Por Daniela Giopato
Preservar e reestruturar o planeta, diminuir os efeitos ambientais provocados pelas atitudes ecologicamente incorretas do homem, controlar os estragos e reverter o cenário para garantir melhor qualidade de vida para as gerações futuras são as principais questões discutidas atualmente por políticos, ambientalistas, cientistas, estudiosos e pessoas comuns de quase todo o planeta.
Quase tudo que se produz gera – em diferentes graus – poluição ao meio ambiente, seja no processo produtivo, durante o uso ou no descarte. A maioria das pessoas sabe que o pneu, por exemplo, tem grande impacto ambiental se descartado em local inadequado quando se torna inservível ou queimado a céu aberto, pois nos dois casos contribui para poluir o meio ambiente. Porém, nem todos sabem que seu tempo de decomposição é de mais de 150 anos. Por isso, tanto os fabricantes, quantos os reformadores e suas respectivas entidades de classe têm demonstrado grande preocupação não somente com a destinação adequada dos pneus inservíveis, como também durante seu processo de produção, dos materiais de reforma e também da própria reforma.
Em 2007, os fabricantes de pneus novos criaram – em parceria com a ANIP (Agência Nacional da Indústria de Pneus) – a Reciclanip, com o objetivo de desenvolver um trabalho de coleta e destinação de pneus inservíveis. A ideia é simples e consiste em deixar o pneu em pontos de coleta quando ele chega ao fim de sua vida útil, para que seja recolhido por empresas destinadoras licenciadas por órgãos ambientais homologados pelo IBAMA. Somente em 2008, a Reciclanip coletou 160 mil toneladas de pneus inservíveis e superou as 230 mil toneladas em 2009. A forma mais comum de reaproveitamento dos pneus inservíveis no Brasil é na indústria de cimento, como combustível alternativo.
Mas, as questões relacionadas à preservação ambiental não estão apenas do lado de fora das empresas fabricantes de pneus, estão inseridas no dia a dia e se faz presente durante todo o processo produtivo, através de programas sustentáveis que visam minimizar a emissão de poluentes, otimizar recursos naturais e proporcionar qualidade de vida tanto para os funcionários quanto para a sociedade em geral. A Goodyear é um dos fabricantes que há tempo trata do assunto, mas a partir de 2007 sentiu necessidade de aprofundar e desenvolver programas e iniciativas ligadas a conscientização do uso dos recursos naturais. O primeiro passo foi criar um departamento de sustentabilidade à área de assuntos corporativos, para juntos desenvolverem ações de conscientização dos funcionários e de reaproveitamento dos produtos utilizados durante o processo de produção dos pneus.
A empresa procura conservar energia através da utilização de gás natural nas caldeiras para a fabricação de vapor ou energia elétrica. Além de investir em tecnologia e aquisição de máquinas mais eficiente e que consomem menos energia. A água utilizada pelas fábricas é tratada e retorna limpa para o meio ambiente e desta forma a Goodyear garante que reduz seus custos e o consumo de água. Outra ação é a coleta seletiva de papel, plástico, vidro e metais em todas as unidades da empresa. “Pesquisamos também novas matérias-primas e desenvolvemos iniciativas como a redução do uso de solventes nas fábricas e o inventário de carbono”, explica Miguel Dantas, gerente sênior de sustentabilidade e assuntos coorporativos.
Na opinião de Dantas, o ponto forte para a questão da preservação ambiental é um programa de treinamento, educação e conscientização dos funcionários, cujo objetivo é fazê-los entender sua responsabilidade em relação as ações que podem causar impactos negativos no ambiente. Um exemplo de que este tipo de ação traz bons resultados é a redução dos resíduos em todas as fábricas que, segundo a empresa, chegou próximo a zero por cento além do reaproveitamento em outras cadeias produtivas, como os fabricantes de tapetes para carro, pneu de bicicleta entre outros. “Quanto menos resíduos produzidos menor será a emissão de gases de efeito estufa. Assim, a nossa contribuição ao meio ambiente será ainda maior”, afirma Dantas.
Para os próximos anos, a Goodyear quer consolidar todos os projetos iniciados, reforçar a questão da sustentabilidade dentro da empresa e apoiar iniciativas. Dentro dessa perspectiva, apresentou o pneu-conceito com tecnologia Biolsoprene™ – resultado de uma cooperação entre a Genencor, divisão da Danisco -, em Copenhague, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A Biolsoprene™ é uma alternativa inovadora para substituir por biomassa renovável um ingrediente petroquímico usado na fabricação de borracha sintética. A disponibilidade comercial do produto está prevista para 2013.
