Por Katia Siqueira

O assunto é dos bons. Todos querem participar da conversa e comentar suas façanhas na hora de ajeitar e amarrar uma carga, trabalho que pode demorar 30 minutos como duas horas. “Vai depender do bruto, do produto a ser transportado e, principalmente, da experiência de quem estiver enlonando”, dizem os mais escolados.

João Carlos Lussoli, autônomo de Joinville/SC, tem um Mercedes-Benz 1516, ano 82, diz que aprendeu amarrar carga com o seu pai, que também era carreteiro. “Antes mesmo de tirar CNH profissional eu já sabia lidar com a corda e cabo de aço. Para mim não tem segredo nenhum, mas têm muitos motoristas que apanham”.

Segundo Lussoli, o motorista que não sabe amarrar carga fica na mão dos chapas para enlonar a mercadoria. “Com isso ele vai ter mais custo e seu frete vai render menos, sem contar que durante o percurso quase sempre a gente precisa dar uma ajustada nos nós”, explica.

Lussoli diz que não existe um tempo determinado para se enlonar a carga: uma carreta graneleira demora cerca de 30 minutos, um truck 40 minutos e as carretas com carga seca levam mais de 60 minutos.

Edson Lopes do Bonfim “Buiu”, de Arapoema/GO já foi motorista autônomo e tanto veio à São Paulo, que resolveu deixar a profissão e virar agenciador de carga no Terminal de Carga Fernão Dias. “Minha agência fica a céu aberto, é aquela ali” – aponta para um muro onde está escrito “Agencia da Pedra” e o qual fica em frente ao banco onde ele e seu sócio, Hélio Pianco da Silva “Batata” recebem os motoristas que estão a procura de frete.

Buiu – trabalha com três celulares, um rádio e um telefone móvel – conta que durante muitos anos enfrentou os perigos da estrada como motorista, mas já trabalhou de chapa também. “Como agenciador a gente ganha mais. Eu aprendi a amarrar minhas cargas no tranco e na raça, mas o carreteiro e o chapa que não sabe dar o nó a gente ensina e cobra um pouquinho, afinal estamos formando o profissional não é mesmo?”.

Segundo ele, esses anos todos que trabalha no ramo lhe dá segurança para afirmar que cerca de 70% dos motoristas de caminhão sabem amarrar carga e 30% pagam o chapa para auxiliá-los. “Normalmente o carreteiro aprende no dia-a-dia, mas se ele tiver força de vontade fica apto no mesmo dia”.

Batata diz que trabalhou como motorista durante 20 anos e há sete virou um agenciador de carga. De acordo com suas explicações, o lonador – ou seja, o motorista que vai carregar o caminhão -, precisa distribuir bem a carga no bruto. Depois, ele põe a cantoneira (se tiver cabo de aço), joga a lona no chão, dobra na altura da carga e depois leva para cima do veículo e passa a corda ou o cabo de aço.

Ele conta que 70% das cargas são amarradas com corda e 30% com cabo de aço. “Os catarinenses e os gaúchos preferem ter as cargas amarradas na ripa da carroçaria e os nordestinos gostam mais do gancho”.

Os motoristas dizem que é melhor amarrar na ripa porque se o veículo sofrer um acidente, o dano será somente na carga. No caso do gancho, se o caminhão cai perde carga e danifica o bruto também.

O nó mais usado pelos motoristas para amarrar a carga é o Carioca por ser considerado mais prático e fácil de ser feito. Existem outros, tipo marinheiro etc. “Eu só aprendi o Carioca no convívio com os carreteiros e praticando”, conta Manuel Marcos Silva de Lima.

Gaúcho de Porto Alegre/RS, Lima tem 26 anos e dirige um Mercedes-Benz 1620 de propriedade do Supermercado Amer, com o qual transporta farinha de trigo, melancia e outros produtos carga seca. “Para ser motorista de caminhão não basta tirar a carteira profissional. É preciso ter conhecimentos de mecânica, de distribuição de cargas entre outros cuidados antes de assumir sozinho a direção de uma carreta em uma estrada. Eu, por exemplo, fiz quatro viagens para aprender a amarrar a carga. Também prefiro amarrar na ripa porque se o veículo sofrer acidente arrebenta a carroçaria e o caminhão fica inteiro”.

De acordo com os motoristas entrevistados, a carga mais difícil de ser amarrada é o de melancia. Tanto é assim que, quem costuma fazer esse trabalho são os próprios agricultores, os quais estão habituados a lidar com a fruta.

Lima conta que há pouco tempo, carregou 15 mil quilos de farinha de Porto Alegre a São Paulo e não teve o cuidado de travar bem a corda. No percurso da viagem, as tampas da carroçaria começaram a inchar e fizeram com que ele interrompesse a viagem, desamarrasse e amarrasse toda a carga novamente. “Perdi um tempão ajeitando tudo, mas foi melhor porque do jeito que estava havia o risco de a carga cair e causar um acidente. Já vi muitas pessoas serem atropeladas nas ruas dessa forma”, explica.

O segredo, reforça ele, não está somente no nó, mas na distribuição da mercadoria no caminhão. A carga não pode ficar muito na dianteira porque quebra a mola e nem muito na traseira porque o motorista fica sem controle do veículo.

Os irmãos, Carlos Cesar Lopes, vulgo “Aluado” e Edelson Júnior, conhecido como Passarinho, de Rialma/GO, de 26 e 30 anos, respetivamente, trabalham para a Transportadora Transul Transporte de São Luís/MA, com caminhão Scania 124, ano 2003, com carretas sider que utilizam cintas para amarrar as cargas.

O processo na amarração, segundo os goianos é bem mais simples do que o feito com cordas ou cabo de aço. “Engatamos uma ponta da cinta no gancho que fica lado esquerdo da carroçaria do caminhão e puxamos para cima da carga e depois passamos a outra ponta na catraca, localizada no lado direito, apertamos e está feito a amarração. A quantidade de cinta varia dependendo da carga. Bobina, por exemplo, costuma exigir mais porque ela corre”, dizem.