desviar de algo na estrada, corre o risco de sofrer um acidente grave”, acentua.

Outros fatores negativos apontados pelos motoristas, e que corroem o lucro dos carreteiros na safra, são a cobrança de pedágio do eixo levantado – no retorno – e o tempo perdido na descarga. Mas reclamam também do baixo preço do frete de retorno, apontado como outro incômodo que afeta o bolso dos motoristas que enfrentam o “vira-vira” da safra.

Se chove o agricultor não colhe e não temos frete, afirma Flávio Bevilaqua, que reclama da cobrança de pedágio para o eixo erguido
Se chove o agricultor não colhe e não temos frete, afirma Flávio Bevilaqua, que reclama da cobrança de pedágio para o eixo erguido

Flávio Bevilaqua reclama que tudo vai contra os carreteiros. Se não tem navio no porto, o preço do frete cai; e quando tem a demora para descarregar consome o que se ganhou na viagem. “Se chove o agricultor deixa de colher e o frete vai ladeira abaixo, além disso a cobrança de pedágio do eixo erguido é um ‘roubo’ à classe dos motoristas”, diz Flávio. Por sua vez, Luiz Cláudio Costa diz que a classe é muito desunida e isto faz com que o frete de retorno seja muito baixo. “Tem colegas que contratam frete de retorno por uma quantia correspondente somente ao valor do pedágio. Se tivéssemos união não aceitaríamos esta situação”, lamenta. Ele acrescenta que o retorno é a mesma distância, se roda a mesma quilometragem então na há motivo algum para o valor do frete ser menor. “Na safra, quando estão pagando bem pelo frete no Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, em muitas ocasiões é melhor voltar vazio e mais rápido para pegar outra carga”, enfatiza Luiz Cláudio.

Darri Almir Scheffler explica que em uma viagem do Mato Grosso do Sul para Paranaguá com um bitrem se gasta R$ 800,00 em pedágio. Diz que se não houvesse a cobrança do eixo erguido ele economizaria R$ 230,00. “Como tem muitos caminhões para retorno, quem está contratando impõe o preço do frete”, analisa. Darri Scheffler fala que com a implantação do Manifesto Eletrônico as condições de ganho dos carreteiros devem melhorar um pouco, mas tem opinião de que o importante seria se o preço do frete fosse fixado por quilômetro rodado, incluindo a ida e a volta. “Isto acabaria com o “Leilão do Retorno”, opina. Ele acredita também que o frete por quilômetro rodado aumentaria o faturamento do carreteiros e seria importante também para a economia do País, porque a categoria teria maior capacidade de investimento.

Na segunda quinzena de março, com a colheita da soja praticamente concluída no Paraná, e no fim em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, os carreteiros já procuram outros Estados em busca de frete para manter o nível de faturamento. No Maranhão e Bahia, a safra é colhida em abril, já no Rio Grande do Sul em abril e maio, e no Pará em maio e junho. Quem se sujeitar a ficar mais alguns meses longe de casa, pode prolongar o período das “vacas gordas”.