Por Daniela Giopato e Fotos Alexandre Andrade
Em abril de 2008, a Prefeitura Municipal de São Paulo deu o primeiro passo para aumentar a fluidez no tráfego da cidade e optou por tirar de circulação cerca de 100 mil dos 210 mil caminhões que rodam na área central através da delimitação da ZMRC (Zona Máxima de Restrição a Caminhões), os veículos de carga de médio e grande portes ficaram proibidos de circular na área de 100 quilômetros quadrados interna ao centro expandido, das 5h às 21h, de segunda a sexta-feira, e das 10 às 14h aos sábados.
A cartada seguinte em relação ao tráfego de caminhões na cidade foi dada no final de julho de 2009, quando passaram a respeitar também o mesmo sistema de rodízio implantado para os automóveis, nas vias que delimitam o centro expandido de São Paulo, conciliando o dia da semana com o final da placa, nos horários das 7 às 10 horas e das 17 às 20 horas. Nesta segunda ação, os Veículos Urbanos de Cargas (VUCs) – veículos com até 6,3 metros de comprimento- foram liberados do rodízio de placas par e ímpar, entre 10h e 17h e tiveram apenas de respeitar o rodízio municipal de veículos.
Em agosto de 2010, a prefeitura anunciou mais uma restrição e proibiu a circulação dos caminhões, no período de segunda a sexta-feira, das 5h às 21h, e aos sábados das 10h às 14h na Marginal Pinheiros, entre as pontes do Jaguaré e Morumbi; nas avenidas dos Bandeirantes e Roberto Marinho; além de dez vias da região do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo – avenidas Professor Francisco Morato, Giovanni Gronchi, Morumbi (entre as pontes do Morumbi e da avenida Professor Morato), Luis Migliano, Guilherme Dumont Villares, Jacob Salvador Zveibel, Jorge João Saad e ruas Oscar Americano, Padre Lebret e Jules Rimet.
As medidas mudaram a rotina dos transportadores e motoristas de caminhão que necessitam cruzar a cidade de São Paulo, deixando como alternativas aos veículos de carga seguirem pelo trecho Sul do Rodoanel Mário Covas – que liga as rodovias Regis Bittencourt, Imigrantes e Anchieta e vai até a cidade de Mauá – no ABC Paulista -, programar as viagens para os horários permitidos ou caminhos alternativos, que inclui trafegar em ruas e avenidas sem estrutura adequada para o tráfego de veículos pesados, além de causar transtornos tanto para o carreteiro quanto aos condutores de carros de passeio.
Por outro lado, dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) mostram que os efeitos têm sido altamente positivos no trânsito da cidade, os índices de congestionamento também vêm caindo ao longo dos últimos anos, além da redução do número de mortes no trânsito. Em 2009 foram registradas 81 vítimas fatais a menos no trânsito de São Paulo, uma queda de 5,5% em relação ao ano anterior, passando de 1.463 para 1.382. O índice de lentidão, por sua vez, registrou redução de 14,3% e passou de 115,6km em 2008 (ano de implantação das primeiras medidas) para 99 km em 2010, mesmo com o crescimento de 23,7%, da frota de veículos registrada no Detran-SP, passando de 5.621.049 veículos em 2007 para 6.953.558 até novembro de 2010.
A via paulistana que concentra maior volume de veículos é a Marginal Tietê, com 23,5 quilômetros de extensão em cada sentido, por onde circulam diariamente 350 mil veículos, sendo 70 mil caminhões e 36 mil motos. Em 2009 foram registrados em suas pistas 1.347 acidentes fatais, ante 1.400 em 2008, redução de 3,8%. Os caminhões estiveram envolvidos em 151 ocorrências, contra 191 no ano anterior, uma redução de 22,6% somente com veículos pesados de carga.
Para o presidente do Sindicam – SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo), Norival de Almeida e Silva, apesar de ser notória a melhora no trânsito em alguns pontos da cidade, a medida trouxe dificuldades para os motoristas de caminhão que residem nas áreas de restrição, além de ter aumentado o custo do transporte em aproximadamente 18%, sem repasse para o frete, o que deve acontecer em breve e deverá ser sentido nos preços de produtos e serviços consumidos na ponta. Além disso, alguns embarcadores perderam postos de trabalho e passaram a substituir seus caminhões inclusos na restrição para Veículos Urbanos de Cargas (VUCs).
Outro ponto importante citado por Silva é o comprometimento da segurança durante o tráfego na cidade, resultado do aumento de acidentes envolvendo caminhões na cidade, já que para chegar ao destino ou passar pela cidade antes do horário de restrição os carreteiros permanecem mais tempo ao volante, o que facilita a ocorrência de fatalidades. “Proibir apenas os caminhões é uma medida paliativa já que as autoridades de trânsito estão emplacando cerca de 900 veículos novos por dia, somente na cidade de São Paulo. Para melhorar o trânsito na capital é importante que a administração aplique uma política correta de Transporte Público”, afirma.
