Por Daniela Giopato

Nos últimos 45 anos o setor de transporte rodoviário de carga passou por diversas transformações. A extensão da malha rodoviária cresceu, a tecnologia embarcada foi incorporada aos caminhões, transportadores passaram a utilizar sistemas de rastreamento, monitoramento e telemetria para inibir o roubo de carga, melhorar a logística e tornar o negócio mais eficiente e rentável. A carta frete chegou ao fim e exigências como o Registro Nacional do Transportador Terrestre (RNTRC), cursos e treinamentos abriram espaço para a formalização e profissionalização do setor.

Por outro lado, algumas dificuldades inerentes ao dia a dia dos profissionais que atuam no segmento, entre elas o valor alto do diesel, falta de conservação das estradas, aumento do roubo de cargas, defasagem do frete e escassez de carga, ficaram ainda mais evidentes. Como consequência, todos os envolvidos na cadeia passaram a conviver com a falta de mão de obra especializada para operar os caminhões e de perspectiva de um futuro mais promissor na atividade.

No momento que o País começar a crescer, mais carga será movimentada e os preços praticados também irão melhorar, afirma José Hélio Fernandes, presidente da NTC
No momento que o País começar a crescer, mais carga será movimentada e os preços praticados também irão melhorar, afirma José Hélio Fernandes, presidente da NTC

Para o presidente da NTC & Logística, José Hélio Fernandes, no caso das empresas de transporte, um dos principais problemas atualmente é a falta de carga, resultado da estagnação da economia. Menos carga representa uma competição maior, o que acaba comprometendo as margens das empresas e que pode ter reflexos sérios no futuro caso não exista uma consciência de planejamento. Outros problemas citados são o roubo de carga e a falta de infraestrutura.

“O primeiro passo para melhorar o setor está na recuperação da economia. No momento que o País começar a crescer, mais carga será movimentada e os preços praticados também irão melhorar. Em relação ao roubo de carga, quanto mais se transporta, maior o risco, porque direciona a atenção dos criminosos para o que parece vantajoso, mas estamos sempre trabalhando em conjunto na busca de soluções”, afirma.

Para Diumar Bueno, da CNTA, o recadastramento no RNTRC deverá passar uma peneira nos cadastros e qualificar melhor os diferentes tipos de transportadores
Para Diumar Bueno, da CNTA, o recadastramento no RNTRC deverá passar uma peneira nos cadastros e qualificar melhor os diferentes tipos de transportadores

Apesar do cenário político e econômico desfavoráveis, José Hélio acredita em um futuro promissor e positivo para as empresas que se mostrarem eficientes. Lembra que as crises veem e passam. Essa não será nem a primeira e nem a última. “O segredo, nesse momento, é manter a persistência, melhorar a gestão e tomar medidas preventivas. As pessoas e empresas acabam aprendendo no momento de necessidade”, destaca.

Em relação aos motorista de caminhão – a outra ponta do setor – o presidente da CNTA – Confederação Nacional do Transportador Autônomo -, Diumar Bueno, acredita que o principal problema está na remuneração, além de várias outras questões como segurança e frota antiga, por exemplo. A questão maior que o motorista enfrenta hoje – e é nocivo para todo o segmento de transporte, até mesmo para as empresas -, é que os operadores não têm o transporte como atividade principal.

“Os transportadores de carga própria interferem com uma força muito grande, principalmente nos locais de frete de retorno, como as regiões Norte, Nordeste e no Estado do Mato Grosso, porque eles vão com produtos para venda e entrega, mas acabam carregando qualquer carga com valor mínimo somente para pagar as despesas do retorno, diferente dos transportadores que tem o transporte como finalidade principal”, explica Bueno. O presidente da CNTA diz que ele pode ter duas atividades, mas é preciso que ao tratar de transporte, ele exerça como os demais, ou seja, ir e voltar com frete contratado e não da outra forma, voltar carregando por qualquer valor, pois isso interfere radicalmente no setor ” complementou.

Outra questão, abordada por Bueno refere-se ao número excessivo de aventureiros no mercado, com a ideia errada de ganho fácil e rápido. Por conta disso acabam comprando caminhões sem ter o mínimo de conhecimento da operação de transporte criando um excedente no mercado e prejudicando aqueles que sobrevivem especificamente do transporte. Ele diz que o recadastramento do RNTRC, realizado pela ANTT, tem gerado grande expectativa, pois deverá passar uma peneira em todos os caminhões que foram cadastrados para ter o registro, qualificando melhor o que é empresa de transporte, caminhoneiro autônomo ou empresa de carga própria.

Ainda de acordo com o presidente da CNTA, não se deve permitir ou dar registro para o transportador de carga própria realizar frete, principalmente no retorno, ocasiões em que às vezes carregam só pelo preço do diesel, causando prejuízos no valor de fretes praticados no mercado. “As linhas de crédito criadas pelo Governo para aquisição de caminhões não podem ser concedidas às empresas que não tenham o transporte autônomo como atividade principal”, destaca.

Para Diumar Bueno é difícil fazer previsão em um País onde não se tem segurança da política de governo federal. No entanto, ressalta ser importante observar que mesmo nos países de primeiro mundo, que fizeram a opção no passado por outros modais de transporte, existe crescimento rodoviário, devido à própria natureza de aumento de produções e de distribuição nos pontos de consumo, sejam industriais ou comerciais.

“Acredito que haverá mudança no modelo praticado, hoje no Brasil. O transporte rodoviário vai continuar intensificado. À medida que cresçam outros modais, a tendência é que os caminhoneiros façam trajetos mais curtos, e não como hoje, com caminhões cada vez maiores para longos percursos”, opina. Para ele, a tendência é que o transporte de longo percurso acabe, e acrescenta que os carreteiros serão mais utilizados nos portos e terminais ferroviários para fazer entrega e distribuição nos grandes e pequenos centros consumidores”, conclui.