Por Daniela Giopato
Com mais de 7,8 milhões de pneus de carga reformados anualmente no Brasil – segundo dados da Associação Brasileira dos Reformadores de Pneus – ABR – o segmento de reforma se consolidou como um dos mais importantes e colocou o País na posição de segundo maior mercado mundial em nível técnico (padrão internacional) e baixos índices de problemas. Um dos fatores responsáveis pelo crescimento da atividade é a economia gerada para o transportador, que tem o pneu como o segundo e terceiro maior custo do seu negócio.
O setor de transporte rodoviário economiza anualmente cerca de 5,6 bilhões de reais com a atividade de recauchutagem, explica Carlos Thomaz, assessor técnico da ABR. “O transportador se beneficia muito ao optar pelo pneu reformado, que custa em torno de 30% de um novo. A lucratividade é bastante significativa, afinal, algumas empresas compram entre 200 e 300 pneus por mês”, acrescenta. Com a melhora da malha rodoviária, explica Thomaz, as expectativas para os próximos anos são ainda melhores, porque as carcaças terão mais qualidade e estarão sujeitas a menos impactos e cortes. “Na atual condição o índice de rejeição com essas avarias aumenta os custos do transportador e cai a produção na unidade recauchutadora”, conclui.
As vantagens oferecidas para o transportador impulsionaram o surgimento de várias empresas especializadas em reforma de pneu. Na linha de caminhões e ônibus, o Brasil conta com uma rede de aproximadamente 1.300 unidades recauchutadoras, que deverão ostentar, até o final deste ano, o selo do Inmetro de acordo com a Regulamentação da Avaliação da Conformidade (RAC). A competitividade e a disputa saudável entre as empresas são regidas pela busca de soluções tecnológicas que atendam com qualidade, e de maneira eficiente, as necessidades dos clientes.
A Goodyear, por exemplo, disponibiliza uma rede de Recauchutadores Autorizados Goodyear (RAG) treinada constantemente, visando a proporcionar o mesmo padrão de qualidade e procedimentos de reforma dos pneus dentro das especificações técnicas da empresa, conforme explica o gerente de mar-keting comercial, Rubens Campos. “Estendemos a garantia do pneu novo, quando recapado com nosso material durante toda sua vida útil, limitando a cinco anos a partir de sua data de fabricação”, afirma. Para orientar motoristas, a empresa realiza treinamentos, palestras e instrução técnica sobre qual o produto é indicado para o tipo de serviço e as melhores práticas de manutenção.
A DPaschoal, por sua vez, disponibiliza para o mercado o Ultrak, equipamento que procede a análise da carcaça por meio de ultrassom e detecta eventuais defeitos antes e após o processo de recapagem. Deste modo, proporciona ao cliente segurança sobre a integridade da carcaça para receber uma nova vida, ou seja, ser recapado, garante William Bossolani Xavier, marketing linha pesada. “Como o pneu é inspecionado novamente após o uso, é possível também certificar a qualidade total do serviço executado. Além disso, a garantia é estendida, dependendo da marca da carcaça”.
O diferencial em relação ao concorrente, segundo Xavier, está em algumas tecnologias oferecidas ao cliente, como um equipamento que detecta microfuros nos pneus; o Siprog, sistema de informação e gerenciamento que fornece dados em tempo real sobre qualidade do serviço; o Duofeed, alimentador automático das autoclaves no processo de vulcanização; Rec-Control, que garante a correta vulcanização, e o Monotrack, sistema de transporte de pneus.
Equipamentos de inspeção não destrutiva por ultrassom (NDI) e por método ótico (Casing Analuser) são recursos da Bandag para garantir um serviço de reforma seguro e confiável. A empresa, denominada de Bridgestone Bandag Tire Solution (BBTS), após a junção com a Bridgestone, utiliza também o ECI, que permite a identificação de micro-perfurações e evita o surgimento de bolsas de infiltração e degradação da carcaça – durante o processo de vulcanização – e autoclaves com painel de controle digital.
