Por Daniela Giopato

Para a maioria das pessoas que trabalha, janeiro é sinônimo de férias e descanso ao lado dos familiares e amigos. Porém para outros, como os carreteiros, o primeiro mês do ano representa uma das fases mais complicadas do ano. A explicação é simples: neste período, os caminhões têm de dividir espaço nas rodovias com um número maior de veículos de passeio e, consequentemente, com motoristas com pouca experiência de estrada, tornando o dia a dia da profissão mais estressante a até mesmo com maior risco de acidentes.

Uma boa medida para mostrar os resultados no aumento do movimento nas estradas no mês de janeiro são os números da Polícia Rodoviária Federal, os quais apontam um leve aumento de ocorrências. Em 2014, foram computados 15.004 acidentes no primeiro mês do ano, contra 14.612 em dezembro, resultando na média mensal entre fevereiro e novembro de 14.000 ocorrências registradas.

Diante dessa realidade, os carreteiros se sentem obrigados a redobrar a atenção, dirigir com mais cautela e responsabilidade e também manter a calma e paciência diante daqueles motoristas mais imprudentes, descompromissados com a segurança e muitas vezes com pressa de chegar logo ao destino.

O início do ano é a pior época para trabalhar, define o carreteiro Rodolfo de Almeida, lembrando que a pressa dos motoristas de carros de passeio complica o trânsito.
O início do ano é a pior época para trabalhar, define o carreteiro Rodolfo de Almeida, lembrando que a pressa dos motoristas de carros de passeio complica o trânsito.

Esse é também o pensamento do carreteiro Rodolfo Siqueira de Almeida, 41 anos de idade e 22 de profissão, de Londrina/PR. Ele define o final e o início do ano como as piores épocas para se trabalhar. Afirma que neste período o volume de trabalho aumenta, porém, o tráfego de veículos também. “Em janeiro, os objetivos na estrada são muito diferentes. Enquanto os motoristas de caminhão estão trabalhando e preocupados em entregar a carga dentro do prazo, os outros condutores estão em ritmo de férias e com pressa de chegar logo na praia. E isso complica muito o nosso dia a dia”, observou.

Ainda de acordo com Rodolfo, muitos motoristas de carro de passeio têm pouca experiência em estrada, não conhecem caminhão e dificultam o compartilhamento dos dois tipos de veículo no mesmo espaço. “Em subida da serra, por exemplo, o caminhão fica lento, mas os motoristas de carros de passeio ficam sem paciência e tentam ultrapassagens arriscadas”, afirma. Outras atitudes bastante comuns são as ultrapassagens pelo acostamento, em trechos de pista com faixa contínua e também pela direita, condição em que o carreteiro tem pouca visão. “Essas atitudes contribuem para aumentar os acidentes e atrasar o nosso trabalho”, reclama.

As ultrapassagens arriscadas são as ocorrências  que mais prejudicam a rotina das estradas e comprometem a segurança, opina Joel Jesus Severino
As ultrapassagens arriscadas são as ocorrências que mais prejudicam a rotina das estradas e comprometem a segurança, opina Joel Jesus Severino

O autônomo Joel Jesus Severino, 45 anos de idade e 12 de profissão, atua no segmento de embalagem e também de eventos, segmento com maior demanda de trabalho no período entre dezembro e janeiro. Apesar da situação favorável para a atividade, Severino admite ser uma época complicada de trabalhar, porque o movimento nas estradas aumenta significativamente, assim como as dificuldades. “Sempre digo o seguinte: “respeitem o meu trabalho que respeito o seu passeio”. Na sua opinião, as ultrapassagens arriscadas são as que mais prejudicam a rotina na estrada e comprometem a segurança de todos os usuários. “Alguns motoristas parecem não ter a noção do que é um caminhão e colocam em risco a vida de todos”, adverte.

O trabalho nesta época do ano é mais cansativo, o motorista dirige por dois e os congestionamentos são constantes, comenta o motorista Lucas de Goes
O trabalho nesta época do ano é mais cansativo, o motorista dirige por dois e os congestionamentos são constantes, comenta o motorista Lucas de Goes

Há seis anos na profissão, Lucas de Goes, de Fraiburgo/SC, atua no segmento de frigorifico e reconhece que janeiro é uma época de bastante trabalho, mas também de muita tensão. Afirma que tem muito motorista sem prática de estrada cometendo infrações graves e comprometendo muito a segurança das pessoas. “Ultrapassagens ou ações inesperadas, como entrar na frente do caminhão, são comuns e perigosas”, exemplificou.

