Por Evilazio de Oliveira
Fotos Luiz Gonçalves
A evolução constante do transporte rodoviário de cargas, com caminhões cada vez mais modernos e possantes – além de sofisticados modelos de gestão empresarial – está exigindo um novo perfil de motorista, difícil de ser encontrado. Com isso, cresce a oferta de vagas nas transportadoras, enquanto, pa radoxalmente, centenas de profissionais estão a procura de uma colocação no setor. Mas, ao que parece, poucos se encaixam nas expectativas do mercado: homens realmente treinados para assumirem o volante dos novos caminhões, conhecimentos de informática, boa aparência e a firme determinação de responsabilidade e comprometimento profissional, entre outros fatores.
Para quem já está no trecho há muitos anos, a imprescindível necessidade de uma reciclagem profissional é um sonho distante, principalmente pelas alegadas dificuldades de tempo e de dinheiro. Para as novas gerações, a atividade parece não ter grandes atrativos a ponto de se investir em cursos e treinamentos técnicos. Enfim, essa melhoria no currículo de quem deseja se candidatar a uma vaga de motorista de caminhão ou se aprimorar na profissão – nesta nova realidade do transporte brasileiro – só vai conseguir com muito esforço pessoal.
Natural de Modelo/SC, o carreteiro Vilmar José da Silva, 35 anos e 17 de profissão, é dono de um Scania 85 e trabalha no trecho Mato Grosso/Porto Alegre como agregado. Ele conta que aprendeu a dirigir com o pai, José Vilmar da Silva, que também é carreteiro e decidiu seguir a profissão. Entrou numa auto-escola para se aperfeiçoar, tirou carteira E e fez os cursos para o transporte de cargas perigosas e de direção defensiva. Acredita que todos os motoristas deveriam fazer cursos de aperfeiçoamento ou mesmo de reciclagem – mesmo para carros pequenos – embora reconheça a absoluta falta de tempo, além da questão financeira. “Se a pessoa tem tempo para fazer o curso é porque está desempregada, portanto, sem poder gastar”, conforme avalia. Por enquanto não teve problemas em “mostrar currículo”, pois trabalha com caminhão próprio, mas garante que pretende continuar se atualizando, afinal “ninguém sabe o dia de amanhã”.
Com pouco estudo e sem ter feito qualquer tipo de curso ao longo dos 34 anos de estrada, Francisco Rodrigues da Silva Filho, hoje com 53 anos de idade, admite que “o cerco está se fechando, profissionalmente”. Natural de Natal/RN e ao volante de um Mercedes 2010, admite que estudou apenas até o terceiro ano e nunca teve interesse em fazer qualquer tipo de curso, nem mesmo o MOOP, para cargas perigosas. “Não precisava, não fiz”. Agora, no entanto, reconhece que está sentindo falta. Lembra que trabalhou 23 anos para um patrão que nunca recolheu as contribuições para a Previdência e hoje nem pode pensar em se aposentar. Está desiludido. Pensa em parar de fazer viagens longas e ficar mais perto de casa, mas lembra das suas limitações em termos de instrução para conseguir um novo emprego, apesar de saber que ele é muito conhecido no setor de transportes no Norte e Nordeste.
Mesmo assim, embora tarde, defende que os motoristas se aprimorem, estudem, façam cursos e aprendam mais sobre a profissão e, principalmente, sobre os caminhões, cada vez mais modernos. Acredita que o governo e as empresas deveriam se preocupar mais com o assunto, não só os motoristas. “O interesse é de todos”, assinala, opinando que grande número de acidentes é causado por motoristas despreparados.
Para o carreteiro Miguel Nunes, 55 anos e 35 de direção, o período em que trabalhou como motorista de ônibus na Viação Ouro e Prata, fazendo a Linha Iraí/Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi o grande aprendizado de estrada e serviu para ver o quanto os motoristas, em geral, dirigem mal. Natural de Iraí/RS, ele aprendeu a dirigir com o irmão João Nunes, um ano mais velho, em viagens para o Rio de Janeiro e São Paulo. Depois de trabalhar algum tempo com caminhão caçamba candidatou-se a motorista de ônibus. Foi quando fez todos os cursos necessários para o cargo e, então, aprendeu realmente a conduzir com segurança, afirma.
