Por Aparecido da Silva

Experientes e desempregados. Esta é a situação vivida por muitos carreteiros e motoristas de ônibus que estão na faixa etária dos 50 anos. Os dias são de procura, levando o currículo aqui ou ali, mas as respostas são sempre de que infelizmente a preferência é por alguém mais jovem. A falta de motoristas no mercado tem amenizado um pouco a questão da idade, porque uma ou outra empresa termina dando emprego para o carreteiro com 50 anos ou mais, porém nestes tempos modernos, outra barreira surge: conhecimento de informática. Os caminhões e ônibus hoje “são computadores” e os profissionais mais antigos têm dificuldade em dominar esta tecnologia.

7411t
Há sete anos desempregado, João Comissio afirma que após os 45 anos de idade o profissional é descartado no mercado de trabalho

Muitos estão há quase 10 anos sem um emprego formal. É o caso de João Comissio, de 58 anos de idade e 27 anos de profissão. Desde 2006 ele não consegue emprego com carteira assinada para dirigir ônibus em Cascavel, no Paraná. “Depois dos 45 anos, você é descartado. Se deixar o emprego não consegue outro. Levo currículo e a resposta é sempre a mesma, a idade. Me sinto excluído. Esta mentalidade tem que mudar. A idade traz experiência, responsabilidade e as empresas estão jogando isso fora. Excluir os cinquentões também é prejudicial à economia. Podemos estar trabalhando normalmente, produzindo”, afirma.

João Comissio diz também não entender o comportamento dos chefes de Recursos Humanos nas Empresas. Lembra que antes não se conseguia emprego porque era necessário ter no mínimo experiência de três anos e que só conseguiu entrar na profissão porque teve um chefe muito legal que lhe deu uma chance. “Agora é a idade. Conheço gente de 62 anos trabalhando normalmente, só que eles tiveram a sorte de permanecer na mesma empresa quando chegaram aos 50”, completa o motorista.

7427t
Domingos Saldanha se sente encostado e diz que currículo bom não vale para as empresas depois que o motorista atinge os 50 anos de idade

Domingos Saldanha, 57 anos de idade e 30 de profissão, está desempregado há oito anos e se sente encostado. “Depois dos 50, currículo bom não vale. Deveria ser o contrário. Experiência profissional, de vida ganha importância a partir dos 40, mas isto não vale para as empresas”, lamenta. Tem opinião de que quando o profissional deveria estar se beneficiando da experiência é encostado, pois não consegue emprego fixo. “Isto é horrível, dói muito saber que você ainda é capaz, mas não consegue trabalhar na profissão de toda a sua vida”, frisa Domingos. Ele chama atenção para outro problema que poderia ser evitado se as empresas dessem oportunidade aos motoristas com mais idade. Ele destaca que a maioria dos acidentes envolvendo ônibus e caminhões são em decorrência da inexperiência. “Grande parte dos acidentes são com motoristas iniciantes. Basta ver as estatísticas”, destaca.

Orlando Maciel de Oliveira, 60 anos de idade e 26 de profissão, começou a sentir os dissabores da idade após ter sido dispensado da empresa em que trabalhava dirigindo um bitrem. Diz que nos últimos três anos tem recebido somente respostas negativas devido sua idade. “Eles chegam a dizer para você que preferem motoristas mais jovens, porque eles têm mais agilidade na hora de enlonar o caminhão”, exemplifica. Oliveira acrescenta que os servicinhos que surgem como quebra-galho normalmente são para dirigir caminhões mais velhos. “A lei agora é motorista velho com caminhão velho”, ironiza

7398t
Depois de trabalhar como motorista de um bitrem e com 60 anos de idade, Orlando Maciel tem recebido somente respostas negativas

Aos 31 anos de idade e 10 de profissão, Alexandre Comissio já vive o problema da barreira. Seu problema é relacionado com a informática. “Hoje os caminhões são eletrônicos, verdadeiros computadores e isso é um entrave. Até o rastreador já é motivo de complicação para os mais antigos. A saída é estudar e adquirir conhecimento”, reconhece. Porém, ele destaca que quando se está empregado tem que estar na estrada e, portanto, sem tempo para estudar. “Quando você fica desempregado, vem o problema. Precisa arrumar outro emprego logo, porque as contas chegam, mas as portas estão fechadas. O ideal seria as próprias empresas proporcionarem oportunidades para você adquirir este conhecimento”, conclui.

A questão da idade e a falta de conhecimento de informática tem sido um problema para os carreteiros com 50 anos de idade ou mais. Mas há solução. Para Suzana Perboni, diretora do Sintrovel (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Cascavel), no Paraná, a solução está em buscar novas ocupações para estes profissionais dentro da cadeia de transportes e estudo, levando-os a novas atividades.

7407t
Mais jovem que seus colegas, Alexandre Comissio afirma que tem enfrentado dificuldade com a eletrônica dos caminhões modernos

De acordo com ela, o Sintrovel, através da Fundação Iguaçu, um braço do sindicato, procura oferecer cursos técnicos e superior a estes profissionais, ao mesmo tempo em que procura mostrar às empresas que eles são úteis e produtivos em outras áreas da organização. “Quem melhor para cuidar da logística do que alguém que esteve por 20 ou 30 anos na estrada. Conhece na prática detalhes da profissão e podem trazer vantagens para a empresa com melhor aproveitamento do caminhão ou do ônibus”, defende Suzana Perboni.

Em sua opinião, estes profissionais sabem como diminuir o gasto dos pneus, lonas de freios, poupar o equipamento, evitar riscos desnecessários nas estradas. “Podem contribuir para montar uma estratégia de logística que traga resultados para a empresa. É uma mão de obra a ser aproveitada”, reforça, acrescentando que ocorre hoje uma falta de respeito para com estes profissionais ao serem rejeitados.  “Eles se sentem humilhados quando só lhe oferecem oportunidades na borracharia da empresa, na oficina ou no abastecimento, ocupações que lhes diminuem”, destaca a diretora do Sintrovel, lembrando que estes profissionais estavam acostumados com a estrada, a olhar o mundo  do alto da cabine.

7414t
Suzana Perboni diz que a solução está em novas ocupações dentro da cadeia de transportes para os motoristas que não conseguem emprego devido à idade

Em relação aos estudos, Suzana entende que há uma resistência cultural por parte dos carreteiros. “É muito difícil você convencê-los de que precisam voltar à sala de aula, concluir o 2º Grau, fazer um curso superior ou técnico. Eles pararam de estudar para trabalhar e tudo ia muito bem até que chegaram aos 50 e perderam os empregos”, acrescenta. Ela destaca que eles não aguentam permanecer duas, três ou quatro horas sentados em uma sala de aula. “A saída é qualificá-los para novas ocupações na rede de transporte, muito conhecimentos ele já têm. É questão de despertar nos empresários a visão de que estas pessoas têm muito a produzir”, conclui Suzana.