A Bandag desenvolveu também um programa de certificação interno chamado SBQPC – Sistema Bandag de Qualidade Padrão na Concessionária, que orienta o reformador para a melhoria contínua do seu trabalho. “O fato de a rede Bandag utilizar apenas o processo de reforma pré-moldado (a frio) também faz com que a confiabilidade seja maior, pois não há risco de troca de metodologias ou de materiais durante os estágios de produção”, explica Ricardo Drygalla.
Há 36 anos no mercado de reforma de Pneus, a Vipal mantém o Vipaltec, um centro de pesquisa e desenvolvimento que conta com laboratório e tecnologia reconhecidos pelo Inmetro. No local, em Nova Prata/RS, além de pesquisas e testes para desenvolvimento dos produtos e serviços, é realizado ensaios para certificação de pneus novos e reformados. A Vipal também possui uma reformadora padrão para avaliação, validação e testes nos novos produtos e serviços. Trata-se do CTV- Centro Técnico Vicencio Paludo, aparelhado com o que há de mais moderno no segmento de reforma, explica Eduardo Sacco, gerente de marketing.
Para sua rede de reformadores – cerca de 300 espalhados pelo Brasil – a Vipal desenvolveu o Sistema Master, através do qual os profissionais passam por treinamento e rígido controle de qualidade realizado pela equipe técnica da empresa. O sistema possui softwares de controle dos processos de vulcanização que ocorrem nas autoclaves. “Através de nossos reformadores – tanto na Rede Autorizada Vipal quanto na Rede Credenciada Tortuga – oferecemos ao profissional do transporte nossas garantias até a terceira reforma: RQG (Reforma Qualificada e Garantida) e SRG (Sistema de Reforma Garantida)”.
Em 2009, a empresa atingiu a marca de três milhões de pneus reformados com esta garantia. No caso da reforma de pneus da marca Fate (para caminhões e ônibus), as garantias da Vipal e Tortuga foram estendidas até a terceira reforma e paga-se 20% a mais no valor do reembolso em relação a qualquer outra marca. Já a rede credenciada da Moreflex adota como procedimento realizar a inspeção inicial, onde é identificado se o pneu usado apresenta condições de receber uma nova banda de rodagem e que possa garantir a utilização segura e economicamente viável até o fim de uma nova vida. Para garantir o atendimento correto ao frotista, a rede passa por treinamento e realiza visitas técnicas. “É importante avaliar precisamente qual será o tipo de uso para uma perfeita adequação das bandas de rodagem, estes aspectos irão somar a qualidade da reforma e garantirão segurança e rendimento ao transportador”, explica o diretor comercial e marketing, Saulo Muniz Gonçalves.
Entre os produtos que a empresa disponibiliza para o mercado está o conceito da Série H, bandas de rodagem que têm como diferencial perfil de base adequado ao arredondamento dos pneus e superfície plana, que proporciona maior área de contato com o solo. Já o sistema MAC – Moreflex Auto Controle – é um processo computadorizado instalado na autoclave do reformador credenciado, que monitora o processo de vulcanização.
A Drebor, empresa localizada em Cuiabá/MT, tem entre seus diferenciais em relação aos demais fabricantes do setor a banda de base fina para todos os desenhos disponíveis, controle de tempo, de temperatura e de pressão da autoclave durante a vulcanização, e acompanhamento online de todos os procedimentos de reconstrução dos pneus, em toda sua rede de reformadores. A banda de base fina é uma exclusividade da marca, integra o Sistema Pré-moldado Drebor, ou Drebor/SPD, que realiza a fabricação e aplicação de bandas.
Além de produtos e serviços, a Drebor, através dos assistentes de frota, realiza visitas constantes a frotistas e orienta os motoristas sobre melhor utilização e aproveitamento da carcaça. “Em parceria com os concessionários realizamos palestras técnicas que auxiliam os condutores sobre os cuidados a serem adotados para aumentar a quilometragem e assegurar a economia”, afirma o gerente de comunicação e marketing, Adriz de Oliveira.
A Pirelli conta com o programa Excelência na Consultoria a Frotas (ECF), destinado a clientes frotistas, que detecta possíveis falhas de aplicação no uso dos pneus e indica os caminhos práticos para as suas soluções. De acordo com Flávio Bettiol, diretor da unidade de negócios caminhão e agro, o ECF mostra com precisão as necessidades de melhorias, contribuindo para que o transportador reduza eventuais perdas e aumente a rentabilidade nas operações com pneus, a partir de dados técnicos.
