Entre as expectativas dos carreteiros para os próximos anos, preços mais adequados para o pedágio e óleo diesel encabeçam a lista de prioridades. Locais de parada, segurança, fiscalização na estrada e tabela de frete com valor mínimo também estão entre os desejos dos estradeiros
Por Daniela Giopato
Carreteiros com mais de 30 anos de estrada sabem quanto o transporte rodoviário de cargas se transformou. Entre as mudanças que mais se destacam estão as concessões de rodovias, (o País possui 204.078 km de rodovias pavimentadas, sendo 19.683 km concedidas), os sistemas de rastreamento e monitoramento, a tecnologia embarcada nos caminhões e aplicativos de frete, entre outras que mexeram com o dia a dia, o comportamento e o lado profissional dos carreteiros.
As mudanças incluíram também aumento das ocorrências de roubos de carga e também das exigências dos transportadores em relação aos motoristas. Somente a carteira de habilitação e uma condução responsável deixaram de ser suficientes. Assim também como a visão romântica da profissão, na qual era encarada como uma alternativa de ganhar dinheiro. Hoje os transportadores exigem profissionais mais qualificados para conduzir os seus caminhões, os custos envolvendo o transporte ficaram maiores – como é o caso do preço do óleo diesel e dos pedágios.
Apesar dos desafios enfrentados atualmente pelo setor, os motoristas reconhecem as evoluções e benefícios já aplicados, porém, acreditam ser importante algumas mudanças para um futuro mais promissor e rentável no transporte. Na lista de desejos dos profissionais da estrada aparecem reinvindicações antigas como preços mais justos para o óleo diesel e pedágio, locais de parada com infraestrutura, mais segurança nas estradas e aplicação da tabela com valor mínimo de frete.
Isso é o que defende o autônomo Jair Xavier Maia, 51 de idade e 34 de profissão, de Tabuleiro do Norte/CE, que viaja o Brasil inteiro com todo tipo de carga e já vivenciou muitas mudanças no transporte. “Em três décadas, as rodovias melhoraram muito e mesmo tendo de arcar com as tarifas de pedágios, existem muitas vantagens de se trafegar por pistas conservadas”, disse o carreteiro. Ele lembra que no passado enfrentava muitos buracos nas estradas que comprometiam a manutenção do caminhão. Hoje esse problema diminuiu muito e a maioria dos locais por onde passo já estão duplicados e com boa estrutura. Antes tinha dificuldade até de ultrapassar quando era necessário”, relatou.
Jair acredita que atualmente a criação e o cumprimento de uma tabela mínima de frete seriam mais um passo na evolução no transporte. Em sua opinião, se essa tabela realmente sair do papel vai melhorar muito para o motorista. “Não haverá mais frete de retorno, que quase sempre aceitamos pela metade do preço. Com esse valor médio poderemos saber quanto vamos realmente receber”, comentou.
Porém, Jair espera mais do futuro. Ele acredita que faltam ainda mais locais de parada para o motorista realmente descansar. “São poucas as opções de postos para pernoitar. E por conta disso, às vezes é difícil achar vaga para estacionar. Tem posto em Feira de Santana/BA, por exemplo, que cobra até para encher a garrafa d´água. Essa situação é uma das mais difíceis de lidar na estrada. A minha expectativa para os próximos anos é que sejam construídos mais pontos de paradas com estrutura para nos receber”, destacou.
Mesmo com esses entraves, ele acredita que está na profissão certa e enxerga muitas melhorias pela frente. “Não me arrependo das escolhas que fiz. Começaria tudo de novo. Penso apenas que se fosse começar hoje não teria passado por tantas dificuldades e ingressaria com muitas melhorias, como caminhões modernos e estradas boas”, destacou.
É o caso de José Marinho da Silva Filho, carreteiro de Surubim/PE, 28 anos de idade e sete de profissão. Ele comentou que apesar de ter ingressado na profissão em um período em que os caminhões já estavam num estágio evoluído, e as estradas em melhores condições, o valor do diesel era mais compatível com o do frete. “Pouco tempo depois veio a fase ruim e a conta não fechava mais e só comecei a sentir alguma melhora depois da greve”, ressaltou.