A Continental Pneus também adota política de responsabilidade socioambiental, que engloba uma série de ações para a melhoria contínua de processo produtivo através da execução de práticas operacionais ambientalmente sustentáveis. Na fábrica da Alemanha, por exemplo, os resíduos de pneus são utilizados para gerar energia elétrica. Os subprodutos das carcaças usadas de pneus são empregadas nas estruturas de móveis e dão origem a tapetes de borracha, solados de sapatos, componentes para a indústria automotiva e para a produção de capa asfáltica.
O mesmo processo é aplicado na fábrica instalada no Pólo Industrial de Camaçari, na Bahia, certificada pela ISO 14001, que implantou, desde o início de suas operações, a Comissão Técnica de Garantia Ambiental (CTGA) e o Setor de Segurança, Saúde e Meio-Ambiente (SSMA) para acompanhar os processos produtivos e controlar a produção de resíduos industriais. A empresa dispõe de um programa de gerenciamento de resíduos sólidos, de refugo de produção, de um plano de monitoramento de emissões atmosférica, de águas pluviais, realiza o tratamento biológico de efluentes e mantém um viveiro de mudas.
Com o programa de gerenciamento de resíduos, a empresa instituiu a coleta seletiva através de mobilizações e da educação ambiental continuada buscando mudar os conceitos e hábitos tradicionais das pessoas em relação aos resíduos e incentivos à reutilização e à reciclagem. Os resíduos e sucatas gerados pelo processo de produção são reaproveitados para composição de outros produtos. No local também são realizados diversos projetos ambientais e de ecocidadania. Entre eles o de garantia ambiental, que já plantou mais de 10 mil mudas e tem previsão de plantar outras 14 mil. Já o Aroeira foi criado para conscientizar colaboradores e familiares sobre a responsabilidade ecológica de cada um. Outros como o Verde Conti e o de Reciclagem buscam parcerias da Continental com fábricas de reciclagem para a produção de diversos produtos.
Outro trabalho desenvolvido pela companhia está ligado à redução do consumo de combustível do veículo, o que leva a minimizar as emissões de gás carbônico. De acordo com a empresa, essa redução figura entre 4% e 5%, porém estudos indicam potencial para se atingir até 10%. A Continental AG patenteou a sílica de terceira geração que contribui para um contato mais uniforme do pneu com o solo, minimizando a resistência ao rolamento. Dentro desse conceito, disponibiliza a linha de pneu ecológica ContiEcoContact, que registrou uma economia de combustível de 5%.
A Pirelli, por sua vez, realiza tanto no Brasil quanto na América Latina a gestão de refugos industriais, com índices de reciclagem acima de 75%; tem sistemas e processos de otimização do consumo de água, com reutilização de até 98%, e conta também com um plano de investimentos dedicado para as áreas de saúde, segurança e meio-ambiente. Essas ações renderam à empresa – que possui certificados com base nas normas internacionais ISO 14001 e OHSAS 18001, desde 1998 – o primeiro lugar nas três primeiras categorias voltadas ao segmento de autopeças do Anuário de Sustentabilidade Mundial (2010 Sustainability Yearbook). A companhia foi considerada a Líder do Setor, Companhia Classe de Ouro e Excelência do Setor.
Em 2007, conforme explica Flavio Bettiol Jr., diretor da unidade de negócios de caminhão e agro da Pirelli na América Latina, a empresa ingressou em dois dos mais importantes índices de referência para companhias com forte comprometimento sócio-ambiental: o Índice Dow Jones de Sustentabilidade e o Índice Dow Jones STOXX de Sustentabilidade. Lançados em 1999, os dois índices consideram desempenhos econômico, ambiental e social de uma série de empresas ao redor do mundo.
Outro grande fabricante de pneus, a Michelin administra o projeto Ouro Verde Bahia, em conjunto com doze ex-funcionários que se tornaram médios proprietários e empregam cerca de 1.000 pessoas. A ideia começou em 1984, após a empresa adquirir uma fazenda de seringueiras no sul da Bahia, a 200 km de Salvador, com o objetivo de produzir borracha natural.