O diferencial de tecnologia da empresa na reforma de pneus fica por conta do Novateck, uma solução para a reconstrução de pneus de caminhões e de ônibus desenvolvida para prolongar o desempenho dos pneus originais e reduzir os custos operacionais das empresas de transporte. “Garantimos até a terceira reconstrução de todos os pneus que apresentarem condições técnicas e forem reconstruídos com a banda Novateck”, afirma .
A Michelin oferece aos seus clientes um serviço exclusivo voltado para a economia do custo do quilômetro rodado denominado Refill, que envolve carcaça e banda de rodagem Michelin, processo Michelin e sistema de informação (rastreamento do pneu em toda etapa). O gerente de marketing pneus de ônibus e caminhão, Paulino Padilha, explica que com o Refill, depois da primeira vida a carcaça é submetida a uma espécie de teste para validação de sua condição e recebe uma nova banda de rodagem.
No processo, os grandes diferenciais estão nos equipamentos utilizados, como a EPD – Eletronic Perforation Detector – sistema eletrônico de identificação de microfuros, furos e danos no interior do pneu imperceptíveis a olho nu, e a CCA – Computer Controlled Application – aplicação automatizada da goma de ligação, por extrusão e eliminação de possíveis bolhas de ar entre as rugosidades provocadas durante a recapagem. Este processo proporciona um rendimento quilométrico superior a 40% na vida total do veículo.
Para garantir a carcaça um contorno uniforme e regular e facilitar a aplicação da banda, a Tipler investe na raspagem computadorizada (Lukatec), além de técnicas de ajuste continuado e bandas em tamanho apropriado, resultando em maior simetria e ajuste sobre a carcaça. Na autoclavagem, sistemas automáticos de controle de processo somados a softwares de acompanhamento geram garantia do processo por ter sido feito de acordo com a Receita Tipler. “Apostamos também no treinamento dos concessionários para implementar critérios de reparo de danos extremamente fortes”, afirma Sérgio Bica, diretor comercial.
Diversos softwares e sistemas de controle de frota de pneus são disponibilizados aos clientes e utilizados para indicar falhas prematuras e ou consumo excessivo tanto de pneus quanto de seus agregados. A aplicação destes softwares dirige o programa de treinamento de usuário, motorista e pessoal de controle de pneus na melhor rentabilidade do produto.
A Marangoni destaca os anéis pré-moldados Ringtread – sistema de reconstrução de pneus que utiliza anéis prensados e produzidos em forma circular e sem emendas – como diferencial em relação as demais empresas do setor de reforma. O gerente de marketing, Hermes Prado Júnior, explica que o anel adere perfeitamente à carcaça sem nenhuma tensão ou deformação do desenho da banda de rodagem. A tecnologia de reconstrução também utiliza a inspeção shearografica para separar e eventualmente corrigir qualquer defeito da carcaça. “Treinamos nossa rede de autorizadas para que a averiguação de carcaças estejam dentro dos mais rigorosos critérios conferindo às carcaças garantias para seu uso”.
REFORMA E MEIO AMBIENTE
A produção de uma banda de rodagem consome cerca de 31% do total de derivados de petróleo utilizados para a fabricação de um pneu novo, que exige 79 litros de petróleo, contra apenas 29 para uma reforma, tratando-se um pneu de carga. A informação é de Carlos Thomaz, da ABR. Ele acrescenta que a recauchutagem ganha importância no contexto ambiental, por ser uma atividade que não polui, permite que seus resíduos sólidos sejam reciclados e posterga o descarte da carcaça.
Eduardo Sacco, da Vipal, lembra que reforma e reparos bem feitos reduzem muito o problema de sucateamento prematuro de pneus e permite que eles tenham vidas adicionais e seguras. A atividade também evita que cerca de quatro milhões de pneus produzidos diariamente no mundo sejam descartados prematuramente. “O perfil ecológico impulsiona as principais nações a investirem cada vez mais no segmento de reforma”, afirma.
