Por Fernanda Schena

Muitos motoristas fazem como antigamente e ainda preferem preparar a própria refeição na caixa cozinha do caminhão. Embora dê algum trabalho e consuma certo tempo, esta prática tem dois pontos positivos: a certeza de consumir um alimento saudável e a economia de dinheiro com refeição, item que também pesa no orçamento do carreteiro autônomo, principalmente.

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A forma encontrada pelo carreteiro Ibamar Antônio Bakes para ter alimentos frescos nas viagens foi a compra de uma geladeira para o caminhão

Porém, quem tem o hábito de cozinhar na estrada sabe que dependendo da condição climática os cuidados devem ser redobrados. Com a chegada do verão, por exemplo, as altas temperaturas podem estragar rapidamente os alimentos. Caso o motorista não perceba, o resultado pode vir algumas horas após a ingestão em forma de fortes dores estomacais. A nutricionista Márcia Penz, explica que consumir produtos contaminados pode causar uma toxi-infeção alimentar e provocar diarréia, náuseas, mal estar, cansaço e fadiga. “Dependendo do caso, pode até levar à morte”, alerta. Ainda de acordo com ela, a grande maioria dos carreteiros passa mal por falta de cuidados com a alimentação no Verão. “Devido às altas temperaturas, é preciso muita atenção na conservação, além de haver necessidade de ingestão de bastante líquido”, acrescenta a nutricionista.

Uma das alternativas dos motoristas autônomos para manter os alimentos em bom estado para consumo é investir na compra de uma caixa refrigerada ou geladeira. Preocupado com a saúde alimentar, há dois anos o carreteiro Ibamar Antônio Backes, 35 anos de idade, do município de Carazinho/RS, que muitas vezes fica até trinta dias fora de casa, comprou uma geladeira para o seu caminhão. “Faço os lanches, café da manhã e jantar, e, quando dá tempo preparo o almoço também, se não, vou para algum restaurante porque é mais prático e rápido”, relata. Orgulhoso ele mostra o que costuma carregar como iogurtes, frutas, queijo e carne, lembrando que sai de casa tranquilo mesmo quando ‘faz muito calor’.

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Acostumado a preparar suas refeições no caminhão, Vilson Sabino da Silva diz que atualmente não precisa mais comprar alimentos todos os dias

Assim como Ibamar, Vilson Sabino da Silva, 59 anos de idade, adquiriu uma geladeira há cerca de cinco anos e prepara suas refeições. “Antigamente, quando eu fazia comida no caminhão tinha de comprar tudo no dia para não estragar. Como viajo direto, por quase um mês, valeu a pena ter investido, pois fico mais tranquilo com os alimentos refrigerados”, afirma Vilson. Na cozinha do seu caminhão, os pratos mais comuns são arroz a carreteiro, batatas e carne. A nutricionista faz um alerta para os carreteiros que não possuem local adequado para conservar os alimentos evitarem produtos perecíveis como leite e derivados, embutidos e de origem animal, pois deterioram facilmente e por isso oferecem maior risco de contaminação. “É preferível levar alimentos secos (biscoitos, torradinhas, cereais, enlatados, como atum e sardinha) que tem uma deterioração mais lenta”, orienta a nutricionista.

Em muitos casos, preparar a comida na estrada é uma diversão, conforme conta Felipe Schena, carreteiro gaúcho de 24 anos de idade. De acordo com ele, nessas ocasiões geralmente um grupo de amigos combina o local onde parar para fazer a refeição. “Assim é mais divertido. Combinamos com carreteiros de outras cidades, conhecidos e amigos e decidimos o que vai ter de almoço e jantar”, explica.

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Reunir motoristas em mesmo local nas paradas para refeição, e decidir o que preparar para comer, é uma diversão para o jovem motorista Felipe Schena

Felipe diz que a carne, por exemplo, é comprada em quantidade suficiente para o consumo diário, pois todos têm muito cuidado com a conservação para não estragar nada. ” Os pratos que mais saem na caixa cozinha são arroz a carreteiro, galinhada e massas. São comidas de preparo rápido, o tempo é precioso”, acrescenta. Frutas como mamão, banana e maçã ele compra na estrada diariamente.

O carreteiro Darlã Pechi, de Ampere/PR, tem 24 anos de idade diz ser fácil preparar um prato de massa com salame, o qual ele diz ser o mais frequente no seu cardápio. “Com as temperaturas altas eu tomo bastante líquido e consumo bastante frutas”, afirma Darlã. Quanto às frutas, Márcia Penz lembra que devem ser adquiridas preferencialmente no dia, principalmente aquelas que se deterioram mais rapidamente, como banana, pêssego e mamão. Já a maçã e pêra são frutas que conservam de um dia para outro em temperaturas mais altas e podem ser armazenadas por até dois dias. “Mas devemos lembrar que nenhuma fruta tem durabilidade maior que três dias”, sinaliza a nutricionista.

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Fora da geladeira, no Verão a comida preparada tem de ser consumida no máximo até o dia seguinte, comenta o paranaense Darlã Peche

O carreteiro gaúcho Lano Calegaro diz que o ideal é comprar pouca comida, para não estragar e no seu caso e de seu colega Amaurelino Gancini, o máximo que um salame pode durar são quatro dias, enquanto frutas e pão têm de ser comprados todos os dias. “Temos que nos cuidar, eu já tive problemas de saúde no Verão por causa da má alimentação na estrada e falta de água”, lembra. “Café com salame e queijo é uma beleza”, conclui Amaurelino.

Um alerta em relação aos alimentos está relacionado aos embutidos, como salame e salsicha. Embora sejam de fácil preparo e com elevado teor de sal, o ideal é mantê-los sempre sob refrigeração também. Isso porque o calor vai retirando o liquido do alimento, e ao mesmo tempo oportunizando um ambiente para o desenvolvimento de alguns fungos. Ainda de acordo com Marcia Penz, os embutidos são um risco à alimentação de qualidade e saudável, podendo ocasionar, mais tarde, doenças cardiovasculares, diabetes, colesterol alto e mau funcionamento do intestino.

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Lano Calegaro diz que já teve problema de saúde por causa de má alimentação. Seu colega Amaurelino Gancini só prepara lanches no caminhão quando dá tempo

Falta de água também faz mal à saúde. A ingestão de líquido recomendada é de 1,8 litros ao dia, independente da estação do ano, porque o corpo humano deve se manter hidratado, lembrando sempre que, este líquido deve ser água e, que no verão é preciso redobrar a atenção, afinal, o líquido é eliminado pelo corpo.

Alimentos estragados
Um alimento contaminado tem alteração em suas características como cor, odor e sabor, podendo muitas vezes possuir bolores visíveis. No entanto, a nutricionista Marcia Penz, ressalta que existem micro-organismos que não desenvolvem alterações externas. Estes são mais perigosos, pois podem ser ingeridos sem perceber. No pão, em geral, se desenvolvem bolores, nas frutas muitas vezes manchas ou bolores de pequena proporção, já as carnes tem alterações percebíveis através do mau cheiro e da cor escurecida. Mas o macarrão, biscoitos e laticínios geralmente não apresentam características alteradas.