Por João Geraldo
O caminhão, o transporte e as relações não param de evoluir. Assim também deve ser o carreteiro, seja ele autônomo, agregado ou empregado, pois está cada dia mais difícil de sobreviver da atividade do transporte sem estar atualizado. Quem é do setor sabe que nos últimos anos as empresas passaram a ser mais exigentes na hora da contratação do motorista. Hoje, os candidatos a uma vaga têm de ter cursos inerentes à profissão, entender como funcionam os caminhões das novas gerações, ter comportamento adequado e ser consciente de que ele é um profissional que pode contribuir para melhorar o trânsito nas rodovias, entre outros complementos.
A questão atinge a todos, porém, com maior impacto os novatos na profissão, pois estes se veem num beco sem saída quando se exige deles experiência, pois se não começam a trabalhar nunca a terão. Já entre os mais rodados falta atualização, e com isso há carência de motoristas que atendam as expectativas das empresas de transporte. Especialistas do setor estimam que hoje faltam cerca de 80 mil profissionais. Nesse quadro, as unidades que reciclam e formam motoristas profissionais aparecem como a tábua da salvação para empresas e motoristas.
O catarinense Everton Vieira, 26 anos de idade, teve de se especializar para atender as exigências do mercado. Como solução procurou – a Fabet – Fundação Adolpho Bosio, no seu Estado, para ampliar suas chances no mercado. “Trabalhei seis anos na Sadia, mas tive de me especializar para atender as exigências do mercado. Aqui tiraram vícios que eu tinha quando dirigia”, disse. “A expectativa de colocação no mercado de trabalho para quem faz o curso é de 82%”, acrescenta a professora Carla Zandavalli, coordenadora do Programa Caminhão Escola, da Fabet.
O Programa Caminhão Escola é dividido em duas partes, Básico e Avançado. O primeiro tem sete módulos: Desenvolvimento Interpessoal, Saúde do Motorista, Redução dos Custos, Legislação, Laboratórios, Atividades Extras e Prática Supervisionada, totalizando 330 horas de curso. Já o Programa Avançado são cinco módulos que totalizam 63 horas de carga horária.
Nos dois casos os módulos são focados na tecnologia e na construção do compromisso e responsabilidade; na gestão de qualidade no trabalho, no plano de desenvolvimento pessoal, na ergonomia, meio ambiente, alimentação, primeiros socorros, custo no transporte e direção econômica (teórica e prática). Manutenção preventiva em pneus, gestão de documentos, interpretação de mapas e guias, legislação de trânsito, de transporte de cargas, responsabilidade civil e penal, direção responsável, mecânica e informática básicas, rastreamento e gerenciamento de risco e avaliação veicular, entre outros vários itens importantes para o motorista na sua atividade, também estão no programa. A infraestrutura inclui laboratório de línguas, biblioteca, laboratório digital, de mecatrônica, de pneu, e de trem-de-forças, além de uma pista de 1.080 metros de extensão.
Paulo Renato Piovezan, diretor administrativo da Fundação, explica que no início o Caminhão Escola tinha um só programa, mas depois houve a necessidade de separar porque há diferentes níveis de motoristas, lembrando que o Básico é para quem deseja ingressar no mercado de trabalho; tem 30 dias de duração e custa R$ 935,00 para o motorista autônomo.
“Já o Avançado é mais voltado para quem já está no mercado. É um treinamento de direção econômica para tirar mais rendimento do caminhão. É mais freqüentado por motoristas de empresas, um público que já chega na Fabet preparado”, esclarece Piovezan. Ele lembra que durante 2008 passaram 3.500 motoristas pelo Caminhão Escola, sendo que 10% deles (350) eram autônomos. Os cursos têm validade de um ano e meio até a reciclagem.
Na Centronor, Centro de Treinamento de Motoristas na Região Nordeste do Rio Grande do Sul, que em cinco anos já formou mais de 4.300 motoristas de vários Estados, durante o curso de uma semana, com 44 horas distribuídas em cinco dias (quatro módulos mais orientação psicológica e terapêutica), o motorista fica confinado. Aliás, o prédio onde funciona o Centro era um antigo seminário e ali os alunos comem, dormem e recebem treinamento. Os móveis e tudo mais foram mantidos para receber os motoristas, até mesmo a rigidez em relação ao comportamento e hábitos de cada um. “A ideia é que não se dispersem, pois assim eles têm oportunidade de trocar idéias com colegas”, diz Paulo Ricardo Ossani, diretor executivo da Cavalinho, transportadora que deu início ao projeto do Centronor.
