Por João Geraldo
fotos Alexandre Andrade
Quem não fica curioso quando se depara numa rodovia com uma dessas composições gigantescas, com fileiras de pneus transportando uma carga indivisível de grandes dimensões? Este desejo de saber o que está sendo carregado, quanto pesa e pra onde vai, entre outras questões, na maioria das vezes é também objeto de curiosidade também de muitos profissionais da área de transporte, devido à complexidade exigida por este tipo de operação.
Em muitos casos, uma operação de transporte deste tipo exige meses de planejamento para ser executado na estrada. O trajeto tem de ser minuciosamente estudado e mapeado e as condições das pistas bem avaliadas e conferidas, como capacidade das pontes e viadutos, relevo do trecho a ser percorrido e também toda a documentação relativa às licenças de tráfego.
Uma dessas composições – transportando um rotor de turbina de 316 toneladas (5m de altura e 9m de comprimento) – percorreu trecho de rodovias entre Araraquara e o Porto de Santos/SP, e se tornou uma curiosidade devido suas dimensões: 107m de comprimento, 8,8m de largura, 5,72m e PBTC de 675 toneladas.
Chamado de carreta- gôndola, o conjunto todo é formado por duas composições com 18 eixos em cada uma – com rodado duplo – e uma viga no meio que funciona como um berço para acomodar a peça transportada e com o peso distribuído nas duas linhas de eixos. Puxado por três cavalos-mecânicos Volvo FH16 750 8X2, o conjunto viajou cerca de 530 quilômetros – por cerca de 30 dias – em velocidade média de 15 km/hora. Cada modelo desta configuração tem capacidade para tracionar até 250 toneladas.
Toda operação exige longo período de planejamento e envolvimento de mais de 50 profissionais, conforme explicou o gerente geral de operações da transportadora Transdata, Albino Roberto Leite. “Começamos a planejar a operação no final de 2014 e só em setembro iniciamos, o transporte”, acrescentou. Construído pela Andritz, em Araraquara/SP, trata-se do maior rotor produzido pela empresa em todo o mundo.
O planejamento leva em conta muitos detalhes da rota a ser percorrida, incluindo mapeamento do trajeto, condições das pistas, pontes, viadutos, túneis e até o relevo, além de envolver um batalhão de profissionais de diferentes áreas para que tudo saia conforme o previsto. Tudo é conferido e as licenças de tráfego são obtidas previamente. A operação é realizada com escolta própria, empresa operadora de logística, neste caso a empresa Deugro, concessionárias de rodovias e a polícia rodoviária. “Acompanhamos a operação para, fiscalizar a carga e garantir a segurança do usuário da estrada”, explicou o tenente Lima Neto da Polícia Rodoviária Estadual.
“A parte mais difícil é coordenar toda a operação”, destacou Leite, ao citar detalhes do transporte, que tem de ser realizado em períodos de baixos fluxos de veículos, geralmente à noite. Só da Transdata, foram mais de 20 pessoas, incluindo os três motoristas dos caminhões FH -750 e mais dois de reserva para possíveis eventualidades.
Roberto Naves Delgado, 35 anos de idade, é o motorista que desempenha a função de “cabeça”, o que dirige o primeiro cavalo-mecânico; Vilson Lima, 44 anos de idade, o do meio, e Adevanir Antônio, 58 anos, o terceiro. Profissionais experientes neste tipo de transporte, eles destacam a facilidade de trabalhar proporcionada pela caixa de transmissão I-shift, a qual permite programar para que os três caminhões mudem de marcha automaticamente ao mesmo tempo, dando mais segurança a todo o equipamento.
O conjunto passou pelo Rodoanel Mário Covas, na cidade de São Paulo, na noite de 24 de outubro e chegou a Santos dias depois. A Transdata tinha 90 dias para entregar a carga no porto e concluir seu trabalho, que foi realizado em um mês. Até dia 19 de novembro, o rotor de turbina estava aguardando o navio para transportá-lo até Belém/PA trajeto que demoraria de 10 a 12 dias de navegação.
Na próxima etapa, a previsão era para mais quatro ou cinco dias de balsa até o posto de Belo Monte e de lá a peça viajaria mais um dia por via terrestre para, finalmente, chegar ao seu destino final, a Bacia do Xingú, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte.