Por Alessandra Sales Fotos Alexandre Andrade

Quando se pensa em motorista de caminhão é comum atribuir a ele uma imagem dura, difícil e sofrida, uma vez que muitos convivem ainda com o preconceito e discriminação de outras pessoas. Mesmo após anos de profissão, são poucos os que conseguem comprar o próprio caminhão e trabalhar por conta própria. Com a falta de opção, há carreteiros que cumprem horários e ordens de empresas com a expectativa de um dia, quem sabe, serem autônomos ou agregados. Na prática, a situação de todos é muito parecida, com a diferença de que alguns ganham mais do que outros, dependendo dos benefícios e condições exigidas.

Com 37 anos de estrada, o ex-autônomo Alaércio Krzesik, 55 anos, de Itajaí/SC, diz que após trabalhar 18 anos por conta própria prefere ser empregado. Lembra que na época de autônomo tinha uma vida boa, mas não conseguiu levar adiante os negócios por muito tempo. “Eu quebrei, não tive escolha e virei empregado. Hoje, não tenho mais caminhão”, comenta. Com a nova experiência mudou completamente a vida, a começar pelo seu perfil. Se antes usava trajes à vontade, aderiu aos uniformes das empresas e acrescenta que além da roupa identificada deixou de usar barba e cabelo comprido para se adaptar à nova condição profissional.

Porém, Alaércio Krzesik não esconde a preferência pela sua atual condição de trabalho. “Aqui tenho benefícios e recebo meu salário fixo todos os meses. Mesmo que eu não esteja em casa, a empresa deposita na conta, e minha esposa saca em qualquer lugar aonde ela estiver”, reconhece.

Conterrâneo de Krzesik, Paulo Rocha, 49, de Itajaí/SC, explica que para trabalhar de empregado tem que haver disciplina por parte do motorista. Ele afirma que desde cedo aprendera a obedecer regras, porque sempre trabalhou como empregado. “Isso inclui manter a barba bem feita, cabelo cortado e deixar o caminhão conservado, o que em outras palavras significa mantê-lo sempre limpo”, explica.

Rocha citou também o uso do uniforme no dia a dia, observa que por mais que melhore a aparência do profissional, há aqueles que se preocupam em usar o traje da empresa, em razão de assaltos e sequestros nas rodovias provocados ou facilitados pela identificação da carga.

É o caso de Nélio Braga Freire, 30 anos, de São Paulo, que com apenas três na estrada no transporte de medicamentos confirma o receio que tem quanto ao comportamento de algumas pessoas que observam os movimentos dos carreteiros na estrada e nos postos de serviço, devido à carga transportada. Acredita que o uso do uniforme pode contribuir de certa forma para chamar a atenção e transmitir informações aos bandidos.

“Toda vez que faço uma parada costumo tirá-lo, porque nunca se sabe. Se alguém decora o nome da empresa ficará muito fácil chegar até o motorista”, exemplifica. Ciente dos cuidados necessários, Freire reforça que não desobedece as ordens da empresa e sempre viaja portando o traje sugerido pela contratante, além de barba feita, cabelo cortado, pontualidade, caminhão limpo e velocidade controlada. Apesar de ser terceirizado e trabalhar para um agenciador de cargas, Dirceu Siqueira Vargas, 39, de Uruguaiana/RS, concorda com a importância da boa aparência e diz que o motorista precisa estar apresentável e ter bom comportamento mediante ao exercício da profissão. Para ele, a vantagem de trabalhar terceirizado é a garantia de mais liberdade para fazer o horário com calma e sem tanta pressão, o que torna o trabalho mais tranquilo.

“Cumprir horários e lidar com patrão dando ordens não são coisas fáceis, sei bem disso em razão da minha experiência de empregado, embora hoje trabalhe para terceiros”, assegura José Carlos Correa da Silva, 48, de Uruguaiana/RS.  Transportador de carga geral entre São Paulo e Chile, disse que já chegou a ser impedido de usar chinelo de dedo e bermuda em uma empresa. Apesar das proibições, explicou que mesmo com as exigências prefere trabalhar para empresa em vista de receber salário fixo e benefícios e, em alguns, casos até comissão.

Contrária à opinião do gaúcho, o autônomo Antônio Prado Oliveira Filho, 31, São Paulo/SP, afirma que ganhava mais na época que trabalhava por conta, sem contar que tinha mais liberdade. “Uma vez tive meu caminhão roubado e para reconquistá-lo trabalhei como empregado por nove meses para conseguir comprar outro. Foi uma época muito difícil”, lembra.

Histórias como essa fazem parte da vida de muitos autônomos, que depois de anos de estrada conseguiram comprar a própria ferramenta de trabalho. Exemplo do que aconteceu com o agregado, Abenir Santos de Lima, 40 anos, de Caxias do Sul/RS, que só depois de um tempo se viu livre do patrão. Há sete anos ele comprou seu caminhão e hoje agrega o veículo em outras empresas. “Agrego meu caminhão no Sul e sigo até São Paulo, depois disso faço o que eu quiser”, explica. Diz que leva em seu caminhão a camisa da empresa agregada para vestir na hora da entrega da carga, e não esquece também de deixar seu visual mais adequado. Na ocasião que foi entrevistado, Lima estava à procura de um barbeiro.

Luis Giehl, 50, de Feliz/RS, também autônomo e agregado, lembra que no início da profissão, como empregado, as exigências eram menores, mesmo ganhando pouco. “A regra era apenas dirigir e seguir viagem”, revela. Após comprar o seu caminhão, agrega seu veículo em empresas e garante fazer o trabalho sem mudar a cara do veículo. “Não mexo em nada, muito menos na cor, pois acredito que a empresa tenha carga para todo tipo de caminhão”, finaliza.