As empresas do segmento também têm trabalhado para ser ecologicamente corretas e por conta dessa preocupação têm desenvolvido projetos ambientais. A Pirelli, por exemplo, apoia e estimula o extrativismo sustentável no Acre garantindo a aquisição de toda a borracha natural produzida no Estado através do projeto Xapuri. Ao lado de outros fabricantes de pneus integrantes da ANIP, a empresa participa do Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis. “Quanto maior o número de reconstruções mais os recursos utilizados na fabricação de pneus são preservados”, cita Flávio Bettiol.
A Drebor participa de diversas campanhas regionais em favor da preservação do meio ambiente e há anos divulga a necessidade de cuidados e preservação do Pantanal de Mato Grosso. “Mesmo antes de se falar de reciclagem, de haver o reconhecimento unânime da necessidade de preservação do meio ambiente, a Drebor já trabalhava no desenvolvimento de um sistema de reconstrução de pneus para aumentar a vida útil das carcaças”, destaca Adriz Oliveira.
O setor de reforma, conforme opina Saulo Gonçalves, da Moreflex, merece ser reconhecido como um aliado da “economia verde” e da preservação ambiental. Ao evitar o descarte prematuro das carcaças, a atividade de reforma estende o ciclo de vida do pneu e reduz o consumo de recursos naturais importantes como o petróleo e energia elétrica.
Dentro do conceito “Ciclo do Pneu” que envolve rede de revendedores autorizados, serviços e suporte aos clientes, ferramentas e softwares exclusivos para o gerenciamento dos pneus e avançada tecnologia de recauchutagem, a Goodyear divulga endereço de todos os pontos de coleta de pneus inservíveis “Eco Pontos” visando o destino ecologicamente correto para essas carcaças. “Quanto mais aplicarmos boas práticas de manutenção dos pneus, maior será o número de recapagens dos mesmos”, afirma Rubens Campos.
Atualmente, a DPaschoal trabalha o programa Economia Verde para auxiliar os clientes da marca a economizar pneus, combustíveis, peças e desta forma reduzir o descarte prematuro destes produtos ao meio ambiente. A empresa disponibiliza para os autônomos o Pit Stop Verde. “Apesar de o nosso foco ser evitar o descarte prematuro, também trabalhamos para dar destino ecologicamente correto para todos os produtos substituídos em suas lojas”, explica Willian Bossolani Xavier.
A Bridgestone Bandag mantém diversos programas de proteção ambiental em suas unidades, fazendo a coleta seletiva e destinação correta de seus resíduos. A empresa participa do Cadri – Certificado de Autorização para Destino de Resíduos Industriais e do Reciclanip, projeto para coletar pneus inservíveis. “Uma banda de rodagem de qualidade, na medida que oferece maior durabilidade também contribui para um menor consumo de combustível em função da menor resistência ao rolamento proporcionada pelo maior tempo de uso da banda com profundidade de sulcos reduzida”, destaca Ricardo Drygalla.
A preocupação com a preservação ambiental também é tratada de forma obsessiva pela Tipler e vai desde uma simples instrução de uso de papel reciclado até estações de tratamento de ar e água servida, passando por prédios projetados e construídos segundo normas internacionais de sustentabilidade. “A reforma de pneus tem importância vital, caso não existisse o consumo de produtos derivados de petróleo neste segmento teria um significativo aumento e, por conseqüência, um desdobramento de agressão ao meio ambiente de proporções muito grandes”, estima Sergio Bica.
O processo produtivo da Marangoni, conforme explica Hermes Prado, reaproveita ao máximo todo o material utilizado e assim evita-se o descarte em excesso. Sobras e outros resíduos são revendidos para empresas que os aproveitam. Hermes exemplifica o caso das borrachas já vulcanizadas vendidas às cimenteiras para alimentar autofornos. “A reforma de pneus é, por natureza, uma atividade de preservação do meio ambiente. A reutilização de um material de descarte tão detalhado e delicado com a borracha evita que mais material seja descartado de forma incorreta causando cada vez mais danos ao meio ambiente”, opina.