O setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil lidera o ranking dos causadores de emissões de gás carbônico na atmosfera. Segundo estudo realizado no ano passado, o modal é responsável pelo despejo de 87,6% da substância no ar, principal elemento causador do aquecimento global. Em vista disso, carreteiros realizam iniciativas para amenizar a poluição causada pelo segmento e contribuem para deixar o ar e as estradas mais limpos.

Realizar constantemente a revisão do caminhão, jogar o lixo no lixo, não desperdiçar água e contribuir com a limpeza tanto das estradas quanto de outros ambientes por onde passam. Essas são as principais ações dos motoristas de caminhão para cuidar, preservar e reduzir os níveis de poluição na natureza. Ao menos é que o diz o chileno e carreteiro empregado Victor Joccas, de 50 anos de idade e 28 de estrada. Transportador de frutas, salmão e cargas secas do Chile para o Brasil, Joccas reconhece que a prática de ações como essas são importantes para salvar o planeta. “Estamos matando o mundo e devemos preservar o meio ambiente da mesma forma que cuidamos da nossa casa”, justifica.

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Estamos matando o mundo e devemos preservar o meio ambiente da mesma forma que cuidamos da nossa casa, diz o chileno Victor Joccas

Para alguns, a declaração de Victor pode parecer exagero, mas não é. Principalmente quando se pensa na responsabilidade que o segmento de transporte rodoviário de cargas tem sobre a quantidade de poluentes despejados no ar. Segundo pesquisa divulgada em 2010 pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), o modal rodoviário lidera o ranking dos causadores de emissões de CO2 (gás carbônico), sendo responsável pelo despejo de 87,6% da substância – grande causadora do aquecimento global – no ar.

Precisamos garantir a vida das futuras gerações na Terra, alerta Élbem de Abreu, que afirma ensinar aos filhos os cuidados com a natureza
Precisamos garantir a vida das futuras gerações na Terra, alerta Élbem de Abreu, que afirma ensinar aos filhos os cuidados com a natureza

Em vista disso, empresas transportadoras, associações ligadas ao segmento, grupos governamentais e carreteiros têm adotado – cada um a sua maneira – práticas que visam minimizar as consequências de toda a sujeira jogada diariamente nas estradas, seja vinda dos poluentes presentes nos combustíveis, dos restos de alimentos ou das embalagens despejadas fora das lixeiras.

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A maioria dos motoristas joga lixo nas estradas pela janela do caminhão porque não tiveram orientação, opina Ednaldo Silva

Assim como Joccas, o carreteiro Élbem de Abreu, 38 anos e 12 de profissão, demonstra conscientização ao falar sobre a importância da defesa do meio ambiente. “Precisamos cuidar para garantir a vida das futuras gerações na Terra”, explica Abreu. Transportador de brinquedos e pai de três filhos, diz que sempre ensinou às crianças os cuidados que se deve ter para evitar a poluição. “De tanto ouvir falar em casa e também na escola, o pequeno até pega no meu pé se me vê fazendo coisa errada”, confessa o carreteiro ao se referir ao filho de sete anos de idade.

Somente através da educação é possível preparar, conscientizar e alertar as novas gerações, acredita o carreteiro Luiz Gustavo Freitas
Somente através da educação é possível preparar, conscientizar e alertar as novas gerações, acredita o carreteiro Luiz Gustavo Freitas

Igual a Élbem, o transportador de produtos eletrônicos Luiz Gustavo de Freitas, 52 anos e há 34 no trecho, acredita que somente por meio da educação é possível preparar, conscientizar e alertar novas e velhas gerações para as consequências das más ações humanas no meio ambiente. “Tudo é uma questão de educação. Quem joga lixo em qualquer lugar faz isso porque não foi educado desde cedo, do berço”, defende Luis Gustavo.