Para os próximos anos, José Marinho espera que a situação se mantenha, com os valores mais acessíveis e justos do diesel e frete. “Agora está dando para seguir de um jeito mais tranquilo, espero que continue assim. A conta começou a fechar e consigo voltar a sonhar em ser autônomo e ter o meu próprio caminhão. Quem sabe dentro de dois anos?”, imaginou.
Marinho, que na ocasião da reportagem estava acompanhado da esposa Melina Moana, pede também pedágios com valores mais acessíveis. No seu caso, que roda na rota São Paulo-Pernambuco, o custo supera mil reais. “Por isso, eu digo, não existe romantismo na profissão, existe você gostar e ter vontade de fazer dar certo. E também acreditar que as coisas podem melhorar”, concluiu.
A expectativa de um valor mais justo em relação ao frete é a expectativa de Gedson Thompson, 41 anos de idade e 12 de profissão, de Cachoeira do Itapemirim/ES. “Gostaria que os valores fossem mais bem repassados. Hoje recebemos R$ 2.500 por um frete que na verdade vale mais de R$8.000. As transportadoras ganham muito em cima da gente”, desabafou.
O valor do frete é um dos fatores que também mais incomodam Gedson. Na sua opinião, nesses 12 anos a única coisa que realmente evoluiu foi a infraestrutura da estrada. “O asfalto é ótimo, pelo menos na rota que atuo, mas não consigo pensar em nada mais que tenha melhorado. As leis, as exigências estão cada dia mais focadas no motorista, e isso atrapalha o dia a dia na estrada”.
Em relação ao diesel, uma das principais reclamações da categoria, Gedson acredita que depois da greve “deu uma melhorada” mas ainda pode ser mais acessível. “Agora está dando para suportar, percebo uma diferença de R$ 400 reais a mais no meu rendimento. Espero que continue assim pois antes estava bem complicado”, destacou.
Jackson Gomes Ribeiro, de Marataizes/ES, 29 anos de idade e nove de profissão, também faz a rota Espirito Santo e São Paulo, e disse que começou a profissão em uma época onde as estradas já contavam com boa estrutura para o transporte. Por outro lado, pegou a fase em que o frete deixou de acompanhar os custos. “As despesas estão muito altas, preço do pedágio é um pouco abusivo e existe muita insegurança nas estradas. Isso tudo complica nossa profissão”, afirmou.
Para o futuro do transporte, Jackson espera ver mais segurança na estrada com fiscalização justa e que os valores do diesel e do pedágio não pese tanto no bolso do carreteiro autônomo. Isso, sem esquecer a tabela de preço mínimo de frete. “Se esses itens fossem realmente colocados em prática, seria mais fácil sobreviver na profissão”, analisou.
O autônomo Carlos Antônio do Divino, Londrina/PR, 48 de idade e 30 de profissão, viaja pelo País com todo tipo de carga. Há 30 anos na estrada, acha que a principal evolução no transporte foi a melhoria das estradas. A tecnologia dos caminhões também é apontada por ele como grande e boa mudança. “Além disso, hoje temos mais opção de cargas e os aplicativos de frete facilitaram a nossa busca pela melhor oportunidade. Isso ajuda muito”, destacou.
Mas, em contrapartida, Carlos reforça que o frete e as condições de trabalho foram piorando. “Hoje, o diesel e o pedágio estão muito caros e reduzem nosso ganho. Antes o meu faturamento era melhor. As condições em geral evoluiram bastante, mas a conta entre os custos do transporte e o que recebemos não fecha mais, contabilizou”.
Apesar de o futuro ser algo imprevisível, e depender de decisões até governamentais, Carlos espera melhorias no transporte. Como todo autônomo, acredita que é importante repensar os valores aplicados no diesel, pedágio e investir na segurança e em pontos de paradas. “Com o aumento do número de caminhões nas estradas, temos que parar de rodar cedo para encontrar vaga nos postos. Caso contrário, a situação se torna complicada e arriscada. Os locais de parada não acompanharam o crescimento da frota”, ressaltou.