O Centro recebe motoristas de todo o Brasil, de ambos os sexos, para cursos de Qualificação de Motorista, e Formação de Mão-de-Obra, para motoristas de caminhões com terceiro eixo. Assim como na Fabet, o treinamento em carreta inclui viagem, no caso do Centronor a rota percorrida é entre Bento Gonçalves/RS e Goiânia/GO. “Nesse trecho, junto do instrutor, ele vive todas as situações da estrada com carreta”, destaca Renato Luiz Rossato, coordenador do Centronor.
Paulo Ossani diz que toda empresa que mandou um profissional para treinamento acabou enviando outros devido ao resultado positivo. Porém, destaca que a maior parte das transportadoras não estão nas mãos de investidores, pois vem de empresas muito pequenas. Por outro lado, lembra também que muitos motoristas aprenderam a dirigir com parentes ou amigos, mas com a tecnologia que existe hoje nos caminhões o simples ato de saber dirigir não define mais o motorista. Ele comenta que muita gente ganhou dinheiro com caminhão, porque trabalhou muito, mas só isso não adianta, porque o transporte está passando por mudanças, o motorista passou a ser figura central do negócio e precisa se profissionalizar. “Hoje, a educação também é importante no transporte”, conclui.
Além da parte prática, os motoristas aprendem sobre parte mecânica do caminhão, a regular freio e a isolar uma das rodas se for preciso, e também a se virarem na estrada em casos de emergência, no item Mecânica Básica. “Com o motorista treinado o índice de problemas no caminhão é bastante reduzido”, diz Rossato. Para o baiano José Eloi da Silva, 67 anos de idade, que transporta produtos químicos, e na ocasião encontrava-se fazendo reciclagem, o profissional sai do curso lapidado. “Passei mais de 40 anos sem treinamento, mas não tive nenhuma resistência. Aprendi coisas que não sabia”, garante. “Eu tinha pouca consciência da importância do motorista, mas aprendi a dar valor para a profissão”, acrescenta o paulista Marcelo Roberto, que dirige uma carreta câmara fria. “E eu pensava que sabia muito e descobri que fazia muita coisa errada”, diz o catarinense Alcemar da Silva e assim seguem os relatos.
As turmas no Centronor são formadas por grupos de 18 a 20 motoristas por semana. Renato Rossato explica que o Centro tem condições de treinar até três vezes mais este número, porém acredita que o aproveitamento dos alunos seria afetado. “A timidez e lentidão tornam o aproveitamento muito baixo. São apenas quatro ou cinco motoristas por instrutor. Já fizemos esta experiência e vimos que não funciona”, acrescenta.
O valor do investimento total para cada aluno treinando é de R$ 900,00, podendo o prazo de pagamento ser avaliado de acordo com as necessidades do cliente. Estes valores correspondem a toda alimentação, pernoites, material didático e informativos, aulas teóricas com os instrutores e teste prático de estrada.
Hoje os autônomos representam meio por cento dos alunos que passam pelo treinamento. Para realizá-lo, o Centronor conta com duas carretas de três eixos tracionadas por cavalos-mecânicos Scania R 420 nas configurações 4X2 e 6X2. Aliás, a montadora é uma grande incentivadora da atividade de treinamento de motorista. Assim como na Fabet, todos os veículos e implementos são cedidos à Centronor em regime de comodato.
Fabet de São Paulo recebe primeiros A Scania já entregou os primeiros quatro cavalo-mecânicos R 420 6×2, de um lote de 15 unidades, para a Fabet São Paulo. O restante do lote será entregue até novembro, data prevista para a inauguração da unidade paulista da Fundação, que funcionará no km 66,5 da rodovia Castelo Branco, município de Mairinque. Os primeiros quatro veículos começam a operar em cursos “In Company”, ministrados pela fundação em empresas da região. Além disso, a montadora fez uma doação de um modelo P 260 4×2, ano 1999, com valor de mercado aproximado de R$ 100 mil para ser vendido e a verba convertida para a conclusão das obras. Para Christopher Podgorski, diretor geral da Scania, a entrega das primeiras unidades mostra a preocupação e comprometimento da montadora com o treinamento e capacitação de motoristas de caminhão. “A carência de mão-de-obra especializada em nossas estradas ainda é muito grande, e a nova unidade da Fabet em São Paulo contribuirá significativamente para a redução de acidentes e dos custos operacionais de nossos clientes transportadores”, afirmou na ocasião. |