O restaurante do Zé Garrafa estava cheio naquela quarta-feira fria de agosto quando Zelão da Cuia Seca (para os íntimos) parou para almoçar. Estranhou quando viu o pátio lotado, sem espaço para ele encostar seu velho – mas bem cuidado – 1113 trucado. Era grande o movimento de carretas, tocos e outros veículos de carga no velho pátio empoeirado e cheio de buracos, muitos dos quais se transformavam em poças d’água em dias de chuva. Porém, se tratava de um lugar muito conhecido pela comida boa e da Cuia Seca era um dos clientes cativos.
Toda vez que estava por aquelas bandas dava um jeito de controlar o horário para pegar uma bóia no Zé Garrafa. Vendo o pátio lotado, tentou achar uma explicação, mas a única conclusão a que chegou foi de que naquele dia frio a suculenta feijoada de Zé Garrafa era o único motivo para aquela movimentação toda. Mas não era. Cuia Seca não sabia, mas havia cerca de uma semana o boteco tinha sido vendido. E para sua surpresa, o novo proprietário era uma mulher. Muito bonita, diziam os comentários nas rodinhas de motoristas do lado de fora do restaurante.
Quando entrou para conferir, observou a dona atrás do balcão. Com um pano de prato sobre o ombro, ela se desdobrava para atender todas as mesas, levando os pratos e tirando os novos pedidos. “A danada é mesmo bonita”, concluiu ao vê-la à distância. Entre aqueles que já tinham almoçado, era só elogios a respeito da comida. E mais: “Júci”, como diziam alguns carreteiros, já com um certo apreço e intimidade, era a própria cozinheira. Restava, então, a ele, conferir se os elogios procediam. Após a refeição, ele também estava enfeitiçado, digo, encantado, não só pela comida como também pela cozinheira. Pagou a conta e se despediu, acenando para ela.
Quando ligou o caminhão para seguir viagem, um barulho no motor mudou seus planos. “O problema é grave”, disse o mecânico, alertando que só terminaria o serviço no dia seguinte. E após o almoço. No fundo – não muito fundo – da Cuia não se preocupou tanto com a demora. No seu subconsciente ele queria mesmo era retornar ao restaurante. E assim fez. No jantar, lá estava ele. Após fazer a refeição continuou sentado à mesa. Quase meia-noite, quando todos os carreteiros já tinham se recolhido, lá estava ele, até que “Júci” se aproximou da mesa e puxou conversa.
Depois de 15 minutos de conversa, ele aceitou o convite dela para dormir em sua casa. Menos de um minuto após ele entrar no quarto dela – nos fundos – ardendo de paixão, saiu correndo como louco e nunca mais pisou no restaurante. “Júci” era cozinheiro. E o pior, muitos outros que já tinham passado por aquele quarto e preferiram ficar em silêncio para evitar a gozação a que estavam sujeitos. E esta também foi a atitude de Cuia Seca e de muitos outros que almoçaram no restaurante da “Juci” e gostaram.