Por Evilazio de Oliveira

Os caminhões do transporte internacional de cargas que passam pelo Porto Seco de Uruguaiana/RS, na fronteira do Brasil com a Argentina, ao ingressarem no pátio da alfândega passam pela balança e por um scanner que em poucos segundos fornece um RX da mercadoria transportada, em alta resolução, e com capacidade para identificar qualquer volume que possa ser considerado suspeito. Um equipamento semelhante a esse também é utilizado na aduana de Foz do Iguaçu/PR. De acordo com o chefe do Serviço de Despacho Aduaneiro, da Delegacia da Receita Federal, Felipe Rodrigues Moreira, 34 anos e três como auditor fiscal da Receita, a instalação desses aparelhos em portos de grande fluxo de cargas obedece a uma orientação governamental, incrementada como medida de segurança nos pontos de fronteira após os atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que cuida da segurança, o scanner também auxilia muito na identificação das cargas transportadas nos caminhões e se, efetivamente, correspondem ao declarado na documentação fiscal. Com isso, cai o número de conferências físicas e toda a movimentação no porto é acompanhada através de monitores instalados na sala de Felipe Moreira e as imagens fornecidas pelo scanner na vistoria das cargas são repassadas para a aduana argentina, que opera de forma integrada com a brasileira.

Em operação desde fevereiro deste ano, atendendo a um fluxo mensal de aproximadamente 12 mil caminhões, o equipamento foi adquirido pela administradora do porto seco ao custo de R$ 4 milhões, incluindo a instalação. O tempo de passagem de um veículo pelo aparelho é de aproximadamente 30 segundos. No início chegou a haver problema por falta de operadores especializados, que necessitam de habilitação específica fornecida pelo CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), porém a situação foi logo normalizada com o equipamento funcionando normalmente.

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A instalação de scanner em portos de grande fluxo de cargas é incrementada como medida de segurança, explica Felipe Moreira, da Delegacia da Receita Federal

Apesar dessa tecnologia, os carreteiros do transporte internacional continuam reclamando das longas esperas na liberação das cargas. O fato, segundo o chefe do Serviço de Despacho Aduaneiro, acontece devido a uma série de fatores que envolvem a operação e que vai desde a falta do pagamento de impostos, documentos incorretos, demora na entrega desses documentos, entre outros itens. Na verdade, conforme explica, o tempo de permanência do caminhão no porto seco independe do trabalho da Receita. Salienta que de janeiro a julho deste ano, o tempo médio entre a recepção da documentação foi de 2,4h embora a média dos caminhões no recinto tenha sido de 50,26 horas. Muitas reuniões já foram feitas com os setores envolvidos no transporte internacional, na tentativa de dinamizar o processo, cada um fazendo a sua parte para que as liberações ocorram com maior agilidade, explica.

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A passagem pela balança e scanner é rápida, mas a espera pela liberação da carga pode demorar até uma semana, comenta Valdir Francisco Fernandes

Valdir Francisco Fernandes das Neves, o Amoroso, natural de União da Vitória/PR, 44 anos e 12 de estrada, dirige uma carreta tanque com produtos químicos. Viaja com mais frequência para a Argentina, também costuma ir para Uruguai e Paraguai. Segundo ele, dependendo da fila de caminhões na entrada do pátio da aduana, a passagem pela balança e scanner é rápida, “questão de minutos”. Mas, a espera pela liberação da carga chega a uma semana. “Tudo muito demorado, muita burocracia, sempre falta um documento ou o pagamento de algum imposto”, desabafa. No final, segundo ele, o motorista sempre leva a pior porque perde muito tempo parado, um tempo precioso em que poderia estar rodando.

Com 61 anos de idade e mais de 30 na profissão, Lauro Pompeu Fontela dirige uma carreta com semirreboque sider, transportando cargas entre São Paulo/SP e Buenos Aires/AR, “trajeto que faz desde guri”. Afirma que o scanner na aduana só pode ser ruim para “quem está com maus pensamentos”, já que a máquina vai impedir a passagem de contrabando, armas, drogas e até facilitar a vida do carreteiro, evitando a conferência física da carga, uma operação quase sempre muito demorada. Apesar disso, se preocupa com eventuais danos causados à saúde pela radiação emitida pelo aparelho. Todavia, tem confiança nas autoridades, “que certamente não iriam utilizar um aparelho que fosse prejudicial aos motoristas”.

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José Luiz Scholz lembra que na Argentina não precisa sair da cabine, porque o scanner é instalado em um veículo pequeno que passa ao lado escaneando a carga

O autônomo José Luís Scholz Dias, 49 anos e 13 de estrada, natural de Uruguaiana/RS, transporta cargas entre Porto Alegre/RS e Buenos Aires/AR. Ele também tem opinião de que a utilização de scanner na fiscalização nas aduanas evita, em muitas vezes, a conferência física, sempre muito demorada. Por isso, acha que é uma boa iniciativa. Lembra que como a máquina só é acionada para a verificação da carga, excluindo a cabine, não tem medo de efeitos colaterais para a saúde. Nas aduanas argentinas, conforme explica, o scanner é móvel. O motorista desce da cabine e um caminhão pequeno equipado com o aparelho passa ao lado escaneando a carga. Em Uruguaiana é bem mais fácil e rápido: o motorista entra no pátio, passa pela balança, scanner e vai estacionar o caminhão para aguardar a liberação e seguir viagem, sem grandes problemas.

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Com relação à agilidade causada pelo aparelho de raio X, Carlos Augusto da Silva diz não ter sentido qualquer diferença na agilidade para liberação da carga

Na opinião do carreteiro Carlos Augusto Silva Rodrigues, 40 anos de idade e 15 de profissão, e atualmente dirigindo na rota entre Farroupilha/RS e Santiago do Chile, a utilização do scanner nas aduanas é boa porque além de fiscalizar as cargas, também previne o contrabando de armas e drogas. “Para quem trabalha direito e dentro da lei não há nada a temer”, assegura. E com relação a eventuais danos à saúde – causados pela radiação -, acredita que não há perigo. Em termos de uma eventual agilidade na liberação das cargas, garante não ter sentido qualquer diferença. “A demora é a mesma”, afirma.