A partir de 2003, o empreendimento passou a abrigar o Projeto Ouro Verde, iniciativa que vem gerando lucro, empregos e inserindo novas tecnologias em uma das regiões com menor IDH (Índices de Desenvolvimento Humano) do Brasil. Desde a implantação do programa, a produção de borracha natural da fazenda aumentou cerca de 50%, chegando a 2.300 toneladas por ano. Na mesma área também foi introduzida a cultura de cacau, com uma produção estimada em 85 toneladas em 2010. Mantém também 3.000 hectares de reserva de Mata Atlântica. A Bridgestone, também engajada em projetos sustentáveis, mantém seu gerenciamento ambiental baseado nos requisitos da ISO 14001 e trabalha em dois projetos globais em parceria com a Federation Internationale Automobile (FIA), que visa a responsabilidade social. Um deles é o “Torne seu carro mais limpo”, que tem como meta
reduzir o impacto dos automóveis no meio-ambiente através da educação de motoristas. O projeto está presente nos cinco continentes desde 2008. Para otimizar os recursos e gerar benefícios econômicos e financeiros, tanto para a companhia quanto para a sociedade, a empresa reaproveita 99% da água consumida, que, com ajuda de laboratório químico especializado é utilizada, há 10 anos, nas linhas de produção gerando economia de milhões de litros anuais. Materiais da fábrica, como lâmpadas, óleo, tecidos e alumínio também são reciclados. No caso dos plásticos, esse processo é feito por uma máquina Polyfilme. “Com a recicladora, atualmente 70% de todo o plástico utilizado na empresa é reaproveitado”, explica a coordenadora de comunicação, Maria Tereza Orlandi.
A Bridgestone dispõe também de um sistema de captura de odores para evitar que os cheiros decorrentes do trabalho com borracha escapem para a vizinhança. “Realizamos o monitoramento diário da emissão atmosférica, treinamento com os funcionários, seleção das transportadoras e destinadoras, e o cumprimento de todas as especificações e normas ambientais”, complementa. Para os próximos anos, a empresa quer dar continuidade aos projetos globais, que já se encontram em andamento.
Na outra ponta do segmento de pneus, o setor de reforma também procura manter uma atuação positiva em relação aos impactos ambientais, por postergar a destinação final da carcaça em cerca de 30 meses e ter o resíduo sólido reciclado por outras atividades. A produção da banda de rodagem, por exemplo, emprega apenas 25% do material utilizado para um pneu novo, e cada pneu reformado economiza, em média, 57 litros de petróleo. Outro ponto considerado positivo para o setor de reforma é o fato de reduzir o consumo de energia elétrica e de matéria prima em até 80%.
Para reforçar o compromisso dos recauchutadores em relação às questões ambientais, a partir do segundo trimestre de 2010, as empresas que estiverem dentro dos critérios estabelecidos pela ABTN e apresentarem produtos ou serviços com menor impacto ambiental em relação a outros produtos disponíveis no mercado estarão aptas a passarem pelo processo para ostentarem a Rotulagem Ambiental “Selo Verde”.
O procedimento está sendo criado no intuito de reconhecer o trabalho das empresas associadas à entidade em ações que atendem e desenvolvem programas que contribuem para o desenvolvimento sustentável. O programa de rotulagem ambiental – desenvolvido de forma a compatibilizar-se com a norma ABNT NBR ISO 14024:2004 – também vai ajudar a adequar as empresas reformadoras de pneus que pretendam reduzir os impactos ambientais associados ao desenvolvimento de seus produtos.
Apesar de o programa ainda não estar em vigor, empresas do setor já realizam ações sustentáveis para contribuir com o meio ambiente. A Bridgestone Bandag, por exemplo, mantém coleta seletiva e destinação correta de seus resíduos em suas unidades produtoras. A atividade de reforma de pneus é fundamental para a preservação ambiental e para a redução de custos para o transportador, lembra Ricardo Drygalla, gerente de marketing BBTS. “Uma banda de rodagem de qualidade, na medida em que oferece maior durabilidade também contribui para um menor consumo de combustível em função da menor resistência ao rolamento proporcionada pelo maior tempo de uso da banda”, explica.
Já a Vipal mantém o programa Permanente de Economia de Água, que coleta água das chuvas para evitar extraí-la do lençol subterrâneo. Atualmente, a água da chuva atende a mais de 20% do consumo da linha de produção. De acordo com a empresa, em 2009 foram captados mais de 43.100 milhões de litros de água da chuva, o que resultou em uma redução de aproximadamente 43% no consumo de água dos poços artesianos. Ainda em relação à água, a empresa implantou a Estação de Tratamento de Efluentes para a água residuária gerada pela produção, sanitários e refeitório passar por duas etapas de tratamento físico-química e biológica.