O autônomo Laurindo Brunetto, 28 anos de profissão, de Chapecó/SC, viaja com frequência para São Paulo e acredita que as medidas tomadas para tentar reduzir o trânsito na capital têm por meta resolver apenas parte do problema. Ele explica que a restrição de horário na Marginal Pinheiros dificultou muito o seu trabalho.
Conta que um percurso que antes demorava uma hora para ser realizado ele não faz em menos de duas. Como consequência, seu gasto com combustível e manutenção do caminhão também aumentaram. “Para fugir da proibição de circulação na Marginal Pinheiros é preciso contratar os serviços de um chapa que conheça algumas “quebradas” pordentro da cidade, mas o grande problema é que esses locais estão cheio de faróis, ruas estreitas, desertas e com excessivo número de carros de passeio, o que causa certo desconforto para as duas partes”, destaca.
Os colegas de profissão de Juazeiro do Norte/CE, Ed Carlos Silva de Souza, 32 anos de idade e 13 de profissão, e Ilmar Diniz de Lima, 46 de idade e 27 de profissão, têm opinião de que se fechou os olhos mais uma vez para a importância do caminhão e criou mais uma dificuldade no dia a dia da profissão dos motoristas.
Ed Carlos conta que há cerca de dois meses fez entrega em uma empresa na Avenida Nações Unidas e para chegar ao destino – que antes era feito pela Marginal Pinheiros – teve de contar com a ajuda do chapa para fazer uma rota alternativa. O roteiro incluiu a subida à Avenida Salim Farah Maluf, trecho da Avenida Professor Luís Ignácio de Anhaia Melo, para acesso às ruas das Juntas Provisórias, via Anchieta até a saída do km 17 para acessar o corredor ABCD e Av. Eduardo Ramos Esquivel para finalmente chegar à Cupecê e poder seguir até a Avenida Nações Unidas. Porém, desde o dia 14/02 está proibida a circulação em 11 vias do centro de Diadema, na região do ABC, entre 6h e 20h de segunda a sexta e das 6h as 14h aos sábados.
Ele diz que gastou duas horas e meia nesse percurso e aproximadamente 20 litros de óleo a mais, além do estresse de faróis, ruas estreitas, falta de compreensão dos condutores de veículos leves e muito cansaço, o que poderia ter contribuído para um acidente. Depois de descarregar, Ed Carlos esperou até às 21h para poder seguir pela Marginal e chegar à rodovia Presidente Dutra, percurso que diz ter realizado em uma hora. “Foi então que decidi não aceitar mais carga para cá, pois sei que vou perder dinheiro. Minha segurança e saúde valem mais”, desabafa.
Ilmar Diniz de Lima também enfrentou as mesmas dificuldades quando teve de transportar pó de pedra para o Bairro de Santo Amaro. Lembra que fez praticamente o mesmo percurso do colega, também com a ajuda do chapa, ao preço de R$ 50,00. Para Ilmar nas vias alternativas o trânsito é infernal, todo mundo tem pressa e horários. Afirma que os carreteiros sabem que estão atrapalhando a rotina do local, o caminhão é grande, lento e muitas vezes o motorista de carro não entende e se arrisca em manobras que podem causar acidente. “O que adianta tirar os caminhões da Marginal Pinheiros, que tem estrutura para receber caminhões e direciona-los para bairros, ruas e avenidas que não comportam grande fluxo de veículos pesados?”, questiona.
Novato na profissão, o gaúcho de Porto Alegre, Elvis Rafael Zimmer, 21 anos de idade, concorda com os colegas, principalmente em relação ao trânsito que acaba atrapalhando o carreteiro, sem contar a dificuldade de dividir espaço com os veículos de passeio. Apesar de, no seu caso, transportar solvente e poder trafegar apenas até as 22 horas, diz ser muito tranquilo e raramente se estressar com essas situações. “Mas tenho de concordar que tanto a restrição de rodízio quanto a de horário prejudicaram a nossa rotina, pois temos que aguardar a liberação das vias para fazermos o trabalho e assim perdemos até um dia, o que para nós significa mais custo e menos tempo em casa”, conclui.
Na rota do Nordeste para São Paulo, Benedito Cândido, de 45 anos de idade e 21 de profissão, de Catanduva/SP, é mais um carreteiro que está insatisfeito com tanta restrição na capital paulista. Reclama que para não ter de esperar o horário permitido para trafegar na Marginal Pinheiros enfrenta ruas estreitas, desertas e carros de passeio tentando de qualquer maneira cruzar a cidade. “Está realmente ficando cada vez mais difícil rodar na cidade de São Paulo. Essas rotas alternativas não oferecem infraestrutura para receber tantos caminhões. O trânsito nesses locais é muito pesado e irrita os motoristas de veículos leves e gera estresse, cansaço entre outros fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes”, opina.