Por Evilazio de Oliveira

Para os carreteiros que trabalham no Vale do Taquari, na região Nordeste do Rio Grande do Sul – habitado, sobretudo por pequenos agricultores que se dedicam à criação de suínos, pintos, frangos ou à produção de leite –, a possibilidade de trabalhar como terceirizados no transporte para as grandes empresas que centralizam a coleta, manufatura e distribuição dos produtos desse minifúndio, é uma alternativa rentável e, justamente por isso, muito disputada. Essas empresas trabalham com carreteiros autônomos, moradores na região, beneficiados pela vantagem da garantia do frete certo e dos trechos relativamente curtos que percorrem no dia-a-dia.

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Em Lajeado, município a 120 quilômetros de Porto Alegre e às margem da BR-386, uma fábrica de rações da Avipal S.A., tem uma movimentação diária de 49 caminhões fixos que abastecem as propriedades de aproximadamente 1.800 integrados – aqueles agricultores que recebem os pintos, os leitões, as rações – executam o trabalho de criação e depois a empresa apenas recolhe os frangos ou os suínos adultos, prontos para o abate – conforme explica o supervisor administrativo da fábrica de rações, Valmir José Noschang.

Esses integrados estão distribuídos em minifúndios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, numa atividade que garante a produção e com mercado certo, pois a empresa se encarrega de buscar e dar a destinação final aos pintos, frangos ou suínos. O produtor rural só recebe o valor correspondente ao trabalho que teve com a criação, descontados os insumos e demais despesas. Todos concordam que é um bom negócio.

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E, segundo o encarregado de Logística da fábrica de rações, em Lajeado, Volnei Ricardo Bauer, 35 anos e há oito nesse setor, o transporte graneleiro também se constitui numa ótima alternativa para os carreteiros da região. “A comprovação pode ser feita com o tempo de casa dos prestadores de serviço, quase todos com 10 e 15 anos de casa. E novas vagas só são abertas em caso de um aumento razoável na produção ou quando – coisa difícil de acontecer, diz Bauer – algum motorista decide vender o caminhão e se aposentar ou cuidar de outro negócio. Com isso, o comprador do caminhão tem a preferência pela vaga, mesmo assim precisa passar pelo crivo da empresa, com análise de ficha cadastral e toda a burocracia necessária para comprovar que se trata, efetivamente, de uma pessoa correta”, afirma.

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Depois de ter passado quase toda a vida na lavoura, Ademir Borniatti, 48 anos, oito de estrada, decidiu comprar um caminhão, junto com um sócio. O negócio deu certo e hoje os dois já têm três graneleiros totalmente pagos. E, para comprovar que acredita no negócio, Borniatti adquiriu um Volkswagen 2003 financiado e que também já está quase pago. Garante que está feliz, o trabalho é bom, o frete garantido e dá pra “pagar as contas”.

Adriano Pezzini, 29 anos, 10 de volante, rodou algum tempo com uma caçamba. Conseguiu comprar um Cargo 2001 financiado e foi transportar ração. Pagou com facilidade as prestações de R$ 1.790,00 e não pensa em mudar de atividade e nem viajar para longe.

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Para Dailor Roberto Horn, 28 anos, 10 de profissão – dirigindo como empregado há sete, sempre em atividades ligadas à avicultura – o único inconveniente é a péssima conservação das estradas de acesso às granjas, ou mesmo em muitas localidades pequenas, do interior. Ele só trabalha em trechos curtos e faz três ou quatro viagens por dia. Não reclama: consegue um salário médio de R$ 900,00 “limpos” no final do mês, sem grandes preocupações.

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Esnar Führ, 38 anos, 13 de estrada, carrega há quatro para a Avipal. Ele e mais três irmãos são donos de sete pesados, dois deles no transporte de rações e um terceiro transportando leite nas granjas das redondezas. Os demais estão em atividades igualmente ligadas à atividade agrícola. Antes, Esnar chegou a transportar carga seca, porém quando surgiu a oportunidade de comprar um caminhão – e a vaga, para o frete da fábrica de rações – não pensou muito e fez logo o negócio. Hoje ele dirige um Mercedes 99 e acredita que a melhor saída para os carreteiros da região é ficar nessa integra-ção no transporte de frango, suíno e ração.

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O pessoal do trecho cuida muito das suas obrigações – avalia o carreteiro André Azambuja, 36 anos, 17 de direção. Lembra que é preciso cumprir horários, não atrasar nas entregas de cargas vivas ou da ração, cuidar da manutenção do caminhão e da própria aparência e seguir as normas da empresa, que todos devem conhecer.

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André trabalha como empregado. Ainda não conseguiu economizar o suficiente para comprar um caminhão, mas não perde a esperança. Vai comprar um Scania, “mesmo que seja financiado”, diz.

Legendas:
Valmir José Noschang fala que os agricultores executam o trabalho de criação, passando depois a responsabilidade para as empresas que os abatem

Volnei Ricardo Baurer defende que o transporte graneleiro é uma ótima alternativa da região

Com o frete local, Ademir Borniatti e seu sócio já compraram três caminhões que estão totalmente pagos

Quem que não pensa em viajar para longe e não mudar de ramo pelo bom serviço que tem é Adriano Pezzini

Para Dailor Roberto Horn, o único inconveniente da profissão é a péssima conservação das estradas de acesso às granjas

André Azambuja lembra que seguindo regras como horários, não atrasar nas entregas de cargas vivas ou da ração é importante

Antes carregava carga seca, mas Esnar Führ migrou para as rações, comprando um caminhão Mercedes-Benz