O caminhão não pode parar, mas o motorista precisa se alimentar, seja uma refeição preparada por ele ou de restaurante de beira de estrada, esta opção que pesa no bolso até mesmo de quem trabalha como empregado. Seja qual for o prato do dia, boa parte dos profissionais cozinham na estrada. Mas isso consome tempo e exige cuidados com os alimentos, principalmente se o carreteiro não tem geladeira no caminhão
Por Diogo Mendes
Cozinhar na estrada é parte do dia a dia de muitos carreteiros, principalmente dos autônomos, que não têm condições de comer todos os dias, ou mesmo com mais frequencia, em um restaurante, já que acaba pesando no bolso. Por essa razão, a caixa de cozinha é a grande protagonista na rotina dos condutores da estrada. Não por acaso, eles dão atenção especial ao item mantendo a caixa de cozinha bem organizada e abastecida, com fogão e, em alguns casos, até com geladeira. Porém, a rotina de alimentação do motorista nem sempre acontece de acordo com a recomendação de especialistas da área da saúde.
Não faltam motivos para que o motorista de caminhão deixe de se alimentar a cada três horas e com uma refeição balanceada. As principais dificuldades são a correria provocada pelos horários apertados impostos pela atividade, a falta de locais adequados de parada, o dinheiro curto (no caso do autônomo), ou o baixo valor disponibilizado no cartão refeição (no caso do empregado).
Embora esse tema já tenha sido abordado na Revista O Carreteiro, nossa reportagem foi para a estrada verificar exatamente como os estradeiros estão convivendo com a questão da alimentação, o que compram e como armazenam e preparam suas refeições. O autônomo Jones Kock, 37, de Planalto/RS, por exemplo, prepara todas as suas refeições do dia, desde o café da manhã até o jantar.
Além da questão de economia obtida em preparar a própria alimentação, Kock disse que gosta de saber o que está comendo e para isso ele conta com uma geladeira em seu caminhão. Lembrou que no começo da carreira era mais difícil se alimentar, porque perdia tempo com idas ao mercado para fazer pequenas compras. Hoje em dia, no entanto, não vive mais sem o equipamento para conservar os alimentos que carrega nas viagens, conforme afirmou. “Quem está acostumado com a geladeira não vive mais sem ela, pela facilidade de guardar e manter alimentos como carne, queijo, frutas, verduras e água gelada”, concluiu.
Outros motoristas, como Diniz Aguirre Acosta, 48 anos de idade, de São Borja/RS, estão sempre atentos às condições climáticas para decidir onde e quando vão fazer as refeições. Segundo ele, o bom carreteiro se vira e nunca fica refém de restaurantes, onde pode perder todo o lucro do frete. “Tenho ajuda de R$ 200 por mês de auxílio alimentação, por isso não me dou ao luxo de fazer as refeições sempre em restaurantes”, explicou.
Sem geladeira no caminhão, ele disse que guarda os alimentos não perecíveis diretamente na caixa cozinha e se estiver perto de um açougue ou sacolão, compra alimentos para consumir no mesmo dia, como carne e frutas. Aguirre contou à reportagem que muitas vezes faz rateio com seus companheiros de estrada para baratear o custo das refeições e que preparando sua própria comida chega a economizar até R$ 400 ao mês.
O carreteiro Roberto Oliveira dos Santos, 35, gaúcho de São Luís Gonzaga (morando atualmente em Taboão da Serra/SP), contou que se tiver de comer em restaurantes ele procura pelos locais com os menores preços. Também sem geladeira no caminhão, e sem ter onde conservar, disse que costuma comprar na hora arroz, carne, tomate e cebola. “É possível viajar sem geladeira, mas o equipamento dá um conforto invejável ao motorista. A empresa deixa colocar qualquer tipo de geladeira, mas o custo é por minha conta e hoje eu não tenho esse dinheiro” lamentou.
De acordo com Santos, uma geladeira externa custa atualmente em torno de R$ 3.500, e a interna por até R$ 2.000. Fanático por frutas e verduras, ele disse que segue à risca a recomendação dos nutricionistas, de colorir o prato com variedades, embora reconheça que precisa se virar se quiser ter um cardápio variado.
Dificuldades com alimentação não é problema enfrentado pelo carreteiro Dilan Menezes, 34 anos de idade, de Caxias/RS. Adepto de preparar suas refeições, ele afirma que a regra é consumir alimentos básicos. “Se eu fosse comer em restaurantes, gastaria em média R$ 1.500 por mês. Como sempre faço no caminhão e divido as refeições com os colegas de profissão, o valor fica em torno de R$ 500,00 por pessoa, mas sem o café da manhã”, detalhou.
O que se faz para comer na estrada não depende apenas de condição financeira, mas também de tempo para o preparo, destacou André Ribeiro,36 anos de idade. “O que nós vamos comer, se é algo mais básico ou mais completo, leva no mínimo uma hora e meia para ser preparado. E para nós, carreteiros, tempo é dinheiro, por isso, às vezes não tenho problema algum em fritar um ovo”,
Ele acrescentou que a diária que recebe da empresa não dá para fazer todas as refeições em restaurantes, então opta por fazer uma ou outra. Disse ainda que comparar o custo entre fazer a própria comida e comer em restaurante, no final do mês a diferença chega a ser de até 70%. Quanto à geladeira no caminhão, afirmou que se trata de um sonho de consumo, principalmente no verão, quando a vontade de tomar um líquido mais gelado bate mais forte.
DIETA BALANCEADA
A forma como o motorista se alimenta influi diretamente nas suas condições de trabalho após as refeições.
O consumo de alimentos pesados, por exemplo, causa mais sonolência na estrada. Quanto às opções do que consumir, se puder dê preferência cozidos, assados ou grelhados, pois são mais saudáveis alimentos fritos. Para saber como lidar com essas condições, leia o quadro abaixo:
- Procure variar o cardápio com frutas, legumes e verduras.
- Não exagere no consumo de açúcar e sal.
- Evite o consumo de alimentos pesados se for viajar à noite, pois demoram mais para serem digeridos pelo organismo e causam sonolência e cansaço.
- Não permaneça longos períodos sem comer. A dica é deixar sempre uma fruta por perto e ir beliscando durante a viagem.
- Em vez de refrigerantes e sucos industrializados, prefira beber água ou suco natural e hidrate-se constantemente