De volta à cabine do caminhão, não fez outros cursos, nem mesmo o de movimentação de cargas perigosas. Orgulhoso, conta que há três meses deixou de trabalhar como empregado: comprou um Scania 93 e esta no trecho cheio de projetos. Mas, garante, a passagem pelo transporte de passageiros foi uma grande escola, um grande aprendizado. Por isso tem opinião que todos os motoristas – mesmo experientes – de tempos em tempos devem fazer cursos de reciclagem ou de atualização. E, para os que estão começando, esses cursos deveriam ser obrigatórios. “Assim, certamente seriam evitadas muitas barbaridades que a moçada faz por aí”, afirma.
Com muitos cursos profissionais incluídos no currículo, o carreteiro João Xavier Filho, 48 anos e 25 de profissão, de Rondonópolis/MS, atualmente trabalhando ao volante de Iveco 2003 – afirma que é preciso ser previdente e pensar no futuro. Por isso pretende fazer um curso para transporte de passageiros. Quer ir se preparando para quando sentir necessidade de ficar mais perto de casa, com a família, estar preparado para outros tipos de trabalho. Ele explica que fez os cursos de movimentação de cargas perigosas, condução de veículos pesados com economia e direção defensiva – entre outros – por determinação do Sindicato, em Rondonópolis. Não se arrepende. Acredita que os motoristas devem sempre estar bem preparados para dirigir com segurança todos os tipos de caminhões que surgem no mercado. Reafirma que motorista qualquer um pode ser, agora, “um bom motorista é mais difícil”. Se não fosse assim – raciocina – as empresas de transporte não estariam com caminhões parados por falta de profissionais competentes.
Germano Leandro da Silva, natural de Candeias/BA, tem 46 anos e 27 de estrada. Aprendeu a dirigir aos 16 anos com o pai, também carreteiro, ao volante de Chevrolet 74. Tirou carteira de habilitação e em 1994 precisou fazer o curso de movimentação de cargas perigosas para a troca de categoria. Já mudou de emprego “umas oito vezes, sem nenhum problema de currículo ou exigência de outros conhecimentos a não ser dirigir bem”. Agora, para assumir a direção de um Volvo zero quilômetro, em Curitiba/PR, assistiu a palestras e instruções demoradas sobre o funcionamento do veículo, com caixa automatizada, sem embreagem e que troca as marchas conforme se força ou alivia o pé no acelerador. “Uma beleza”, garante sorrindo.
Dificuldades com as novas tecnologias do caminhão? “Ah, de vez em quando a gente vai procurar a alavanca do câmbio, mas vai pegando o jeito…” Segundo ele, as palestras e todas as instruções foram muito claras, esclarecendo qualquer dúvida e com calma vai sabendo dominar todas as novidades. Acredita que todos os motoristas deveriam estar preparados para o futuro, pois, as coisas estão cada vez mais modernas e quem não acompanhar essa evolução vai ficar sem emprego muito depressa. Destaca que a grande maioria dos estradeiros não tem oportunidade para esse aperfeiçoamento técnico, ou mesmo reciclagem profissional. E sugere que as auto-escolas devessem se preocupar mais com o assunto, facilitando o treinamento, talvez em convênio com as empresas de transporte ou com a ajuda do governo. Lembra que no Nordeste a seleção de motoristas funciona mais na base do conhecimento da pessoa ou indicação de colegas, o que evita muitas das exigências, como acontece em outras partes do País. Mas, como em todas as profissões, o motorista de caminhão também precisa evoluir, afirma.
Na opinião do carreteiro Sérgio Moacir Martins Dias, 47 anos e 27 de volante, os caminhões estão muito avançados, aperfeiçoados, e os motoristas precisam ser reciclados, inclusive na maneira como se comportam com as pessoas ou nas estradas. Natural de Pelotas/RS, ele conta que há dois meses realizou um sonho e conseguiu comprar um caminhão, um Scania 88, depois de muito trabalho e muitas economias. Trabalha como agregado no transporte de contêineres do porto de Rio Grande para Porto Alegre e, eventualmente, para o porto de Itajaí/SC. Como sempre gostou da profissão, procurou manter-se atualizado fazendo todos os cursos que podia. Assim, além do MOOP, para movimentação de cargas perigosas, direção defensiva, direção econômica e primeiros socorros em acidentes de trânsito, também fez cursos de manutenção mecânica no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).
Sérgio Martins reconhece que esses cursos, feitos a cerca de oito anos, já estão ultrapassados. Daí, a necessidade de atualizações constantes para todos os estradeiros. E, para os mais jovens, além de dar um suporte para o trabalho, com mais eficiência e segurança, vai garantir um maior respeito profissional, com reflexos em toda a categoria, explica.