Revista O Carreteiro – Os carreteiros europeus e norte-americanos estão habituados a dirigir caminhões equipados com caixas automáticas ou automatizadas e conhecem bem suas vantagens. Já no Brasil, somente agora os motoristas parecem estar acordando para esta realidade, mas aparentemente existe ainda um longo tempo para que este tipo de transmissão se torne um item mais comum no País. Você acredita que um dia chegaremos lá, e teremos boa parte da frota de caminhões com transmissão automatizada?
Wilson Bricio – Certamente a parcela de caminhões da frota brasileira equipada com transmissões automatizadas crescerá rapidamente. Na minha opinião, a curva de crescimento será análoga à evolução na Europa. O primeiro passo já foi dado com a introdução dos motores controlados eletronicamente. Com a comunicação entre os sistemas de motor e transmissão, foi possível montar as transmissões automatizadas e demonstrar as vantagens e benefícios que a automatização pode trazer. Com mais experiência na aplicação prática em condições “brasileiras” de operação, certamente o retorno do investimento da aquisição de um caminhão ou ônibus com transmissão automatizada será rápido e criará uma demanda crescente no mercado.

O Carreteiro – O Brasil é um País onde mais de 60% das trocas de mercadorias são feitas por rodovias e caminhões. Por que razão estamos ainda no estágio da caixa mecânica? É apenas uma questão de cultura ou o preço tem sido um dos entraves?
Wilson Bricio – O entrave maior para a introdução dessa nova tecnologia era a necessidade de um processador de gerenciamento eletrônico do motor, para alimentar o processador da transmissão automatizada, com informações vitais da operação do veículo. Com os motores “eletrônicos” esse entrave desapareceu.A segunda barreira é o preço de aquisição inicial do sistema, que é natural quando se compara a transmissão manual com a automatizada. Mas os benefícios, principalmente aqueles ligados à redução do custo operacional com transmissão automatizada, já estão levando muitos frotistas a reverem essa barreira. Na verdade o retorno do investimento será mais rápido do que muitos pensam.


“Todo motorista, depois que tem a oportunidade de dirigir um caminhão com transmissão automatizada, não quer saber de dirigir outro veículo.”

O Carreteiro – Você acredita que há um grande trabalho de campo a ser feito para mudar a cultura?
Wilson Bricio – Não está correto dizer que a transmissão automatizada agrega vantagens só para o transportador. O fato de eliminar a necessidade de atuação do pedal de embreagem e do manuseio da alavanca de câmbio traz um conforto muito maior para o motorista, além de aumentar consideravelmente a segurança da operação de caminhões de qualquer porte. Todo motorista, depois que tem a oportunidade de dirigir um caminhão com transmissão automatizada, não quer saber de dirigir outro veículo, tal o impacto da facilidade de operação.

O Carreteiro – O que se ouve na estrada dos motoristas que trabalham com caminhão equipado com transmissão automática são somente elogios. Também aquela velha história de que carreteiro brasileiro gosta de fazer troca de marchas não se confirma hoje em dia. Isso já não representa que a aceitação é maior do que se imagina e é apenas questão de conhecer o produto?
Wilson Bricio – Entendo que esse é o principal ponto na visão dos motoristas. Como já mencionei, a partir do momento em que o motorista toma contato com o sistema e percebe o quanto o mesmo vem para facilitar a sua vida, a aceitação será total. Já o frotista, que em muitos casos não será o condutor do veículo, certamente vai gostar muito das vantagens que a transmissão automatizada trará sob a ótica dos custos operacionais de sua frota.

O Carreteiro – Qual a opinião dos empresários de transporte com os quais a empresa tem mantido contato.
Wilson Bricio – Os empresários estão cada vez mais preocupados com o resultado de suas empresas. O gerenciamento das empresas nos últimos anos se tornou muito profissional e o custo operacional é um dos fatores de maior destaque nas frotas. Daí o grande interesse no potencial de redução de custo operacional que a transmissão automatizada oferece, com a redução do desgaste da embreagem, das lonas de freio e a proteção ao motor em si. O principal fator, no entanto, é a perspectiva da frota obter considerável redução de consumo de combustível. Nesse contexto, os empresários já estão compreendendo o beneficio que o investimento inicialmente maior deverá trazer, e criando uma expectativa altamente positiva para essa nova tecnologia.