Quem joga lixo na estrada demonstra falta de educação e de respeito com a natureza e com companheiros que trafegam pelas rodovias, diz Adino
Quem joga lixo na estrada demonstra falta de educação e de respeito com a natureza e com companheiros que trafegam pelas rodovias, diz Adino

O autônomo Ednaldo Silva, 55 anos de idade e 10 de profissão, concorda com o colega. Para ele, somente através da informação, educação e processo de divulgação das práticas em prol do meio ambiente que se conscientiza os carreteiros sobre a seriedade do assunto. “Rodando pelas estradas, percebo que a maioria dos companheiros de trecho jogam lixo pela janela do caminhão. Acredito que façam isso porque não tiveram uma educação ao longo da vida”, diz o carreteiro.

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Sem revisão do caminhão não há como controlar o volume de emissão de poluentes na atmosfera, comenta o motorista Leomar José Muller

Adino da Fonseca, carreteiro empregado de 41 anos de idade e oito de estrada, concorda que além de expor falta de educação, quem joga lixo pela estrada demonstra total falta de respeito tanto com os demais companheiros que trafegam pelo trecho quanto pela natureza. “As pessoas devem pensar um pouco mais sobre suas ações. Hoje em dia, a gente vê por aí a ocorrência de várias enchentes, bueiros entupidos e transtornos. Coisas que só acontecem porque muitos jogam lixo em qualquer lugar”, diz. Assim como os demais companheiros de trecho, ele afirma economizar no uso de água tratada e, a pedido da empresa onde trabalha, faz revisão do caminhão duas vezes por mês. Diz também ter o costume de levar nas viagens sacolas plásticas para colocar o lixo que acumula. “Na maioria das vezes não consigo separar materiais orgânicos de outros recicláveis porque isso é complicado, mas pelo menos não jogo lixo nas estradas”, justifica.

Segundo o autônomo Ednaldo Silva, as empresas onde descarrega e carrega, os postos de parada e os pátios nas estradas realizam constantemente campanhas de conscientização sobre o tema. “As empresas estão mais engajadas em relação às questões ambientais. Possuem lixeiras seletivas e constantemente distribuem panfletos com o objetivo de repassar informação aos motoristas”, comenta. Em relação à revisão do caminhão, afirma que a executa sempre que necessário. “É importante, porque assim como nós precisamos fazer exames médicos para checar se estamos bem, o veículo também precisa de uma verificação. Até porque, se ele estiver irregular prejudica a saúde das pessoas ao liberar gases com altos níveis de poluentes”, ressalta o careteiro.

O motorista empregado Leomar José Muller, 43 anos de idade e 13 de profissão, reforça o comentário de Ednaldo. Sem a constante revisão veicular não há como controlar o volume de emissão de poluentes. “A empresa em que trabalho manda fazer a revisão no meu caminhão todos os meses. Sei que é algo importante, pois sem a vistoria não há condições de reduzir a emissão de poluentes,” completa Leomar.

Pensando na falta de informação que existe entre os estradeiros do País, a Confederação Nacional do Transporte (CNT), realiza por meio do programa Despoluir – ação do grupo para incentivar o desenvolvimento sustentável entre os profissionais de transporte- o curso Caminhoneiro Amigo do Meio Ambiente. Oferecido em unidades do Sest/Senat (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), disponíveis em capitais de todo o País – as aulas têm o objetivo de transformar motoristas de caminhão em profissionais cientes dos efeitos das más práticas ambientais.

De acordo com a confederação, são várias as iniciativas que um carreteiro pode adotar para prevenir a poluição. Utilizar combustível de boa qualidade, verificar as condições do tanque, drenagem e tempo de armazenamento, além de realizar aferição veicular periódica, para avaliar se o caminhão está com o valor de opacidade (fumaça preta) dentro dos padrões exigidos pela legislação ambiental e praticar a direção econômica estão entre as mais importantes. Em São Paulo, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado (Cetesb), promove constantemente a fiscalização da emissão excessiva de fumaça preta lançada por veículos movidos a diesel, substância composta por carbono (fuligem) e partículas que causam graves danos à saúde.

Segundo Daniel Schmitd, gerente do setor de operações e regulamentação da Cetesb, a frota em circulação que emite fumaça preta na região atualmente é quatro vezes menor do que 14 anos atrás. “Em 1997, o índice de veículos em não conformidade era de 30 %, hoje ele está beirando os 7%”, explica. n Com informações de Iara Aurora (estagiária)