Em sua opinião, o trabalho nessa época do ano é mais cansativo ainda, porque o carreteiro acaba dirigindo por dois e os congestionamentos são constantes. “O jeito é redobrar a atenção, ter mais cuidado, respeitar a vida e ter menos pressa de chegar ao destino. Ainda mais os motoristas de carro de passeio que, na maioria, estão de férias e se preparando para aproveitar com a família”, afirma.

O movimento nas rodovias federais aumenta quase 50% e ninguém respeita o trabalho do carreteiro e as imprudências comprometem nosso trabalho, relata Evanir de Souza
O movimento nas rodovias federais aumenta quase 50% e ninguém respeita o trabalho do carreteiro e as imprudências comprometem nosso trabalho, relata Evanir de Souza

O gaúcho de Farroupilha/RS, Evanir de Souza, de 44 anos de idade e 14 de profissão, também atua no transporte de produtos frigorificados e compartilha da opinião de que é muito estressante trabalhar no início do ano. “O movimento nas rodovias federais aumenta em quase 50% e ninguém respeita o nosso trabalho. É muita imprudência, falta de atenção, velocidade alta, enfim, situações que prejudicam o nosso dia a dia e comprometem as entregas”, desabafa.

Outro fator importante citado por Souza é a falta de conhecimento da maioria dos motoristas de carro de passeio sobre o caminhão e seu comportamento na estrada. “Temos em mãos um veículo que pesa mais de 50 toneladas, cujo tempo de reação para desacelerar e evitar a colisão é muito maior do que a de um veículo pequeno. Mesmo assim, motoristas sem muita experiência entram na nossa frente ou tentam ultrapassagens com alto grau de risco”, destaca.

Tem muito motorista “pé de breque” que acredita que sabe dirigir, não entende como funciona o caminhão e acaba causando muitos problemas, diz Júlio Cesar Bartz
Tem muito motorista “pé de breque” que acredita que sabe dirigir, não entende como funciona o caminhão e acaba causando muitos problemas, diz Júlio Cesar Bartz

Para Júlio Cesar Bartz, 53 anos de idade e 28 de estrada, o período entre dezembro e janeiro não é um dos mais favoráveis. Assim como seus colegas de profissão, ele aponta como principais motivos o aumento do movimento de veículos e o baixo valor do frete. “Tem muito “pé de breque” que acredita saber dirigir, mas provoca muitos problemas. Os motoristas deveriam entender como funciona um caminhão antes de tentar ultrapassagens perigosas”, disse. Bartz afirmou que já se estressou muito com essas situações, mas hoje em dia não se incomoda mais. “Tomo uma agua gelada e sigo em frente, mas o ideal seria se todo carro de passeio fosse guiado por uma mulher”, brinca.

Apesar de trabalhar na entrega urbana, e enfrentar menos movimento de veículos na cidade, Laudir Lopes Cardoso  convive com as restrições e rodízio durante todo o ano
Apesar de trabalhar na entrega urbana, e enfrentar menos movimento de veículos na cidade, Laudir Lopes Cardoso convive com as restrições e rodízio durante todo o ano

Diferente da maioria dos carreteiros, o paulista Laudir Lopes Cardoso, 59 anos de idade e 38 de profissão, afirma que tem certa vantagem no mês de janeiro. Ele trabalha com entregas urbanas e nesse período a cidade fica vazia, com menos trânsito. Em contrapartida enfrenta restrições e rodizio que permanecem o ano inteiro.

Sua única queixa diz respeito à atual situação econômica do Brasil, a qual reduziu a movimentação de mercadorias nas prateleiras dos mercados e transformou os caminhões em depósitos. “Chegamos no local para descarregar e temos de aguardar. Eu já fiquei parado no estacionamento de um supermercado durante 15 dias. Essa situação é complicada e também dificulta o nosso trabalho. Mas com relação ao movimento de veículos é ótimo”, explica.

A PRF concorda que janeiro é um mês complicado e acredita que o carreteiro deve ter em mente que neste período muitos motoristas inexperientes em rodovias de grande movimento colocam toda sua família em seus carros e saem para viajar. Os motoristas profissionais precisam ter paciência, porém todos os usuários devem respeitar os limites de velocidade, manter distância segura dos veículos que estão à frente e obedecer à legislação de trânsito, para promover uma convivência saudável nas rodovias.

Neste período, a PRF promove ações de segurança nas estradas. Entre os dias 18 de dezembro e 20 de fevereiro, por exemplo, participa da Operação Rodovia, com foco na conduta de risco dos motoristas, tais como a embriaguez ao volante, excesso de velocidade e ultrapassagens proibidas. As motocicletas, por sua vez, recebem atenção especial, pois acidentes envolvendo esse tipo de veículo tem alta taxa de letalidade. Além disso, essa operação tem a característica da integração entre os diversos órgãos federais, estaduais e municipais envolvidos na fiscalização do trânsito.