O Carreteiro – Você tem alguma estimativa de quantos caminhões automatizados e automáticos rodam hoje no Brasil?
Wilson Bricio – Atualmente temos poucos modelos de caminhão rodando nas estradas brasileiras equipados com transmissão automatizada. A quantidade hoje ainda não deve chegar a 1% da frota.

O Carreteiro – O relevo de certas regiões e a condição da malha rodoviária exerce, de alguma maneira, influência sobre usar ou não caixa automatizada?
Wilson Bricio – A ZF tem um sistema que definitivamente traz uma grande vantagem nas operações em regiões de relevo acidentado e de serra: o ZF Intarder, que é um sistema de freio hidráulico, isento de desgaste, que pode ser integrado em várias transmissões da ZF, inclusive nas automatizadas. As demais vantagens da ASTronic são exploradas em todos os relevos e condições de operação, como concentração maior do condutor no tráfego, permitindo reações mais rápidas e direção mais segura; proteção do trem de força eliminando situações limítrofes de sobre-rotação do motor e engates equivocados; nivelamento das performances dentre os diversos motoristas da frota, gerando considerável redução do consumo de combustível e simplificação da condução, minimizando o necessário treinamento dos motoristas. Considerando o relevo e a malha viária do Brasil, o fato de o veiculo com transmissão automatizada permitir ao condutor se concentrar 100% no tráfego certamente contribuirá para tornar as operações mais seguras e será mais um argumento a favor desse novo sistema.

O Carreteiro – A transmissão automatizada ZF AS-Trônic que a empresa está divulgando na F-Truck, através do caminhão de Truck Test está disponível para o mercado brasileiro?
Wilson Bricio – Estamos trabalhando no sentido de trazer essa solução para o Brasil no curto prazo. Acreditamos no potencial da automatização e entendemos que o melhor é que os clientes testem e se convençam das vantagens. No início, a ZF trará a solução para o Brasil, através de importações da matriz.

O Carreteiro – Além da F-Truck, existem outras ações da empresa para mostrar e divulgar a ZF AS-Trônic? Esta transmissão é a mais moderna da empresa?
Wilson Bricio – Estamos equipando alguns caminhões de grandes frotas com transmissões ASTronic para serem colocados em operação normal. Nessas frotas, haverá acompanhamento intenso de fatores de custo operacional, como o consumo de combustível e desgaste de lonas de freio e discos de embreagem. Esperamos resultados bastante positivos nesse sentido nas operações. Ao mesmo tempo estamos planejando um grande evento envolvendo frotistas, montadoras e imprensa, no qual apresentaremos a família completa de soluções de transmissão automatizada da ZF. Hoje, certamente, a transmissão ASTronic é o destaque das transmissões para veículos comerciais no portfólio da ZF.Temos também as transmissões automáticas Ecomat, principalmente na linha de ônibus urbanos, e futuramente estaremos apresentando soluções de sistemas híbridos.

O Carreteiro – Qual a expectativa em relação a este produto para o Brasil?
Wilson Bricio – Assim como a direção hidráulica para veículos comerciais e as transmissões automáticas para ônibus urbanos, nos quais a ZF foi pioneira na introdução no Brasil, aqui também a ZF tem a expectativa de trazer um sistema consolidado e estruturado para o mercado. Teremos o suporte de toda a rede ZF, com mais de 150 pontos de serviço na América do Sul para mais este produto, que acredito será muito bem sucedido no mercado brasileiro.

O Carreteiro – Até que ponto as montadoras de caminhões podem contribuir para promover uma eventual mudança na cultura dos motoristas e donos de transportadoras brasileiros em relação ao uso de caixas automatizadas?
Wilson Bricio – Oferecendo seus veículos com esses sistemas modernos a preços compatíveis, incentivando principalmente a disseminação dos mesmos sob a ótica da segurança e do menor custo operacional. E também permitindo aos motoristas que tenham acesso, eventualmente – através de test- drives – às novas transmissões.

O Carreteiro – Há algum outro produto que a empresa vai implantar no mercado brasileiro e que já possa ser revelado aos profissionais do transporte rodoviário?
Wilson Bricio – A ZF trará ao mercado brasileiro também o moderno retardador secundário integrado INTARDER. Esse sistema será aplicado tanto em transmissões manuais quanto nas automatizadas pesadas, e será mais um marco no sentido de implementar tecnologia a serviço da segurança e da otimização dos custos operacionais no transporte.