Após realizar um programa de treinamento para os funcionários e sensibilizá-los sobre a importância do descarte correto do lixo, a empresa instituiu o sistema de coleta seletiva para separar por cores os resíduos gerados e destina-los de forma ambientalmente correta. A redução de resíduos da Vipal em 2009 atingiu mais de 85% do volume gerado na fonte. Esse trabalho de conscientização também é realizado na comunidade, por meio de eventos e datas comemorativas, e também participa há dois anos do PEAC – Programa de Educação Ambiental Compartilhado.
Para a sociedade como um todo, desde que o Grupo Vipal adquiriu a Fazenda Tupi, em 1989 – localizada no distrito do Rio Branco, em Nova Prata/RS -, vem plantando mudas de Araucária angustifólia (pinheiro brasileiro), e hoje possui um área total de 962 hectares, sendo 770 deles de mata nativa. A empresa também distribui kit contendo sementes de ipê roxo, jacarandá, pau-formiga e imburana, e mantém um site exclusivo para disseminar ideias, conteúdos e discussões sobre ações em prol de um futuro melhor.
Também com objetivo de sensibilizar e mobilizar funcionários, prestadores de serviços e a comunidade local, a Marangoni tem previsão de implantar o Programa de Educação Ambiental – PEA, ainda nesse primeiro semestre de 2010. O objetivo é promover o conhecimento sobre as questões ambientais e patrimoniais, para contribuir com a disseminação de práticas que possam resultar em atitudes e comportamentos adequados à preservação do meio ambiente e do patrimônio nele inserido. “Buscamos mais cidadania, pois acreditamos que com a conscientização o retorno será natural. O processo de educação ambiental se constrói em três momentos básicos, a sensibilização, conscientização e a mobilização”, explica Gian Piero Zadra, superintendente da Marangoni Tread Latin America. Ele ressalta que essas três etapas ocorrem, necessariamente, uma após a outra e que somente consciente o cidadão poderá refletir sobre os desafios ambientais e, a partir da reflexão, adquirir conhecimento para construir as bases da sua transformação e da sua comunidade, no sentido de buscar um melhor entendimento da realidade social e ambiental do empreendimento.
Em relação aos motoristas de caminhão, a Marangoni realiza ações para reforçar a mensagem sobre a importância de cuidar do meio ambiente. Todos os carreteiros que chegam à empresa para carregar ou descarregar, seja produtos ou matéria prima, têm a oportunidade de avaliar a emissão de poluentes de seus veículos através da escala Ringelman e recebem periodicamente orientações sobre o tema, também cobramos a correta utilização de EPIs e procedimentos que atendam à resolução 420 da ANTT.
Outra empresa que também se preocupa em transmitir mensagem de conscientização para os motoristas de caminhão é a Drebor. “Sempre levamos a mensagem de preservação ambiental e dos mananciais nas oportunidades em que estivemos em contato com os carreteiros, seja em palestras técnicas através de peças de comunicação
gráfica ou nos eventos em geral”, afirma o gerente de comunicação e marketing, Adriz de Oliveira. Desde a criação do sistema de reconstrução de pneus Drebor/SPD, a empresa mantém programa de sustentabilidade. De acordo com Oliveira, a banda de rodagem fina desenvolvida pela empresa resulta em economia em torno de três litros de petróleo para cada banda fabricada.
“Desde o início de nossa história, há 20 anos, defendemos e divulgamos a necessidade de preservação do meio ambiente. Inicialmente usando imagens do Pantanal Mato-Grossense na programação visual de nossa frota e em nossas peças gráficas de comunicação”, conta. Atualmente, a empresa está investindo em um projeto de cunho ambiental e social de relevante aproveitamento na área do Distrito Industrial de Cuiabá/MS, o movimento “Atitude Meio Ambiente Vivo”. A ação, conforme explica o gerente de marketing, vai proporcionar um retorno mais mensurável, tanto para o meio ambiente quanto para o público interno e externo, e também para a sociedade. Neste aspecto, será oferecida às escolas de ensino fundamental da região do Distrito Industrial de Cuiabá a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento da ação. Também fará para parte da ação o acompanhamento e desenvolvimento do curso técnico de gestão ambiental do IFMT – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
Para otimizar os recursos e gerar benefícios econômicos e financeiros, tanto para a companhia quanto para a sociedade, a empresa minimiza gastos e adota política interna séria de economia com combustíveis fósseis e com energia elétrica, além do desperdício de produtos recicláveis, o que gera oportunidade de retorno aos funcionários e familiares em forma de benefícios.