Produzir, vender e prestar pós-venda eficiente já deixaram de ser suficientes para as montadoras conseguirem atender de modo pleno os clientes que querem o caminhão mais adequado à sua operação. Esse movimento, que há tempo deixou de ser novidade, tem como um de seus exemplos as alterações aplicadas pela Mercedes-Benz ao Actros 2546 6×2 para atender um dos seus grandes clientes
Por: João Geraldo
Fotos: Alexandre Andrade
Tornar o caminhão adequado ao mercado brasileiro é lição de casa de todo fabricante de caminhão, sobretudo porque quase totalidade dos modelos aqui produzidos incorporam projetos e tecnologias de produtos desenvolvidos em unidades de outros países. Em nosso caso, veículos de carga estão bem próximos do padrão da Europa, fato claramente visto nas cabinas avançadas e certas composições. No entanto, para que o veículo seja uma ferramenta produtiva, e mais ao gosto do cliente, em qualquer lugar, as adequações ao mercado são fundamentais.
Mesmo após terem o veículo pronto e adequado ao mercado e operações, existem ainda outros desafios a serem cumpridos pelas montadoras, que vão além da expectativa de serviço completo de atendimento pós-venda. São as solicitações de customização por parte de grandes clientes.
Aliás, o atendimento eficiente e rápido tem sido um dos pontos que regem a preferência dos transportadores entre uma e outra marca. Isso porque a pequena diferença entre os produtos dos grandes fabricantes fizeram o caminhão ser visto mais como uma solução na cadeia do transporte do que propriamente um veículo de carga.
Mas nem sempre a configuração feita na linha de produção é a solução que o cliente aspira e aí entra a customização. Um exemplo está nas mudanças solicitadas pela Raízen (junção de parte dos negócios da Shell e da Cosan) à Mercedes-Benz para o Actros 2546 6X2. A empresa tinha testado e gostou do modelo para operar com tanque, porém tinha preferência por um cavalo mecânico que o veículo mais leve. E por conta disso solicitou à montadora uma redução de tara no veículo.
O trabalho da engenharia dentro da fábrica de São Bernardo do Campo começou em 2017 e resultou num exclusivo Actros 2546 6×2 com redução de 7% no peso (cerca de 800kg). O ganho veio da troca de componentes como os tanques originais em alumínio com capacidade para 890 litros (650+240 litros) pelo do Axor de 500 litros, em plástico. Rodas de alumínio e também fizeram parte do pacote.
Foi substituido também o sistema de engate (mão de amigo) original por outro mais simplificado, além mudanças técnicas não reveladas por questões estratégicas da empresa. Entre 2016 e 2018, os transportadores da Raizen adquiriram 1.600 caminhões, sendo 600 Actros e os demais Atego e Axor.
A Mercedes-Benz cedeu para o Grupo GG Mídia (revistas O Carreteiro, Transporte Mundial e Transpodata Logística e a TV Caminhão) uma unidade do Actros 2546 6X2, fabricado em 2018, utilizadas pela Shell em seu evento denominado Rodeio de Caminhões. Exceto os tanques de combustível que ainda não haviam sido substituídos – e a carreta graneleira com eixos espaçados engatada e carregada no peso de balança (53.000 de PBTC) para se poder rodar com um conjunto montado -, tudo mais na composição estava dentro da receita da Raízen, inclusive os itens de conforto e segurança disponibilizados para o modelo.
No quesito conforto, o veículo manteve a cabine Megaspace teto alto com a suspensão pneumática e ar-condicionado. Além do espaço amplo e silencioso, o motorista conta com bancos que disponibilizam 12 diferentes ajustes.
Cabe lembrar que toda a linha Actros conta com motor de 13 litros e seis cilindros em linha. O 2546 6×2 entrega 460cv a 1.900rpm. A transmissão Powershift de 12 velocidades agrega, entre outros destaques, itens com foco em economia, conforto e segurança. Essas melhorias à caixa foram inseridas à linha Actros em 2017. Parte delas chegaram para dar continuidade ao pacote de mudanças que havia sido aplicado ao modelo em 2015, o qual tinha o propósito de tornar o Actros mais afinado às necessidades dos transportadores brasileiros. Até então, o modelo apresentava ainda certas características técnicas do seu país de origem, a Alemanha. Havia, portanto, a necessidade de adequá-lo à realidade do Brasil. As mudanças traziam a marca de sugestões e solicitações de clientes dentro do conceito “As estradas falam. A Mercedes-Benz ouve”.
Hoje, um dos pontos altos do Actros é caixa de câmbio automatizada com ajuste de engates refinado, que possibilita que o caminhão trabalhe sempre na marcha mais adequada para cada operação, O piloto automático, por sua vez, tem configuração para economizar combustível toda vez que houver solicitação para atingir a velocidade programada.
Antes de aplicar o máximo de torque e potência ao motor, para levar o caminhão à velocidade ajustada, o sistema primeiro avalia o relevo (através do sensor de inclinação da pista) e a carga (por meio de sensores do veículo) para depois ajustar a demanda de torque e potência para levar o veículo à velocidade programada e sem deixar o giro do motor sair da faixa verde de giro.
Outra tecnologia presente no modelo é a EcoRoll, função desenvolvida visando a economia de combustível. Quando é possível ela aproveita a inércia e coloca a transmissão em neutro, a banguela, velha conhecida dos estradeiros, porém, neste caso, de forma controlada. Se houver alguma demanda de torque no motor, acionamento do pedal de freio ou a velocidade exceder o limite programado pelo motorista, uma marcha (a mais adequada) é engrenada automaticamente. A Mercedes diz que a economia pode chegar a 1%.
O pacote de segurança no caminhão cedido pela montadora é algo que permite ao carreteiro viajar com tranquilidade, conforto e segurança, pois suas funções são capazes de evitar inúmeros acidentes nas rodovias. O ABA (Assistente Ativo de Frenagem), do Active Brake Assist), por exemplo, é um sensor inteligente de aproximação que reduz automaticamente a velocidade do caminhão quando detecta o veículo à sua frente e avisa com sinal sonoro se houver risco de colisão.
Outro sistema de segurança é o Controle de Proximidade, que opera com sensor de radar no parachoque para adequar a velocidade do caminhão com o fluxo do tráfego e mantê-lo sempre uma distância segura do veículo que segue à frente. Esse espaço (que aparece em metros no painel de instrumentos) pode ser regulado entre 20 e 150 metros e tem capacidade de reduzir substancialmente o número de vezes que o motorista precise pisar no pedal de freio.
Outra tecnologia está no Sistema de Orientação de Faixa de Rolagem, (Lane Guidance System), uma câmera instalada no parabrisa para detectar a posição do caminhão em relação as faixas da estrada. O sistema funciona para ambos os lados, mas lembrando que é preciso a faixa estar pintada no asfalto, caso que infelizmente não acontece em todas as rodovias do País. O sistema funciona dos lados direito e esquerdo e quando o veículo “pisa fora da faixa”, o sistema emite um sinal sonoro. Ao motorista, resta apenas curtir o conforto e a segurança do veículo durante a viagem.